Blog dum gajo do Porto acerca de gaijas, actualidade política e sem futebol. Aqui o marmelo não gosta de futebol

terça-feira, 31 de maio de 2005

Carta de Eça de Queirós a Camilo Castello Branco

“A Carta a Camilo Castelo Branco, aliás publicada só depois da morte de ambos os escritores, há de perdurar como uma das mais belas páginas queirozianas, sobretudo sob o ponto de vista do humour. Deveremos, talvez, lamentar que não tivesse vindo a público em devido tempo, pois decerto provocaria acirrada polêmica, estranha e curiosa competição: ironias subtis e ferinas golpeando a sorrir contra um sarcástico e violento gargalhar-demolidor”.

Augusto Pissarra

Ex.mo Sr.


Um tardio correio trouxe-me ontem um número, já quase velho, das Novidades, com um artigo, Notas à Procissão dos Moribundos, em que V. Ex.a., resmungando e rabujando, se queixa ao público de que eu e os meus amigos implicamos consigo, sempre que isso vem a talho de fouce, e lhe assacamos aleivosias. Como exemplo deste indecoroso hábito, cita V. Ex.a. um período da minha carta a Bernardo Pindela nos Azulejos, em que eu alegremente me rio dos discípulos do romanticismo que, depois de clamarem contra certos escritores, como realistas e chafurdadores do lodo, apenas imaginam que o público só esse lodo apetece, para seu consumo intelectual, se apressam a escrever na capa de seus livros: romance realista, para que o público, aliciado pelo rótulo, os compre também a eles, e os leia também a eles... E V. Ex.a., meu caro confrade, acrescenta logo com a mais consciente certeza: “Ora isto é comigo!”


Suponha que um dia, numa novela, V. Ex.a. descreve, com o seu vernáculo e torneado relevo, certo animal de longas orelhas felpudas, de rabo tosco, de anca surrada pela albarda, que orneia e que abunda em Cacilhas... E suponha ainda que, ao ler essa colorida página, eu exclamo, apalpando-me ansiosamente por todo o corpo: “Grandes orelhas, rabo tosco, anca pelada... É comigo!” Que diria V. Ex.a., meu prezado confrade?


V. Ex.a. balbuciaria aturdido: “Eu não sei, eu vivo longe... Se as suas orelhas são assim longas, e se o albardão o despelou, há realmente concordância... Mas, na verdade, creia que, mencionando esse animal venerável, não me raiou no ânimo a mais tênue, remota intenção...” Assim, embaraçado e surpreso, diria V. Ex.a. E assim eu digo. V. Ex.a. deve conhecer melhor que eu, que sou distraído e vivo longe, as capas dos meus livros; se V. Ex.a., para atrair a multidão, nelas colou ou consentiu que os seus editores colassem, esse rótulo: romance realista — por não poderem legalmente adorná-las com esse outro mais cativante: romance obsceno — então decerto aquilo é consigo. Mas a intransigente verdade me força a confessar que, escrevendo esse período da carta a Bernardo Pindela, eu não pensava no autor da Corja. Se eu quisesse acusar dessa abjeta concessão, às exigências da venda, um homem que há trinta anos é ilustre na literatura portuguesa — teria escrito o nome todo de V. Ex.a., sem omitir um só título. Há personalidades a quem por isso mesmo que são fortes, se não alude timoratamente e de longe. Já deste modo se pensava na corte de El-Rei Artur. “Se queres falar de Percival, dize bem alto: Percival, e tira a espada.” Assim gritava esse cavaleiro, flor dos bons, na velha cidade de Camerlon, uma tarde em que havia algazarra e ciúmes junto à Távola Redonda. Não se trata, decerto, aqui, de compridas espadas a desembainhar. Mas não deixa de ficar bem a um débil homem de letras, como eu, o seguir essa lição de lealdade e valor dada pelo possante homem de armas Percival.


Assim o exemplo aduzido por V. Ex.a., para demonstrar o meu escandaloso hábito de implicar consigo — é realmente mal escolhido. Mas permanece, todavia, a queixa, feita ao público com tanta rabugem e tanto azedume, de que — eu e os meus amigos, sempre que isso vem a talho de fouce, lhe assacamos aleivosias.


