Ora porra!
Estes gajos escreveram tudo o que havia a escrever!
ora vejam, ou leiam :
A História natural e social de uma família no tempo dos Cabrais dá fôlego para dezassete volumes compactos, bons, de uma profunda compreensão da socieade decadente. Os capítulos inclusos neste volume são prelúdios, uma sinfonia offenbachiana, a gaita e birimbau, da abertura de um grande charivari de trompões fortes bramindo pelas suas goelas côncavas, metálicas. Os processos do autor são, já se vê, os científicos, o estudo dos meios, a orientação das ideias pela fatalidade geográfica, as incoercíveis leis fisiológicas e climatéricas do temperamento e da temperatura, o despotismo do sangue, a tirania dos nervos, a questão das raças, a etologia, a hereditariedade inconsciente dos aleijões de família, o diabo!
O autor trabalha desde anteontem no encadeamento lógico e ideológico dos dezassete tomos da sua obra de reconstrução, e já tem prontos dez volumes para a publicidade. Mas é necessário a quem reedifica a sociedade saber primeiro se ela quer ser desabada a pontapés de estilo para depois ser reedificada com adjectivos pomposos e advérbios rutilantes. Para isso, o primeiro avanço é pô-la nua, escrutar-lhe as lepras, lavrar grandes actas das chagas encontradas, esvurmar as bostelas que cicatrizaram em falso, escoriá-las, muito cautério de frases em brasa. É o que se faz nas folhas preliminares desta obra violenta, de combate, destinada a entrar pelos corações dentro e a sair pelas mercearias fora.
São Miguel de Ceide, Junho de 1879
E, claro, Camillo Castelo Branco.
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