Blog dum gajo do Porto acerca de gaijas, actualidade política e sem futebol. Aqui o marmelo não gosta de futebol

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Estava Almerindo pensativo, cagado na calças – isso é certo por muito que nos custe – e, o que é mais, acagaçado.

Um relator, que não um escritor, deve contar a verdade e não aquilo que deveria ser, o que gostava que fosse, ou mesmo o que poderia tornar interessante uma narrativa.
Assim o faço.
Desculpe-me o leitor se torno aborrecida a leitura. Poderia inventar, colocar na boca do Almerindo adágios que se tornariam célebres, momentos de lucidez notáveis, frase – ou mesmo parágrafos – profundos, recheados de filosofia, metafísica, conhecimento popular, ou mesmo senso comum que abalassem, ou pelo menos, roçassem o sentimento de cada um. Em rigor da verdade não posso fazer.

Lamento.

Poderia, e isto era muito fácil, alterar o enredo, criar personagens, inventar diálogos. Lembrem-se que o que estão a ler são só textos e letras.


A verdade, essa, foi em palavras e em actos.

O facto é que, e – tão verdade é como os milagres de Fátima – testemunhamos nós, que o nosso Almerindo:

Tinha diante de si um Deus (único?) e uma situação, que como o esfíncter, não controlava. Ora se não controlava o esfíncter como poderia controlar a sala, um deus, a eternidade tudo o resto?

O tal deus crescia em tamanho. Enquanto falava tornava-se maior e ocupava todo o tamanho da sala. Almerindo sentia-se pequeno e insignificante perante um deus que a cada segundo parecia duplicar de tamanho. Deus, que como já percebemos todos, Almerindo não reconhecia.

Coisas de ateus.

Claro que quem fala de segundo fala de hora, de quarto de hora, ou de outra qualquer fracção do tempo. Já dizia o velho Einstein que o tempo é relativo. E nestas coisas em que entra o cagaço, o tempo e a relatividade de termos – ou não – cada segundo, ou mesmo décimo, conta.

E, convenhamos, que para um ateu cada segundo em face do eterno, do sempre vivo, devem parecer pelo menos – uma eternidade.

Assim foi:

Deus falava e o Almerindo ouvia:

- Nenhum dos meus mandamentos…
- Nada do que eu disse….
-Nada do que eu pedi ou mandei fazer….
-Nada do que mandei escrever

E, no fim, um sonoro: - Nada! Ou quase nada que é o mesmo. Palavra do Altíssimo, digo Eu

Pensou Almerindo, embora que a contra gosto, que essa frase era poema de Chico Buarque. Mentalmente cantou:

Qui a mi me ama sin pedir nadaO cuase nadaQue no es o mismo pero es igual

Era em mau espanhol mas bonito em poesia. Dum brasileiro. Pensou – tremendo – que deus (ou os deuses) eram como uma mulata brasileira que ama o seu amado e que não se ensaia nada para dar uma facada, ou tiro, ou coisa pior, no caso de adultério. E mesmo na tentativa.

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