Blog dum gajo do Porto acerca de gaijas, actualidade política e sem futebol. Aqui o marmelo não gosta de futebol

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Criacionistas e disparates quejandos

Há idiotas ou mal intencionados que agora desatam a defender a literalidade da bíblia e como tal o dilúvio e essas coisas…
Assim o Sousa desata em activa polémica com os ditos criacionistas…só que não obtem respostas capazes…

Umas das missivas era esta :

Criacionismo, estudo bíblico, Sola Scriptura e imperialismo.

Depois da queda do muro de Berlim e do fim do comunismo (ou socialismo real) o mundo dividiu-se em duas zonas a saber: o mundo desenvolvido e o mundo não desenvolvido. Vagamente podemos dizer que a Europa (união europeia e espaço económico europeu - Suiça e Noruega), mais o Japão, a Coreia (do Sul), O Canadá e parte dos Estados unidos da América. O resto é o mundo pobre.

O mundo pouco desenvolvido –v.g. os pobres – caracterizam-se por ditaduras mais ou menos sangrentas, estados totalitários ligados ou não às religiões. Veja-se o mundo Árabe e as ditaduras da América do sul.

Em meados dos anos oitenta passou-se um fenómeno singular: nos países pobres da américa do sul e central começaram a germinar democracias. Troca de ideias e a possibilidade de progresso.

Longe dos tempos das operações Condor – que repuseram os interesses americanos no Chile – começaram os E.U.A. a exportar algo de tão ou mais pernicioso que as ditaduras: o obscurantismo.

Enviaram emissários para convencerem os indígenas do sul do continente que a verdade está só na bíblia, que as diversas ciências estão erradas e que se deve levar a bíblia literalmente e estudá-la e negar tudo o que a contrarie.

A física diz que a luz das estrelas demorou milhões de anos a chegar à terra e isso contraria a criação recente? A física está errada e não deve ser estudada.

A biologia, a química, a antropologia, a história, o mero senso comum, a psicologia, a astronomia, os registos fósseis, o museu de história natural… enfim tudo que seja ciência e observação contrariam a versão bíblica?

Estude-se a bíblia e ignore-se o resto.

Decorem-se os textos, estude-se, e negue-se a ciência. Façam-se das escolas secundárias escolas religiosas. Tudo que está na bíblia nos chega. O resto é contrário à vontade de deus. A resposta para tudo esta em leviticos ou na burra de Balalão. Exploremos a palavra do senhor, deus de Israel – não da Palestina- e ignoremos o resto.

O projecto, quando aplicado a países que tem em si potencialidades fantásticas a nível de agricultura, cheios de recursos naturais e com potencial para crescerem, parece-me – na perspectiva de habitante do primeiro mundo – muito imoral mas benéfica.

Acabem com a faculdade de engenharia de São Paulo e desatem a estudar a bíblia – ou o alcorão – e acabam os vossos dias a limpar as nossas sanitas. E a entregar os recursos naturais, é claro.

Poderá você argumentar que se poderão tornar terroristas e atacar-nos, de vez em quando, como homens bombas em nome de Cristo, Halla, Maomé ou mesmo o Diabo em pessoa. È chato, concordo, mas resolvemos isso com facilidade conquanto se afastem da ciência e decorem os versículos do corão ou da bíblia. Que para o caso é mais ou menos irrelevante. Aliás finda a bíblia há o livro de Mórmon, o Corão, o livro sagrado dos Vedas, os evangelhos não canónicos e mais uma infinidade de livros inspirados ou escritos pelas diversas divindades cuja leitura – e memorização – ao contrário da ciência dão resultados imensos quando feitos por jovens de países em vias de desenvolvimento. Conquanto não estudem ciência e nos entreguem os recursos naturais.

Aliás, sabe você tão bem como eu, que a bíblia é um conjunto de textos do qual nada ou quase nada se pode tirar.

O velho testamento é a história do povo judeu. Bastante fantasiada é certo com uma série de estórias fabulosas – e quando falo de fábulas falo mesmo dos animais a falar – que começa com o jardim das delicias, a hereditariedade do pecado a torre de Babel – medíocre origem das línguas – e o dilúvio.

Passa por um relato das guerras, na perspectiva judaica entre o povo judeu e os seus vizinhos: o Egipto e a Babilónia. Contem um código religioso e moral completamente disparatado nos dias modernos e cuja obediência seria actualmente crime.
Existem depois os Evangelhos, coligidos pelo senhor da guerra Constantino, que – desesperado por deter o poder no moribundo império romano – reúne num concilio de bispos uns senhores da guerra e decide quais os textos que podem ou não ratificar a obrigatoriedade do cristianismo no império. Todos os outros são não canónicos, isto é, fora do cânone ou do que ele achava correcto. Desta reunião de malfeitores – devidamente inspirados pelo espírito santo – saiu a bíblia actual traduzida, cem anos depois, na vulgata.
Da primeira vez não entrou o apocalispse atribuído a João, na segunda lá se inclui.


Note-se que o bom do imperador Constantino, por mais que os historiadores católicos queiram pintar como justo, não difere nadinha dos outros senhores da guerra que disputavam o poder no império. A escolha dos textos poderia ser tudo menos inocente, vindo de quem vinha.

A Igreja católica, senhora destes segredos todos de alcova, percebeu – e bem – que a leitura da bíblia era disparate pegado. Sabiam a origem dos documentos e a bronca que era a leitura generalizada poderia criar.

O pobre do Lutero é que não percebeu. Também na época dele, época das luzes e do racionalismo, era convicção dos ilustrados que a capacidade da razão era ilimitada e blá blá e desata a querer interpretar a bíblia à letra. Inventou a sola scriptura. A leitura dos textos sagrados chega.
Bom, teve o bom senso de tirar dois livros da bíblia, que mais que os outros, não tinham mesmo pés nem cabeça. Devia ter tirado mais.

Só que na época de Lutero as teses da bíblia eram mais ou menos aceitáveis. O sol que andava, o dilúvio, a mosca das quatro patas, o pi como 3,4…tudo aceitável

Em 2007 não. Os textos da bíblia, especialmente literais, são contrários ao desenvolvimento do ser humano e até aos direitos humanos.

Se quiser um desafio interessante tente, tendo em conta que no tal novo testamento onde dizem que Cristo disse que não vinha mudar um til da lei (na tradução portuguesa), fazer uma lei geral e aplicável baseada nos dez mandamentos, em números e em leviticos. Sem apelar para : -mas na época…, onde se diz escravatura deve ler-se, matar quer dizer não matar….e etc.…

Com argumentos sérios. Tente adaptar a lei de deus a uma lei geral e aplicável a todos. Claro que pode dizer que a deus o que é de deus e a César o que é de César e que a lei de deus não pode ser transcrita como código geral e universal…mas é mau argumento, não é?


Cordialmente , lamentando o tempo que lhe tomei,

João Carlos

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