Já que agora O Sousita pede a opinião sobre uma partes dum livrito por ele escrito.
Agora peço mesmo os comentários e desapiedados, se tal for o caso.
Como podem ver são excertos aleatórios duma história bastante grande. Faço notar tambem que o portugues não está revisto sendo isto apenas um draft. As virgulas estao fora do sitio, há frases imcompletas e etc.
Digam, por email, não em comentário o que pensam francamente.
Capitulo 34
António Manuel não tinha sido um brilhante estudante de medicina. Muitas borracheiras, um ano gatado. Depois outro. Por fim lá acabou. O pai perguntava-lhe se ia tentar bater o record de João de Deus. Não bateu.
Depois casou e foi para o Monte Estoril. Anos pacatos. Consultório, as filhas a nascerem. Vida pacata. Saídas á noite raras e sempre acompanhado pela mulher.
Uma ida ou outra ao Casino e jantares nos restaurantes de Lisboa. Reuniões em casas de amigos.
Foi na viagem a Paris para um congresso que António Manuel conheceu Hernadez Casa. Catalão emigrado em França, por causa do Franco.
-Mau Maria, isto cheira-me a comunista.
Não o era. Entre Pernods e ostras lá lhe explicou que odiava tanto os comunistas como o Franco. Só queria a independência da Catalunha.
-Quando falamos Catalão na rua a polícia manda-nos hablar Cristiano, coño! Que língua é mais cristã que o Catalão?
E perdia-se num arrazoado de razões históricas, culturais, sociológicas, antropológicas, metafísicas e outras porque os sucessivos Pernods lhe excitavam a imaginação.
- bom profite. Insistia António Manuel e atacava as ostras, as pernas de rã e o vinho de mosele e o beaujolais.
Uma ou outra noite foram às putas. Realmente estar em Paris e não ir ás putas é como ir a Roma e não ver o Papa.
Nessa noite passavam pelo bois de bologne e Hernandez entabulou com um homem vestido de mulher. Havia-os às dezenas. O mais extraordinário é que o homem, se assim António Manuel lhe podia chamar, falava Português com sotaque do Brasil
Em pouco tempo estavam num bar esconço com dois brasileiros vestidos de mulher e muitos cognacs. Hernadez perguntou-lhe se já tinha experimentado um travesti.
- Que estamos en Paris, coño!
E foram para uma pensão próxima.
De facto nunca tinha pensado em tais andanças. É certo que na adolescência tinha havido as trocas de carícias entre adolescentes. Umas masturbações simultâneas, ora agora tocas tu, ora agora toco eu, mas só isso.
Uma vez até tinha comido o cu ao Albertinho. Mas esse era paneleiro. Toda a gente sabia. Um rapaz débil e de óculos grossos que suspirava por ele no colégio. Numa das sessões de masturbação conjunta o Albertinho, com olhos lânguidos e trejeitos de mulher, pedira-lhe. Anuiu. Era a primeira vez para os dois. Depois o Albertinho pedira-o que o beijasse. Isso nunca. Era homem e ponto final. Ir ao cu não é ser paneleiro. Agora levar…ou beijar um homem…ná! Perversões!
O travesti tinha mamas. Foi a primeira coisa que o admirou. Já tinha ouvido falar de implantes mamários mas nunca tinha visto nenhum. Sim que em Marrocos havia um hospital especializado em mudanças de sexo.
- Teria o brasileiro pénis? Isso agora parecia não lhe importar muito. Despira-se e o travesti também mas apenas da cinta para cima.
Começou a chupá-lo.
- Me dá tua pica, me dá teu leite…
E António Manuel era preso duma excitação estranha, diferente. Os congnancs facilitavam a coisa e demoraria a vir-se.
Aí o travesti perguntou se podia despir-se.
E apareceu um pénis enorme e erecto.
António Manuel olhou-o fixamente e, sem pensar, aproximou-se e meteu-o na boca.
- Chupa putinha. Chupa o cacete de Cármen. Vai….
E António Manuel chupou e penetrou o travesti.
Aí o travesti parou. E pediu:
- Vai, vira. Dá tua bunda para mim.
António Manuel deu e teve o melhor orgasmo da sua vida quando o travesti se vinha no seu cu e ele se masturbava.
No segundo seguinte ao orgasmo teve um momento de horror.
Tinha feito um broche e levado no cu. E o que é pior gostado!
Algum cognacs depois já tudo lhe parecia natural. Afinal estamos em Paris, não é?
Hernandez levou-o várias vezes ao bois e a várias casas de putas.