Aleivosia é um termo formidável e sombrio que, se me não engana o vetusto e único dicionário que me ampara nesta dura labutação do estilo, significa — “maldade cometida traiçoeiramente com mostras de amizade, insídia, perfídia, maquinação contra a vida e reputação de alguém, etc.” Tudo isto é pavoroso. Mas eu suponho que, sob essas vagas palavras de implicação e aleivosia, V. Ex.a. quer muito simplesmente queixar-se de que eu e os meus amigos o não consideramos um escritor tão ilustre, com um tão alto lugar nas letras portuguesas como o costumam considerar os amigos de V. Ex.a. Ora aqui V. Ex.a. se ilude singularmente.


Eu nunca tive, é certo, a oportunidade deleitável de apreciar, nem em copioso artigo, nem sequer em curta linha, a obra de V. Ex.a. Mas sou meridional, portanto loquaz. Por vezes, entre amigos e fumando a cigarette, tem vindo “a talho de fouce” conversar sobre a personalidade literária de V. Ex.a. E, louvado seja Apolo aurinitente, sempre me exprimi sobre o autor do Esqueleto, de um modo que é irrecusavelmente mais digno dele e da sua obra, do que esse outro estranho modo por que o costumam decantar aqueles que se ufanam, já na palestra, já na imprensa, de serem seus amigos e seus discípulos.


Porque eu, falando de V. Ex.a., considero sempre a sua imaginação, a sua maneira de ver o mundo, o seu sentimento vivo ou confuso da realidade, o seu gosto, a sua arte de composição, a fraqueza ou força do seu traço; e, pelo menos, admiro sem reserva em V. Ex.a. o ardente satírico, neto de Quevedo, que põe ao serviço da sua apaixonada misantropia, o mais quente e o mais rico sarcasmo peninsular. E os seus amigos, esses, admiram apenas em V. Ex.a., secamente e pecamente, o homem que em Portugal conhece mais termos do dicionário!


Sempre, “a todo o talho de fouce”, em artigo, em local, em anúncio de partida, em felicitação de dia de anos, V. Ex.a. é pelos seus discípulos e amigos louvaminhado e turibulado — como o grande homem do vocábulo, esteio forte de prosódia, restaurador da ordem gramatical, supremo arquiteto das frases arcaicas, acima de tudo castiço, e imaculadamente purista! E ainda mais na intimidade, os amigos de V. Ex.a. o celebram como o homem que melhor sabe descompor o seu semelhante! E isto tão obstinadamente murmurado ou clamado, que esta geração mais nova, para quem já vou sendo um velho e V. Ex.a. quase um fantasma, não tendo como eu e os do meu tempo rido e chorado sobre os seus livros de paixão e de ironia, o imaginam a V. Ex.a. um intolerável caturra, de capote de frade, debruçado sobre um sebento léxicon, a respigar termos obsoletos para com eles apedrejar todos os seus conterrâneos!


A V. Ex.a, crítico sagaz de si mesmo, melhor compete avaliar o que, neste vale de prosa e lágrimas, tem feito para merecer que os seus amigos, como os amigos de César no dia das lupercais, teimem em lhe enterrar até aos ombros esta dupla e pesada coroa da vernaculidade e da descompostura.


A mim só me compete lamentar que a estas mofinas proporções tenha sido reduzida, pelo zelo crítico dos seus amigos, a larga individualidade que nos deu o Amor de Perdição. Mas ao mesmo tempo adquiro o direito de rogar a V. Ex.a. que, quando se queixar aos ventos e ao Chiado das pessoas que implicam consigo, como V. Ex.a. diz, ou que desdouram a sua glória, como eu traduzo, não se volte para mim e para os meus amigos — mas olhe em torno de si para os seus admiradores, e para dentro de si mesmo, talvez.


