Blog dum gajo do Porto acerca de gaijas, actualidade política e sem futebol. Aqui o marmelo não gosta de futebol

quinta-feira, 30 de dezembro de 2004

Se há duas vozes que nos transportam aos domínios dos deuses poderíamos falar da Amália e da Callas?

O Fado nasceu um dia,
Quando o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava,
Na amurada dum veleiro,
No peito dum marinheiro
Que, estando triste, cantava.

Ai, que lindeza tamanha,
Meu chão, meu monte, meu vale,
De folhas, flores, frutas de oiro,
Vê se vês terras de Espanha,
Areias de Portugal,
Olhar ceguinho de choro.

Na boca dum marinheiro
Do frágil barco veleiro,
Morrendo a canção magoada,
Diz o pungir dos desejos
Do lábio a queimar de beijos
Que beija o ar, e mais nada.

Mãe, adeus. Adeus, Maria,
Guarda bem no teu sentido
Que aqui te faço uma jura:
Que ou te levo à sacristia,
Ou foi Deus que foi servido
Dar-me no mar sepultura.

Ora eis que embora outro dia,
Quando o vento nem bulia
E o céu o mar prolongava,
À proa de outro veleiro
Velava outro marinheiro
Que, estando triste, cantava.


Poema: José Régio · Música: Alain Oulman · Primeira Gravação: 1965

quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

textos alusivos ao Natal.

