Blog dum gajo do Porto acerca de gaijas, actualidade política e sem futebol. Aqui o marmelo não gosta de futebol

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Um conto de fadas

Era uma vez um ourives que era muito rico. Vendia muitas alianças, pulseiras, aneis e broches. Mesmo vendendo broches nunca foi acusado ou mesmo suspeito de lenocinino. Tal não era possivel ou mesmo pensavel por ser homem probo, recto e de bons costumes. Com o tempo vendia mais e mais peças de ouro para todos os reinos vizinhos e mesmo para os mais distantes, dos quais apenas chegavam noticias esparsa e raras, normalmente fantasiosas e sem fundamento. Os seus produtos eram feitos por artesãos competentes e dedicados. Desde a recolha do ouro, à sua fundição, à junção das pedras, tudo era controlado e de qualidade. No reino quase todos trabalhavem para ele. Se não directamente pelo menos indirectamente. Os seus olhos, de um azul àgua humedeciam-se quando viam os diários e o razão. Pouca ou quase nenhuma subfacturação fazia, e se o fez tal era rápidamente perdoado pelos cobradores do rei dada a sua fama de homem probo e sério. Além do mais , como diria o chefe dos cobradores reais em confissão ao rei, pecados quem não os tem ? E isto não são pecados mas antes pecadilhos. Riram-se muito os dois da piada.

O negócio prosperava e em reinos muito longinquos o nome dos seus produtos era citado como valor perene.

Um dia pela hora undécima, como convem a narrativas tétricas, um demónio tentador, daqueles cuja ociosidade e eternidade os leva, à falta de melhor afazer, a tentar os humanos, decidiu, por sua alta recreação tentar o nosso bom ourives.

Meu dito meu feito, e por artes que a decência não me permite revelar, induziu o bom do ourives a pecar.

Rezam testemunhos acima de qualquer suspeita que nesse exacto momento foram preseniados prodigios para os quais a humana razão não nos permite dar explicação satisfastória:

As aves voaram para trás, as luzes da Câmara Municipal de Lisboa apagaram-se misteriosamente e , o que é mais, o Sousa da Ponte deu um traque fedorento cujo som parecia, atestado por vários testemunhos, o requiem do Mozart.

A semente do mal entrara na mente, e no que é bem pior : na alma, do bom ourives. O anjo negro da ganância começava a dominá-lo. A bem da verdade ele resistiu ao inicio mas a sombra do mal entrara no seu coração e não o largava nem de dia nem de noite: acordava a sonhar com ligas de cobre e de pirite, na substituição das pedras preciosas e semipreciosas por cacos de vidro. Via-se rico. Ora bolas, pensava ele, rico sou eu, mas antes muito rico, super rico, hiper rico. Giga rico.

No entanto suava e o coração recusava-se.

Enfim... resumámos a história que já vai longa e chata.

Claro que acabou por substituir o ouro por uma liga fatela e as pedras por vidro.

Como todos os vilões deste mundo foi apanhado e os clientes devolveram a mercadoria e não lhe pagaram.

O credores faziam fila à sua porta.

Desesperado ia suicidar-se mas lembrou-se que a sua queda ia arrastar o rei consigo. Afinal a guita toda do reino passava por ele. Recompôs-se e falou com o rei.

È verdade, dizem as crónicas, que o rei ficou fodido com a história e que lhe chamou uma série de nomes feios, cujos me recuso a bem da decência a reproduzir aqui, mas lá ficou com as jóias falsas e obrigou os súbditos a comprarem a um preço inflaccionado esse lixo, pagou ao credores e deu-lhe guita para comprar mais ouro e fez um novo imposto para pagar o prejuízo. Os súbditos lá pagaram e alguns que refilaram foram presos. Eram gente perigosa e pouco dada a pagarem as suas contas.


O ourives lá continuou com o negócio e aprendeu uma lição muito importante:

A desonestidade não compensa e a partir desse dia nunca mais fez nenhuma desonestidade até porque morreu duma indigestão de ostras no dia seguinte.

Felizmente, e esta é o moral da história, que não vivemos em tais tempos.

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