A guerra de realistas e idealistas, causa primordial destas explicações, tornou-se já quase tão desinteressante e cediça, meu prezado confrade, como a guerra dos clássicos e românticos, a das Duas Rosas, ou essa outra que, para vantagem única dos livreiros que editam Homero, dous povos semibárbaros tiveram a paciência de arrastar dez anos em torno de uma vila da Ásia Menor murada de adobe e tijolo. Renovar tão antiquada guerra nas gazetas, é já um ato imperdoavelmente provinciano; mas mais provinciano ainda é estarmos nós aqui, com grãos de incenso nas mãos, e pedras nas algibeiras, fazendo, através do grande mar, mútuas e lentas mesuras. V. Ex.a., de lá, dentre os seus sinceros arvoredos minhotos, ajanota as suas frases pelos figurinos de Filinto Elísio, para me dizer gaguejando, e com agridoce generosidade: “O meu caro amigo tem muito talento, com exceção de escrever muita tolice”. E eu de cá, mais pérfido, porque habito as cidades, grito sem gaguejar, e com polida efusão: — “E o meu caro amigo tem ainda muito mais, sem exceção absolutamente nenhuma”.


É infantil. Antes desperdiçássemos o nosso tempo, preguiçando patriarcalmente, neste doce calor de junho, sob a figueira e a vinha... Mas quê! V. Ex.a., que estava brincando funebremente, a fazer no soalho, com tochas de fósforos, uma procissãozinha de moribundos, ergue-se de repente, corre para o público, mesmo sem tirar o babeiro, e acusa-me, entre lágrimas de furor, de estar sempre a implicar consigo! Que havia eu de fazer, eu inocente e justo? Corro também para o público, mesmo de jaquetão de trabalho, e brado profusamente com as mãos sobre o peito: “Nunca! É falso! Jamais impliquei com ele, e não lhe quero senão bem!”


A culpa de toda esta inútil prosa é portanto toda sua; e para que ela se não prolongue mais, apresso-me, prezado confrade, a dizer-me


De V. Ex.a.
Sincero e antigo admirador
Eça de Queirós



— Fim —

Salamanca


Rua em Salamanca à noite Posted by Hello

Teixeira de Pascoaes


Posted by Hello

O Teixeira de Pascoaes anda um pouco esquecido por todos. Até por mim que até há muito pouco tempo nada tinha lido dele. Burrice do Sousita. Para se redimir aqui vão uns poemas.

A imagem foi roubada em http://www.weidleverlag.de/thelen.htm


O Poeta

Ninguém contempla as cousas, admirado.
Dir-se-á que tudo é simples e vulgar...
E se olho a flor, a estrela, o céu doirado,
Que infinda comoção me faz sonhar!

É tudo para mim extraordinário!
Uma pedra é fantástica! Alto monte
Terra viva, a sangrar como um Calvário
E branco espectro, ao luar, a minha fonte!

É tudo luz e voz! Tudo me fala!
Ouço lamúrias de almas no arvoredo,
Quando a tarde, tão lívida, se cala,
Porque adivinha a noite e lhe tem medo.

Não posso abrir os olhos sem abrir
Meu coração à dor e á alegria.
Cada cousa nos sabe transmitir
Uma estranha e quimérica harmonia!

É bem certo que tu, meu coração,
Participas de toda a Natureza.
Tens montanhas na tua solidão
E crepúsculos negros de tristeza!

As cousas que me cercam, silenciosas,
São almas, a chorar, que me procuram.
Quantas vagas palavras misteriosas,
Neste ar que aspiro, trémulas, murmuram!

Vozes de encanto vêm aos meus ouvidos,
Beijam os meus olhos sombras de mistério.
Sinto que perco, às vezes, os sentidos
E que vou flutuar num rio aéreo...

Sinto-me sonho, aspiração, saudade,
E lágrima voando e alada cruz...
E rasteirinha sombra de humildade,
Que é, para Deus, a verdadeira luz

Mais imagens inédita do pesadelo de Luciano Guerra.

Atente-se que o único que se mostra constrangido é o Fidel Castro. Posted by Hello

O pesadelo de Luciano Guerra
Posted by Hello

segunda-feira, 30 de maio de 2005


 Posted by Hello

O Sousa treme de pavor......