Como a família da Lurdinhas passou a consoada do ano passado
Para estreitar os laços familiares, não há nada que chegue à festa do Natal, lá isso é verdade, mas espero que neste ano as coisas corram melhor do que o ano passado e não seja preciso o meu pai ir mudar de roupa a meio do jantar por ter apanhado em cheio com o galheteiro do azeite nos cornos, atirado pela minha mãe que o topou a apalpar o cu à D. Filomena, uma prima da minha madrinha que veio de Angola e vive numa pensão em Almirante Reis e anda a estudar para manicure. A minha mãe ficou bera e com razão, não é por ser minha mãe, esteve quase a dar-lhe o fanico e só gritava: «Tirem-me essa puta da frente! Tirem-me essa puta da frente!» Mas quando as pessoas são educadas, as coisas acabam por compor-se e bastou tirarem a D. Filomena de ao pé do meu pai para ficar tudo em sossego. No fim até estiveram as duas a falar de crochés e da telenovela, que nessa altura dava na televisão, e a D. Filomena ofereceu-se para tratar os pés da minha mãe, assim que acabasse um curso de calista que andava a tirar ali para os lados da Fonte Luminosa. Essa bronca portanto foi o menos; o pior veio a seguir quando a minha avó teve a infeliz ideia de perguntar à prima Otília que presente de Natal é que lhe tinham dado os patrões do escritório onde ela trabalha e a parva descaiu-se a dizer que, do senhor Benjamim, recebeu um jogo de calcinhas e soutien em nylon, e do senhor Canelas, um vibrador-masturbador japonês, muito bonito, todo transistorizado. Ora, ao ouvir isto, o Fernando, que é o marido da Otília e tinha metido na boca uma grande garfada, engasgou-se, engoliu uma data de espinhas de bacalhau, cuspiu o resto no prato do meu avô e desatou ao bofetão à mulher: «Sua cabra! Sua ordinária!» e a dizer que ia enfiar o vibrador pelo cu do Canelas acima e partir os cornos ao porcalhão do Benjamim. E a palerma da Otília, em vez de se calar, como era a obrigação dela, cresceu para o marido que até parecia uma leoa: «Tire as patas de cima de mim, seu cabrão! Você é que tem cornos e dos grandes, ouviu?» E ele, todo a tremer: «Eu?! E ainda o dizes, grandessíssima puta?» E a Otília: «Pois digo para vergonha tua, que nem és marido nem nada! Se não fossem os meus patrões não sei o que seria de mim?». E desatou a chorar baba e ranho e então o Fernando agarrou na faca de cortar o bolo-rei e toda a família se pôs a gritar «Ai que ele mata-a! Ai que ele mata-a!», mas o meu pai tirou-lhe a faca e o tio Arnaldo obrigou-o a sentar-se na cadeira, deu-lhe palmadinhas nas costas e disse-lhe: «Não ligues ao que ela diz, pá, que as mulheres são todas umas putas», e ele ao ouvir estas boas palavras, ficou mais sossegado e até alargou um furo ao cinto para continuar a comer. O pior é que a tia Palmira não gostou da conversa do marido e começou a refilar que não queria confusões, que se as outras eram putas ela era uma mulher séria, que quem não se sente não é filho de boa gente, etc., etc., mas o tio Arnaldo que é um bocado bruto atirou-lhe logo esta a matar: «Escusas de armar em séria, que todos sabem que andaste enrolada com o Gonçalves da farmácia quando ele te tratou do eczema»; e ela, logo: «E tu com a Gracinda da peixaria, que até escamas de pargo trazias para casa nas cuecas!» E o tio Arnaldo, muito fodido: «As escamas de pargo não são aqui chamadas para nada, porra!» E, ao dizer isto, deu tal murro num prato de filhoses que saltou calda para todo o lado e até eu fiquei com o cabelo enchapoçado dela. E o meu pai que ia acudir pela tia Palmira, esteve vai não vai para apanhar outra vez com o galheteiro, pois a minha mãe tinha-o sempre debaixo de olho; enfim, só visto! O que valeu para que a festa de Natal não ficasse estragada foi a minha madrinha impor-se, visto ser ela a dona da casa, e avisar que não consentia faltas de respeito, que aquilo ali não era nenhuma taberna e que achava uma sacanice estarem a encher o bandulho à custa dela, com a comida cara como estava, e a portarem-se que nem javardos em vez de se mostrarem agradecidos. «Ou comem de bico calado ou vai tudo para o olho da rua!» disse ela e ninguém refilou; durante algum tempo só se ouviu mastigar, até que o senhor Aguinaldo, o sacana do velhote que está amigado com a minha madrinha e que até aí só abria a boca para meter para dentro, resmungou lá do canto que no olho da rua já nós devíamos estar há muito e que se a família dele fosse ordinária como a nossa já a tinha rifado. Um gajo bera, palavra de honra; não são coisas que se digam assim na frente das pessoas e ainda gostava de ver que merda de família é a dele; cheira-me que é para ali uma ciganada cheia de putas, chulos, sovaqueiras e arrebentas. Mas a minha mãe, que tem muito jeito para compor as coisas quando não está com a bolha, disse que o melhor era a minha madrinha abrir a televisão, que tem programas muito bonitos no Natal, porque as conversas não fazem falta para nada e a gente não estava ali para conversar mas para comer e que assim as crianças sempre estavam mais distraídas. Foderam-me!.
Foi assim que tive de gramar duas horas de chachadas como essa porcaria das canções do Natal, das entrevistas do Natal, das tradições do Natal, dos votos de Natal e até dos anúncios do Natal, sem ter feito mal a ninguém. Não é que eu goste de chavascal e sarrafada, mas, mal por mal, ainda preferia ver os parentes todos à porrada e a descobrir o cu uns aos outros do que ver a merda da televisão.

José Vilhena

terça-feira, 21 de dezembro de 2004


Munch...o original foi roubado e juro que não fui eu. Posted by Hello

Como se pode ver contunuo bem disposto....

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

Continuo chateado

Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.
Eu não tinha que ter esperanças - tinha só que ter rodas...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.


Alberto Caeiro

Hoje estou aborrecido!

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Álvaro de Campos

segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

Mais coisas antigas

Cantiga de Escárnio e Maldizer
(esta cantiga trata-se de uma provocação a D. Bernaldo por este se ter apaixonado, na sua velhice, por uma dita "mulher de vida fácil")

Dom Bernaldo, pois trazeis
convosco uma tal mulher,
a pior que conheceis,
que se o alguazil souber,
açoitá-la quererá.
A puta queixar-se-á
e vós, assanhar-vos-eis.

Mas vós que tudo entendeis,
quanto um bom segrel entende,
por que demónio viveis
com uma puta que se vende?
Porque, vede o que fará:
alguma vos pregará,
de que vergonha tereis.

E depois, o que fareis
se alguém a El-Rei contar
a mulher com quem viveis
e ele a quiser justiçar?
Se nem Deus lhe valerá,
muitos vos molestará,
pois valer-lhe não podeis.

