O TÊPLUQUÊ
Era uma vez um menino que tinha um defeito de pronúncia. Não era capaz de dizer tê: dizia quê Trocava o tê pelo quê. Trocava o têpluquê. Em vez de dizer tasa, como toda a gente, dizia casa; em vez de dizer tão, dizia cão; em vez de dizer tapete, dizia carpete (às vezes deixava uns tês para trás, deixava uns quês para crás). E assim por diante: em vez de dizer tábua, dizia cábula; em vez de dizer tu, dizia (rabo); em vez de dizer Tomé, dizia Comé; em vez de dizer taxímetro, dizia caxímetro, etc. (em vez de dizer etc., dizia ecc.).
Esta história (em vez de dizer esta história, dizia esca escória) tem uma moral, é das que têm: é que todos os defeitos de pronúncia (como os outros defeitos todos, há uma história para cada defeito) têm também virtudes de pronúncia, senão eram defeitos perfeitos. Ao menino, como a toda a gente que tem defeitos de pronúncia, ENTARAMELAVA-SE-LHE a língua; este menino tinha sorte porque, como as letras do defeito dele eram o
tê e o quê, a língua ENCARAMELAVA-SE-LHE e o menino gostava muito (goscava muico).
MANUEL ANTÓNIO PINA
In O Têpluquê e outras histórias, Porto: Edições
Afrontamento, 1995
1 comentário:
Palavras para quê? És Porcuguês e o aucor do cexco cambém...escou a adorar a cua criaquividade.
beijos encaramelados
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