Uma noite uma putain perguntou-lhe.
- un três jeune garçon, ça te plais?
Um rapazinho? Como Sócrates? Era o que lhe faltava agora ser pederasta. Isso nunca.
O miúdo entrou no quarto e tinha ar de Marroquino ou Argelino. Falava com o sotaque colonial.
Despiu-se e António Manuel ficou a olhar para aquele corpo quase sem pelos. Ainda não era completamente homem mas também não era uma mulher.
E tinha uma erecção enorme e desejou-o. O corpo jovem. O pequeno pénis, erecto, a pele o cabelo.
Beijou-o na boca, lambeu-lhe o ânus, chupou-o e foi chupado. O jovem efebo veio-se na boca dele e ele engoliu. E penetro-o e foi penetrado.
Não sentiu o horror depois do orgasmo. O cheiro a esperma jovem na boca levou-o de volta ao colégio. Era aquele o cheiro, misturado com giz, e com aparas de lápis. Cheiro de escola de rapazes mais ou menos da idade daquele.
Antes de voltar ao Estoril ainda teve tempo de mais alguns prazeres proibidos na cidade luz. Umas meninas muito jovenzinhas. Extraordinário como tão novas já podem ser penetradas. Um africano adulto que lhe batia e lhe chamava putain portugaise, uma loura delgada que o fez beber a urina.
Enfim coisas que se fazem em Paris e não em Portugal. Ora um homem pode tirar uns dias diferentes e depois voltar ao aconchego do lar e do consultório, aos jantares no casino e aos domingos em casa dos sogros.
Naquele dia as consultas pareciam nunca mais acabar. Entre duas laringites, uma velha condessa hipocondríaca e umas crianças horríveis que não paravam de gritar quando ele lhes tocava. Tinham medo de injecções e os idiotas dos pais quando eles faziam asneiras ameaçavam-nos com as picas. – Portas-te mal e o snr. Dr dá-te uma pica. Depois claro ele é que pagava as favas.
Eram sete horas e o último dos doentes fora-se. Telefonou para casa e disse que não ia jantar – um domicilio longe – coisa complicada.
Saiu no Jaguar em direcção a Lisboa. Ia divertir-se. Bolas. Aquilo não era Paris mas sempre havia algo que fazer. E um homem não pode estar sempre a trabalhar, não é?
Conduziu o Jaguar pela marginal em direcção a Lisboa. Ao fundo viam-se as obras da ponte sobre o Tejo. Obra magistral. A maior ponte da Europa e uma das maiores do mundo.
Deram-lhe uns arroubos de patriotismo. Tanta coisa que dizem do governo mas se não fosse Salazar isto já tinha ido tudo para o maneta. Franco e Salazar tinham livrado a península da guerra e evitaram o triunfo dos comunistas. Sim que se Espanha tem caído aquilo Portugal ia a seguir. E íamos ter a União das repúblicas socialistas Ibéricas.
Havia de ser bonito. Deu-lhe uma súbita vontade de ver os Jerónimos de perto. Parou o carro e dirigiu-se para os Jerónimos a pé. Para tal atravessou o jardim com o mesmo nome e lembrou-se que a designação popular do jardim era o jardim dos paneleiros. Se alguém o visse àquela hora o que ia pensar dele? Nada. Que ele não era desses. Aquilo de Paris foi um acidente. Um epifenómeno.
O rapazito não devia ter mais de onze anos. Sorriu-lhe e António Manuel imediatamente reconheceu o ar disponível que tinham os putos de Paris. E o que é facto é que estava com uma erecção. Enorme e dolorosa que lhe marcava o vinco da calça. O miúdo percebeu-o. Dirigiu-se a ele e pediu-lhe vinte escudos.
- E onde?
- Se tiver carro pode ser no carro ou numa pensão que eu conheço. Não há problema.
Ele tinha de ter aquele corpo imberbe. De o beijar e penetrar. Será que o miúdo já se vem? Duvido. Possuir um miúdo no carro excitava-o e assustava-o.
- Não há problema na pensão?
- Esteja à vontadinha engenheiro, que eu conheço-os.
Subiram as escadas da pensão. Casa decrépita, ao cimo das escadas um homem de idade indefinida, sebento, com o cabelo cheio de brilhantina e a barba por fazer.
- São vinte escudos.
Tirou a nota deu-lha. Nem bilhete de identidade nem nada. O homem não olhou para ele.
Entrou no quarto despiu-se. O rapazito apenas tirou as calças e começou a masturbar o pénis ainda sem pelos.
-não te despes todo?