E nem vos apercebeis
que se ela tiver um filho,
andando, como sabeis,
com o primeiro maltrapilho,
o que receio para já,
de vós se suspeitará
que no filho parte haveis.


Pero da Ponte era galego, provavelmente de Pontevedra. Frequentou a corte de Afonso X e, provavelmente, a de Jaime I de Aragão. Escreveu nos três géneros (cantigas de amigo, escárnio e maldizer) cerca de 53 cantigas que demonstram o seu talento incomum e o colocam muito à frente do seu tempo. .
A sua intimidade com Afonso de Coton, bem como as alusões frequentes que faz hábitos de alcoolismo de Afonso X, dão-nos a entender que ele próprio seria frequentador destes mesmos hábitos e da vida boémia em geral.

Coisas antigas

Cantiga a Pero Rodrigues,
(Cuja mulher era acusada de um atraiçoar)

Pero Rodrigues, da vossa mulher
Não acrediteis no mal que vos digam.
Tenho eu a certeza que muito vos quer.
Quem tal não disser quer fazer intriga.
Sabei que outro dia quando eu a fodia,
enquanto gozava, pelo que dizia,
muito me mostrava que era vossa amiga.

Se vos deu o céu mulher tão leal,
que vos não agaste qualquer picardia,
pois mente quem dela vos for dizer mal.
Sabei que Ihe ouvi jurar outro dia
que vos estimava mais do que a ninguém;
e para mostrar quanto vos quer bem,
fodendo comigo assim me dizia

