Blog dum gajo do Porto acerca de gaijas, actualidade política e sem futebol. Aqui o marmelo não gosta de futebol

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Corrupção e democracia

Corrupção e democracia.

Um dos mitos engraçado que circulam por aí é que nos tempos da outra senhora , isto é durante o estado novo, Portugal era imune à corrupção e compadrio.

Diz-se à boca cheia que foi a democracia e  CEE que institucionalizaram o compadrio e a corrupção.

É um mito engraçado.  Engraçado mas falso e perigoso.

Em Portugal o conceito de corrupção é relativamente recente.

Só há relativamente poucos anos passamos a interiorizar que dar uma gratificação a um polícia,  a um funcionário duma repartição, ao "engenheiro" do exame de condução,  aos professores não são actos normais e que até são reprováveis.

Antigamente nada se fazia sem um empenho. Um empenho era ter alguém importante que se empenhava no sentido do objectivo pretendido.

Para se ser admitido na função pública era necessário um empenho, para se passar num exame na função pública ou similar eram necessários por vezes vários empenhos.

Para se ver livre da tropa, para legalizar um terreno, para ter sucesso num tribunal, para conseguir uma certidão ou escritura,  para se ter uma carta de chamada para a ex colónias.  Enfim para tudo ou quase tudo era necessário um empenho, dar uma boa prenda e ficar a dever favores a alguém.

Já se sabia, e isto era dado como normal e natural, que com bons padrinhos, o empenho certo e sendo generoso na distribuição dos presuntos se podia ter sucesso no pedido.

Era lá possível conseguir legalizar qualquer estabelecimento ou negócio sem untar, muito bem untadas, as mãos de funcionários vários ?

Sem dar uma notinha à funcionária do cartório, bastantes aos do comércio externo para as licenças de importação,  ao gerente do banco e até à funcionária do médico ou advogado nada era possível.

Qualquer projecto de casa tinha de ter como desenhador un moço lá da câmara,  para que a obra andasse sem paragens era necessário fornecer umas garrafas ao fiscal, uns sacos de maçãs ao chefe e por aí fora.

Antes do 25 de Abril eram empenhos certos os que vinham de padres. Por vezes era enganoso ir pedir ao bispo porque o padre nessas coisas de livrar da tropa, arranjar empregos e legalizar coisaa várias.  Cobravam caro mas era empenho bom.

Eram também bons empenhos os da pide e da tropa. Mais para empregos. Era melindroso dizer-lhes que não.

E depois havia aqueles empenhos com maiúscula dum dr deputado ou figurão que tal.

Empenhos certos mas a que muito poucos tinham acesso.

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