Morreu Pinochet.
Não me regozijo com a morte de ninguém. Penso que não é de bom gosto comemorar a morte de ninguém. Nem mesmo do Pinochet
Teve no entanto o Sousa, por vias muito travessas acesso à chegada ás portas do paraíso do mesmo.
Foi a coisa assim, salvo algum pequeno exagero meu, o que é natural, dado que quem conto um conto acrescenta um ponto.
Na porta do céu está o santinho de serviço. Trauteia Te Recuerdo Amanda
Augusto Pinochet : -mau mau Maria!
Santinho: - Ora boas tardes. Nome, data do nascimento e número de bilhete de identidade.
A.P. : - Augusto José Ramón Pinochet Ugarte, nascido em Valparaíso a 25 de Novembro de 1915. Não trouxe o bilhete de identidade porque vim de repente sem contar…
S.: - É sempre assim. Vem todos de repente e depois a gente é que se lixa para descobrir quem são…se nos aviões antes daquilo cair os mandassem meter os documentos de identificação na boca e cerrar os dentes com força…isso é que era facilitar…pronto…já esta…na data e com este nome e no local só há um: Augusto Pinochet ditador reformado. É isto?
A.P.: Reformado é como o outro, agora ditador! Um pouco autoritário é certo mas daí a ditador vai um grande passo. Éramos uma democracia musculada. Isso sim.
S: - Ó filho isso não é comigo. Eu limito-me a meter os dados no computador e a imprimir o que lá vem. O resto é com os outros. Sou um mero administrativo. Pronto. Já está. Ès um Z543. Assim vais seguir pela porta que diz Z e no corredor procuras a porta 54. O número final é só de controlo para os gajos da informática. Não percas o papel porque isto normalmente é uma confusão aqui e tens que ir para a fila.
A.P.: - E, isto cá para nós, a porta e o corredor quer dizer alguma? Isto é, para cima ou para baixo? Compreende?
S.: - Isso não é comigo, eu estou só na recepção. A triagem é com os outros. Olha: posso adiantar que um Z quer dizer que vais mesmo falar com o Chefe. Em pessoa.
A.P: - Com Deus?
S.: Com quem havia de ser? Com a Marilyn ? Ou há outro Chefe?
A.P- Pois não…desculpe…
Lá vai O Pinochet para o corredor Z enquanto o santinho de serviço continua a cantarolar Me recuerdo Amanda…
Pinochet bate à porta do quarto e entra.
Lá dentro Deus espera por ele.
- Demoraste pá. E agora já não tens trangolomango nenhum. Olha que Eu não sou o Baltazar Garçon que vai em fitas de doenças…
- Deus me livre de mentir aqui.
- Que Eu te livre de quê? Bom. Vamos ao que interessa…Sabes quem Sou?
- Sim ! O Senhor, Deus de Israel.
- De Israel, da Palestina, da China, da lua, do sol e de todo, mas mesmo todo, o universo…ou sou parecido com o Sharon ?
- De facto…quer dizer…isto e´, pois! Com efeito!
- Então temos como hobby fazer golpes de estado, depor dirigentes eleitos democraticamente, matar e torturar opositores políticos, raptar criancinhas, mandar violar e roubar doces à tua prima durante a catequese. Há também aqui umas coisas que só dizem respeito à madame Pinochet mas essa quando chegar trata-te da saúde.
- Mas Senhor, Deus do universo, não fui só eu. Era uma época. Os americanos pressionaram-me. E aqueles gajos eram todos comunistas e ateus. Foi para maior Vossa Glória e proveito da Vossa Igreja, que tanto me ajudou que…
- Com que então o menino até nem queria. Os Americanos tentaram-no, os padres e bispos obrigaram-no e fê-lo por Minha causa…
- Assim foi Senhor.
- Ora vai vender banha da cobra para outro lado. Sabias bem o que estavas a fazer. Não sabias?
- Mas Senhor até nas orações que Vos fiz…
- Olha lá, por falar nisso, achas bem pedir-me em oração para matar o Allende ? E, além do mais, que história foi essa do meu Deus Tu…andamos porventura juntos na costura para me tratares por tu?
- Hábitos de espanhol, senhor, tratamos todos por tu…
- Bom, vá lá! Tens sorte dessa história do inferno ser invenção do homem, mas olha que gajos como tu tentam-me. Ai não se não tentam! Não fora Eu infinitamente bondoso e a coisa piava mais fino. Anda daí e canta comigo: Me recuerdo Amanda…
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