Martin Soares

COMO FICAR RICO SE HUMILHANDO

Isto aconteceu comigo, e me deu a necessária liberdade de movimentos para ser um gênio fuleiro do mal. Como dizia Santo Agostinho, é necessário um mínimo de bens materiais para a prática da virtude – e, acrescento, da vilania.
Era um domingo. Eu estava em casa, fazendo sei lá o quê, quando espiei pela janela e vi parar, na frente do meu portão, uma limusine. De dentro dela saíram dois negrões enormes, de ternos pretos e óculos escuros, que ajudaram um camarada gordo e baixinho a sair.
Vocês precisavam ver as roupas do gordinho. Um verdadeiro terno de garçom, com lapelas imensas, todo amarrotado. Ele cambaleava, sendo escorado pelos negrões que caminhavam a seu lado. Vieram direto pra minha porta e tocaram a campainha. Fui eu mesmo atender.
- Lembra de mim? – perguntou o gordinho, com um tremendo bafo de uísque.
O rosto me era vagamente familiar, e foi o que eu disse. Ele me encarou.
- Olha bem. Preste atenção. Me diga de onde você me conhece.
Olhei bem, e a cada segundo sentia aumentar a sensação de reconhecimento, mas ainda não podia dizer de onde é que o conhecia. Finalmente ele disse:
- Fui seu chefe há uns anos atrás.
Olhei de novo, e desta vez o reconheci. Era verdade. Diante de mim estava o “sêo” Gualberto, um dos chefes que mais odiei na minha vida (e eu odiei todos, inclusive minhas doze esposas). Dei uma de bem educado.
- Opa, “sêo” Gualberto, tudo bom?
Ele riu.
- Você me odiava. Nós quebramos altos paus, lembra?
Eu lembrava. Mas continuei no meu papel de bom rapaz.
- É verdade, tivemos alguns atritos, mas nada que o tempo não possa...
- Eu agora sou o presidente da empresa – cortou ele.
- Presidente? – eu disse. – Ora, meus para...
- Corta essa. Vim aqui propor um negócio.E tirou do bolso amarrotado do paletó um cheque todo amassado, num valor que, na época, calculei em dez mil dólares.
- Esse dinheiro pode ser seu – disse ele, - desde que...
Desde quê? – perguntei, ansioso.
- Desde que você deixe eu quebrar os seus dentes. Os da frente. Todos.
Achei que era piada e ameacei rir. Bastou olhar pros olhos baços e gelados dele pra ver que a coisa era séria, e admirei imensamente aquele homem.
- Todos os da frente?
- Todos – ele repetiu.
Fiz um rápido cálculo mental.
- Pague também uma ponte móvel – pedi.
- Pago – ele respondeu.
Eu sorri, arreganhando os dentes. O primeiro murro, ainda fraco e sem direção, veio imediatamente; depois seguiram-se outros, mais fortes, mais convictos, mais poderosos. A dor foi grande, mas suportei corajosamente, com o cheque de dez mil no bolso. Correu muito sangue, e os dentes não ficaram perfeitamente quebrados; os cacos e raízes ainda deram muito trabalho ao dentista, depois.
Eu já ostentava a terceira dentição quando ele voltou. Vinha com dois negrões diferentes (não se pode fazer o mal sem ser bom observador) e um pé de cabra. Estendeu um cheque de um valor que era perto de cinqüenta mil dólares.
- Quero bater nos seus dois joelhos com este pé de cabra.
Deixei. A primeira pancada foi no joelho esquerdo; desabei urrando de dor, me descabelando, fraqueza pela qual me envergonho até hoje – a vileza não prescinde de um certo estoicismo. Mas a dor foi uma coisa difícil de descrever, intensa e abrasante, quase santificadora. Eu ainda estava no chão quando a pancada desceu sobre o joelho direito; o grito foi inaudível, e as lágrimas correram. Ele me pagou as duas artroscopias.
A terceira aparição dele foi quase um ano depois. Eu já havia abandonado a fisioterapia e caminhava pelas ruas, com lentidão, mas caminhava. Ele veio com um terceiro par de negrões e um cheque de duzentos mil dólares.
- Esta vai ser mais complexa. Quero que você extraia um dos seus rins e me dê. Pago a cirurgia, a internação, tudo.
Fui pro hospital. Ele fez questão de acompanhar a cirurgia. Eu estava no meu quarto, com o rim num pote ao meu lado, quando ele entrou. Um dos negrões (era o quarto par) trazia uma espiriteira; outro vinha com uma frigideira. Ele fritou o meu rim e o comeu na minha frente. Pensei, enquanto a anestesia acabava, que ele me amava.
Na quarta vez em que ele veio, o cheque era de um milhão de dólares, e junto vinha um testamento, legando sua herança a mim. Não vou dizer o que ele queria; só digo que teve, porque pagou, e não foi enganado; e que morreu logo depois, o que era esperado. Os negrões, os quintos, saíram bastante machucados, e não querem nem ouvir falar meu nome, no que, aliás, têm razão.
Essa foi a maneira pela qual obtive minha independência financeira. Esse milhão e pouco de dólares em breve se multiplicou, graças a sábios investimentos em lenocínio e transporte de substâncias, e uma política ajuizada de gastos com amantes. Arrivistas sustentam que foi uma forma indigna de enriquecer; eu nego. Ganhei dinheiro e aprendi muito sobre a arte de humilhar, achincalhar e desprezar as pessoas em torno.
Hoje pratico o mal abundantemente e com leveza de espírito. Aliás, meu espírito sempre foi leve, é bom que se diga

REISANGUE

Email do autor : reisangue@ig.com.br

Rose de Castro.

SORVER-TE




Leite teu
Beijo meu
Boca tua
Membro adepto
Ereto
Na hora em que a mão
Apalpar...

Na língua que estala
Apetite exagerado
Nos lábios que xingam
Um xingamento sensual

Na boca que lateja
Que degusta
Experimenta a oferta:
Ejacula!

O experimento
Na garganta
Engole a rima
Certeira!



Email da autora:
rosedecastro@infolink.com.br

Mais poesia da Cristina Pires

Na lama


Na lama rolamos.
Pernas, mãos e braços,
Fugazes abraços.


Na cama

Lençol de cetim
Que nos cobre
E tu, a mim

No chão

Deitados no chão.
Corpos regados,
Com gotas de paixão.

No ar

Flutua no ar,
Um desejo carnal,
A ritmo de carnaval.

Amanhecer

Alvorada orvalhada.
Gotas do teu suor,
E eu molhada.

Fiat voluntas tua

Se me queres a fogo lento
Então vem, entra de mansinho.
Porque amor, depressa e bem,
Não há quem.

Mas se comigo queres relampaguear,
Numa cálida noite de verão,
Vem amor, dá-me o teu clarão,
E faz-me trovejar!