Ele despiu-se e António Manuel sentiu outra vez o frémito, o desejo mais forte que tudo de beijar aquele miúdo de unhas compridas e sujas e cabelo sebento que não se queria deixar beijar mas que no fim correspondeu.
Quando saiu aturdido da residencial, antes do miúdo, para não serem vistos juntos temeu ser reconhecido e, quase a correr, dirigiu-se ao Jaguar.
Quase sem tino, não sabia se era o homem mais feliz ou o mais infeliz de todos, conduziu em direcção ao Estoril.
Parou perto do casino, entrou e ganhou na roleta. Vinte contos!
Rosnava-se que o dr António Manuel bebia. Principalmente entre as clientes. Dizia-se que tinha garrafas escondidas no consultório e que entre consultas bebia o seu copo. De bebidas brancas, porque vinho não era de certeza. O hálito não enganava nem o aspecto. Amarelento, trémulo e barrigudo. Às vezes parecia ausente e, o que é pior, enganava-se.
Como a celebérrima receita de permanganato de potássio para bochechar!
Um escândalo abafado pela farmácia do Cordeiro.
A coisa fora assim: nas suas saídas para o jardim dos Jerónimos, primeiro espassadas de meses, depois de semanas, por fim quase a diário apanhara uma blenorragia. Corrimento purulento do pénis, dor ao urinar, zás. Era garantido. Bem se arrependera de não se lavar com permanganato, receita secular e garantida contra gonorreias e outras galiqueiras. Estava a pensar nisso quando a doente, uma senhora muito bem, de Cascais lhe pediu a receita.
Meu dito meu feito. Escreve preto no branco, ou antes a azul da caneta Parker, na receita permanganato de potássio bochechar duas vezes ao dia. Não engolir.
O caixeiro da farmácia Cordeiro telefonou-lhe. Entre o riso mal abafado lá lhe disse que não percebia a letra mas que parecia permanganato de potássio.
Um golo de whisky e lá estava no carro para ir buscar a receita. Esquecera-se de levar receitas e mal teve a maldita na mão rasgara-a em mil pedaços.
A caminho de casa teve a sensação que o número 17 ia sair infalivelmente e foi para o casino.
Era tarde quando saiu. Apetecia-lhe caminhar e decidiu deixar o carro no casino e ir para casa a pé.
- Raios partam a minha sorte. Nada de dezassete. A receita errada. Estás por baixo António Manuel.
Dentro dum carro na parte mais escura viu movimento dentro dum carro. Olhou melhor e viu uma das irmãs Cardona a levantar a cabeça depois de fazer um broche. Masturbação com a boca, como diziam as elegantes senhoras, outrora ricas, quando tinham de trocar sexo por umas notas que alimentassem um pouco mais o vício.
Será que vou descer tão baixo como elas?
Os croupies do casino são extremamente simpáticos quando se tem dinheiro para gastar ou crédito para conseguir empréstimos a taxas usurárias, quando se acaba a liquidez e se pode recorrer-se ao segundo. Quando isto acaba os sorrisos esmorecem. Deixa-se de se ser o Sr. Dr. ou Eng. para nos começarem a tratar por Sr., depois por tu e por fim por meu grande filho da puta e outros mimos quejandos.
É rápida a ascensão e queda. Muito mais rápida do que parece. O casino do Estoril, fosse esse o tema da história, dava dez romances aí uns trezentos contos, algumas séries de televisão e um filme. Infelizmente não é. Fiquemos apenas por esta pindérica história.
Avancemos que o Dr. António Manuel até nem é tão importante assim para a história.
O resto pode bem o leitor inteligente adivinhar: dividas que se avolumam, o consultório às moscas e as filhas casadoiras.
Uma casou com o filho dum empreiteiro de Tomar. Os designados patos bravos. Gente de outro nível mas com muito dinheiro.
Maria dos Remédios com o, na altura alferes, Boa Morte.
Não foram casamentos de paixão. Foram casamentos. Certinhos, nada de gravidezes premeditadas, flor de laranjeira. É certo que o filho do pato bravo, que se adiantara aos votos, teve de ser ameaçado com uma falsa gravidez para casar, mas lá casou. As últimas jóias da mãe pagaram a boda da Maria dos Remédios. Arrumadas as filhas rumou a mãe para o Brasil vendendo várias vezes uma herdade no Alentejo. A casa do monte Estoril não foi à praça porque o tal pato bravo decidiu arrematá-la antes e fazer dela moradia permanente.