Cristina Pires


Email da autora:
delay.secretariat@bluewin.ch

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Trompe l'oeil


Shemale



Essa mulher que olhei como os parolos,
em plena rua, descaradamente,
essa fonte de incontáveis torcicolos,
loira explosão de desejo urgente,

engatei-a com papas e com bolos
ou seja – notas, resumidamente,
e na cama a meti entre dois golos
de uma rara e velhíssima aguardente.

Despiu-se então ela à minha frente,
da cintura para cima e, de repente,
já não cabia em si meu duro malho.

Porém, logo murchou apavorado
ao ver sob as cuecas enrolado,
entre negros colhões, viril caralho

Fernando Correia Pina
 Posted by Hello

SALDO NEGATIVO

Dói muito mais arrancar um cabelo a um europeu

que amputar uma perna, a frio, a um africano.

Passa mais fome um francês com três refeições por dia

que um sudanês com um rato por semana.

É muito mais doente um alemão com gripe

que um indiano com lepra.

Sofre muito mais uma americana com caspa

que uma iraquiana sem leite para os filhos.

É mais perverso cancelar o cartão de crédito a um belga

que roubar o pão da boca a um tailandês.

É muito mais grave deitar um papel para o chão na Suíça

que queimar uma floresta inteira no Brasil.

É muito mais intolerável o shador de uma muçulmana

que o drama de mil desempregados em Espanha.

É mais obscena a falta de papel higiénico num lar sueco

que a de água potável em dez aldeias do Sudão.

É mais inconcebível a escassez de gasolina na Holanda

que a de insulina nas Honduras.

É mais revoltante um português sem telemóvel

que um moçambicano sem livros para estudar.

É mais triste uma laranjeira seca num colonato hebreu

que a demolição de um lar na Palestina.

Traumatiza mais a falta de uma Barbie uma menina inglesa

que a visão do assassínio dos pais a um menino ugandês

e isto não são versos; isto são débitos

numa conta sem provisão do ocidente.


Fernando Correia Pina

Che Guevara

Contra ti se ergue a prudência dos inteligentes e o arrojo dos patetas
A indecisão dos complicados e o primarismo
Daqueles que confundem revolução com desforra.

De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de consumo
Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das igrejas

Porém
Em frente do teu rosto
Medita o adolescente à noite no seu quarto
Quando procura emergir de um mundo que apodrece.

Sophia de Mello Breyner Andresen

GRAND JACQUES (c'est trop facile)

C'est trop facile d'entrer aux églises
De déverser toute sa saleté
Face au curé qui dans la lumière grise
Ferme les yeux pour mieux nous pardonner

Tais-toi donc, grand Jacques
Que connais-tu du Bon Dieu
Un cantique, une image
Tu n'en connais rien de mieux

C'est trop facile quand les guerres sont finies
D'aller gueuler que c'était la dernière
Ami bourgeois vous me faites envie
Vous ne voyez donc point vos cimetières?

Tais-toi donc, grand Jacques
Laisse-les donc crier
Laisse-les pleurer de joie
Toi qui ne fut même pas soldat

C'est bien facile quand un amour se meurt
Qu'il craque en deux parce qu'on l'a trop plié
D'aller pleurer comme les hommes pleurent
Comme si l'amour durait l'éternité

Tais-toi donc, grand Jacques
Que connais-tu de, l'amour
Des yeux bleus, des chaux foin
Tu n'en connais rien du tout

Et dis-toi donc grand Jacques
Dis-le-toi bien souvent
C'est trop facile
C'est trop facile
De faire semblant

JACQUES BREL

Ó mão direita

Ó mão direita, nobre mão que empunhas
copo, garfo, caneta, mão que escreves,
mão sempre de luto sob as unhas,
mão que catas burriés com gestos breves.

Mão cujos tremores são testemunhas
de longas noites de alegrias breves,
mão que ousas mais do que supunhas,
dócil senhora que tão bem me serves.

Mão, ó esplendor da anatomia,
ó foz de cinco rios de alegria
em cuja água renasço e sou poeta.

Mágica mão que em digital concerto
me alivias às vezes num aperto
fazendo-me, a cappella, uma punheta.


Fernando Correia Pina

sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

LA CASADA INFIEL

Y yo que me la lleve al río
creyendo que era mozuela,
pero tenía marido.

Fue la noche de Santiago
y casi por compromiso.
Se apagaron los faroles
y se encendieron los grillos.
En las últimas esquinas
toque sus pechos dormidos,
y se me abrieron de pronto
como ramos de jacintos.
El almidón de su enagua
me sonaba en el oído
como una pieza de seda
rasgada por diez cuchillos.

Sin luz de plata en sus copas
los árboles han crecido
y un horizonte de perros
ladra muy lejos del río.

*

Pasadas las zarzamoras,
los juncos y los espinos,
bajo su mata de pelo
hice un hoyo sobre el limo.
Yo me quité la corbata.
Ella se quito el vestido.
Yo, el cinturón con revólver.
Ella, sus cuatro corpiños.
Ni nardos ni caracolas
tienen el cutis tan fino,
ni los cristales con luna
relumbran con ese brillo.

Sus muslos se me escapaban
como peces sorprendidos,
la mitad llenos de lumbre,
la mitad llenos de frío.
Aquella noche corrí
el mejor de los caminos,
montado en potra de nácar
sin bridas y sin estribos.

No quiero decir, por hombre,
las cosas que ella me dijo.
La luz del entendimiento
me hace ser muy comedido.
Sucia de besos y arena,
yo me la llevé del río.
Con el aire se batían
las espadas de los lirios.

*

Me porté como quien soy.
Como un gitano legítimo.
Le regalé un costurero
grande, de raso pajizo,
y no quise enamorarme
porque teniendo marido
me dijo que era mozuela
cuando la llevaba al río.

Federico García Lorca

Lição de História Pátria

Sabias - disse-me ela fazendo-me a punheta -
que muito valentão entala a costeleta
e que entre os nossos reis, valorosos guerreiros,
muitos houve que foram famosos paneleiros
que entre duras batalhas e esforçados trabalhos
recheavam o cu com túrgidos caralhos.
Sabias por acaso que o primeiro Pedro, o Cru,
mais que a foder gozou indo levar no cu?
E que o primeiro Afonso que à mãe não perdoava
se deixava montar por Fernão Peres de Trava?
E quantos, ah! ó quantos grandes deste país
fizeram do cu vaso para meter a raiz?
Cuidado! gritei eu afagando-lhe o lombo -
faz isso com mais calma que os colhões não são bombo.
Desculpa - disse-me ela. - Depois continuou
revelando-me a rir que o seu próprio avô
que morrera com fama de grande putanheiro
passara toda a vida a levar no traseiro.
E a Igreja? - gritou - Do padre ao cardeal
toda ela se entregou à banana fatal
e a esse mesmo fruto que faz de um cu vulcão
se entrega toda a cáfila que governa a nação :
ministros, secretários e directores-gerais
todos abrigam pichas nos albergues anais...
E safou-se Salazar de ser também rabicho
porque nesse momento gritei e vim-me em esguicho.


Fernando Correia Pina

quinta-feira, 16 de dezembro de 2004


Juro que é verdade.
Sou mesmo eu na fotografia.
 Posted by Hello

Muito útil. Posted by Hello

O cartaz mais em pormenor Posted by Hello

Sem comentários Posted by Hello

Tinha de ser o Eça Posted by Hello

sem comentários Posted by Hello

E depois comeu-os a todos....e foram felizes para sempre Posted by Hello

Obrigado ao CB Posted by Hello

Deus é grande.

Deus existe!
O anónimo que escreveu o comentário:

Foda-se, mas que merda é esta?!? Um tipo não pode ler isto!!! Ma tumba? Seria na Matumbina, de quem o Fernando Rocha tanto fala, que tu estrias a pensar????

Também se enganou.
Em que estria eu a pensar !

E como vem aí o ano Novo não é má ideia fazer algumas confissões. Claro que não vale a pena exagerar!
 Posted by Hello

E foi fazer gestos obscenos ma tumba do Filipe IV de Espanha, terceiro de Portugal.....não estava nuinguem a ver..... Posted by Hello

O Sousa esteve ausente porque esteve em Madrid..... Posted by Hello

Sugestão de prenda de Natal. Atenção ! Se for para a tia que vai deixar a herança devem comprar bastante vaselina ou , em alternativa, dar vários relaxantes musculares ao gato, ou à tia! Posted by Hello

No Natal devemos lembrar-nos dos mais desfavorecidos. Posted by Hello

Para lembrar que é Natal! Posted by Hello

É Natal...