No entretanto e antes dos casamentos teve o nosso Dr. António Manuel enfarte fulminante quando vinha, a pé, do casino, ofegante e cheio de dívidas. Subira a rua Melo e Sousa, o que até nem encurtava caminho e parecia perdido. Vagara ao acaso e fora dar a uma rua sem saída. Foi por aí que sentiu as dores no peito, as tonturas.
- Queres ver que estou a fazer um enfarte?
E estava e dele morreu. Um vizinho que o viu morto comentou.
- Lá se foi o Dr. dos meninos.
Capitulo 75
Chamar-se Joaquim Boa Morte, ter sotaque diferente, oito anos, ter vindo transferido de Lourenço Marques a meio do ano lectivo não é propriamente o melhor curriculum para ser bem integrado socialmente na escola primária da Sé, à rua do Sol, entre filhos de classe média portuense – uma minoria – e rapazes de classe baixa duma das zonas mais pobres da cidade – a imensa maioria. No entanto o Joaquim tinha-se entrosado bastante bem com os colegas e já convidara alguns para ir a sua casa. E tinham ido e tinham-no convidado também.
Joaquim vivia com a mãe na rua das Fontaínhas numa casa de três andares e águas furtadas com duas criadas trazidas recentemente da província, de terras com nomes esquisitos como Guilhufe ou Vila Meã, uma criada trazida na bagagem de Lourenço Marques a Sofia, que já estava com eles antes do seu nascimento, dois gatos pequenos e, last but not least, a sua mãe D. Maria dos Remédios, Boa Morte por casamento.
A D. Maria dos Remédios tinha casado há dez anos com o então Alferes Joaquim Boa Morte, em Lisboa, partira com ele para Lourenço Marques onde fixaram residência. Dois anos depois nascera Joaquim. O já então Capitão Boa Morte deslocava-se frequentemente a outras províncias ultramarinas e ao continente. Isto não significava que se dessem mal. O seu trabalho a isso o obrigava e D. Maria dos Remédios entendia perfeitamente. Filha de pai médico habituara-se desde pequena a jantar com a mãe e os irmãos porque o pai estava a tratar dos doí-doí dos doentinhos, como dizia o seu irmão Filipe.
Fora apressada a vinda dela com o filho e a Sofia para o continente. Joaquim avisara-a que tinha de partir rapidamente e que brevemente se lhe juntaria. Habituada aos costumes militares do marido nem lhe ocorreu perguntar porque não a avisara antes pelo correio ou por telefone. De qualquer modo o Capitão Joaquim tratara de tudo e ela pouco mais teve de fazer que as suas malas e dar algumas ordens, um pouco desordenadas, aos eficientes impedidos e militares que empacotavam a mobília com ordem e muito cuidado. Nada se partira na viagem.
À chegada ao Porto outros militares montaram a mobília, pintaram a casa e colocaram papel nas paredes. O fogão Leão, a GazCidla já trabalhava na cozinha e tudo estava no seu lugar 24 horas depois da chegada. D. Maria dos Remédios perguntara aos homens como era possível a mobília ter chegado ao mesmo tempo que eles: o barco não demora não sei quanto tempo? A isso eles não sabiam responder. Pouco importava. Se a mobília viera de barco, avião ou mesmo às costas de pretos era-lhe indiferente. Estava lá e o que é mais: inteira e sem faltas ou avarias.
Estava habituada a não fazer perguntas e a obedecer. Desde pequena. Desde muito pequena em São Pedro do Estoril, na casa grande onde nascera, juntamente com os irmãos. O pai, médico de profissão, costumava chegar tarde a casa. A ver os doentinhos.
Lérias, rosnava a Vicenta, criada mais velha que o tempo e que sempre vivera com elas.
- Jogo e mulheres menina, e vinho! Mas cala-te boca que as paredes têm ouvidos.
A mãe impunha um respeito reverencial à Vicenta e a outro pessoal doméstico que vinha e ia.
- Putas é do que ele gosta menina. E de jogar. Não sei como a mamã o aguenta. Mas cala-te boca!
E Maria dos remédios calava e não fazia perguntas. Muito menos à mamã.
Um dia o pai fora trazido a casa por dois polícias. Um acidente de carro, felizmente sem gravidade, mas o carro totalmente destruído. Tremeu. O Jaguar destruído a caminho de Sintra, ou de Lisboa?
- Foram os credores menina. Qual acidente? Não viu que tinha um olho negro? Aquilo foi é pancada. E da grossa.
A mãe nunca disse nada. Só uma vez deixou escapar:
- Antes fossem putas.
Mais nada.
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