Krido Paina Tal
Eu qeria resseber um joginho espassiale de przente de na tal.
Tenho cido um boum mnino nest anu.
Adorute,
Marco
Querido Marco,
A tua ortografia é excelente! Pareces um saloio a escrever...
Definitivamente terás uma brilhante carreira na vida...como ajudante de
pedreiro! Tens a certeza que não preferes um livro de português?
Quanto ao joguinho espacial, darei um ao teu irmão. Pelo menos ele sabe
escrever!
Um abraço,
Pai Natal.
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Querido Pai Natal,
Não sei se pode ser, mas gostaria de ver os meus pais juntos outra vez,
ainda este ano.
Com amor,
Júlia.
Querida Júlia,
E o que é que queres mais, miúda?
Que eu arruíne a relação do teu pai com a boazona da secretária dele?
Que ele não possa mais brincar com aquelas mamocas gloriosas? Com aquelas
trancas fenomenais?
É melhor dar-te uma Barbie.
Pai Natal.
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Querido Pai Natal,
Tenho sido muito boazinha este ano. A única coisa que peço é paz e muito
amor para o mundo.
Com amor,
Sara.
Querida Sara,
Que merdas é que andas a fumar? Ganzas?
Vou dar-te um cachimbo marroquino.
Pai Natal.
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Querido Pai Natal,
Fazem 3 anos que tenho vindo a pedir um camiãozinho de bombeiros, e nada.
Por favor vê se desta vez me trazes um!
Obrigado,
Paulo.
Querido Paulo,
Os teus pedidos já estão a chatear-me!
Outra coisa, não é "fazem 3 anos"... porra, ainda não aprendeste?
Usa sempre "há 1 ano", "há 3 anos", "há 2.000 anos". O verbo fazer no
sentido de tempo não tem plural...ah, esquece!
Mas enfim, quando estiveres a dormir, incendeio a tua casa. Assim, terás
todos os camiões de bombeiros com que sempre sonhaste!
Pai Natal
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Querido Pai Natal,
Quero uma bike, uma nintendo, um computador, uma caixa de Lego, um cãozinho,
um pónei e uma guitarra.
Com carinho,
Tibúrcio.
Querido Tibúrcio,
Mais alguma coisa?
Quem foi o infeliz que te pôs essa porra de nome? Porém, tenho uma sugestão.
Porque é que não pedes um nome novo? Tipo...Astreugésilo, Germínio, Zebedeu,
qualquer coisa assim!
Este ano não levas nada!
Pai Natal.
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Querido Pai Natal,
Deixei por baixo da árvore de Natal umas empadas para ti e cenouras para as
renas.
Um beijinho,
Susana.
Querida Susana:
Empadas dão-me volta aos intestinos, e as cenouras fazem as renas bufarem-se na minha cara.
Queres agradar-me, sua chatinha?
Em vez de porcarias, põe uma garrafa de Chivas e diversos aperitivos, e convence a tua mãe a vestir aquela lingerie transparente que ela usa para fazer uns jeitos ao teu vizinho de baixo.
Ah! Não ponhas Bolo-rei, porque detesto!
Contentas-te com uma caixa de lápis de cor?
Um beijão,
Pai Natal.
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Querido Pai Natal,
Como diz aquela canção: "Venha velhinho, de noitinha, quando durmo o meu
soninho..."
Espero por ti, Paizinho Natalinho!
Adoro-te,
Joana.
Querida Joana:
Como és manhosa! Queres é ver se me lixas com essas promessas de
badalhoquice, para os teus pais tirarem um vídeo comprometedor e me
chantagearem por toda a vida!
Levas um par de meias.
Pai Natal.
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Querido Pai Natal,
Por favor! Por favor! Por favor! Dá-me um cãozinho! Por favor! Por favor!
Por favor! Por favor!
Com imploração,
Joãozinho.
Querido Joãozinho,
Esse tipo de choraminguice maricóide funciona melhor com os teus pais, já
que és adoptado, e eles é que ainda têm paciência para te aturarem (o cheque
da Segurança Social também ajuda...).
Pára de ser merdoso!
Vou dar-te outro pijama!
Pai Natal.