O reitor do Santuário de Fátima, Luciano Guerra, lançou um conjunto de críticas sem paralelo na Igreja portuguesa contra os casamentos entre homossexuais e a despenalização do aborto. "Os contentores de resíduos hospitalares vão transbordar de crianças mortas", afirma no editorial do último número do jornal "Voz de Fátima" Luciano Guerra, para quem "o aborto clandestino sempre acontecerá, porque ainda acontece nos países que o despenalizaram".Sob o título "Grandes rombos na Europa", o reitor do Santuário escreve que "corpos esquartejados de bebés vão aparecer em lixeiras de toda a espécie ao olhar horrorizado ou faminto de pessoas e animais". Mais estas imagens, sustenta o mesmo responsável, "serão mais numerosas à maneira que o aborto deixar de ser considerado crime".As suas críticas estendem-se, ainda, ao facto de as mulheres que abortam recorrerem aos hospitais públicos, "onde teoricamente tudo se faz de graça, mas onde as listas de espera continuam a ser regra, até em urgências mais urgentes que acabam na morgue".Face ao quadro por si desenhado, monsenhor Luciano Guerra entende que "talvez já tarde dar-nos-emos conta de que, não podendo evitar todos os sofrimentos, há que ter dó antes de mais dos inocentes assassinados sem chegarem ao menos a ver a luz do sol".O reitor do Santuário ataca, também, o Parlamento europeu, que "amanhã poderá impor a união entre homossexuais". Daí admitir como possível que, "dentro de pouco tempo, tenhamos visitas de Estado ao mais alto nível, em que uma rainha, talvez sem herdeiros, dará o braço a outra senhora com estatuto de esposa, ambas de mão na mão, e o Presidente barbudo de uma grande República se fará acompanhar maritalmente de um outro cavalheiro que pode ser (sem ironia!) o presidente do Parlamento".


Só de pensar em ter um Primeiro Ministro ou quem sabe um Ministro da Defesa Gay o Sousita treme de pavor.

O texto original em http://www.fatimamissionaria.pt/noticia1.php?recordID=483

Agora, muito cá para nós, um tipo que anda habitualmente de saias.....a falar de gays....é estranho, não é ?

Salamanca, ou talvez não, by drinking zone. Era de noite. E foi bastante divertido. Posted by Hello

Salamanca vista pelo Sousita.....aínda sóbrio... Posted by Hello

O Sousita foi sempre a cumprir os limites de velocidade.... Posted by Hello

sábado, 28 de maio de 2005



O Sousita vai até Salamanca. Férias merecidas! . Promete publicar fotos de lá. Bom fim-de-semana a todos!
Posted by Hello

sexta-feira, 27 de maio de 2005

Marilyn e Cesariny



Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco


Mário Cesariny



Posted by Hello

O bom e velho Eça


Posted by Hello

Assim, que grande ovação quando Alípio Abranhos traçou o inspirado quadro do estado do País sob a administração Cardoso Torres: «Olhai em redor, e vede este formoso torrão de Portugal, que vós jurastes, nas mãos de El-Rei defender e fazer.58 prosperar; olhai e dizei-me se sois dignos de estar nesses bancos uma hora mais: por toda a parte o esbanjamento da fazenda pública, por toda a parte o patrocinato primando o mérito; a escola, essa fonte pública, seca de instrução; as férteis campinas, desoladas; as estradas que prometestes, cobertas dos pedregulhos e das lamas da incúria; as cadeias, esses depósitos do mal, trasbordando; e o pobre camponês, que sucumbe ao peso dos impostos, regando com lágrimas o grão escasso que lhe dá um solo desolado!» (Bravo! Bravo!). E os ministros, nos seus bancos, com os braços frouxos, a cabeça pendente, sentindo retumbar-lhes aos ouvidos aquela voz, igual a outra que na Antiguidade, do fundo dos ares apostrofara Caim, pareciam contemplar, aterrados, a visão pavorosa da Pátria arruinada!
A sensação foi prodigiosa.

O Conde d'Abranhos
Eça de Queirós

Felizmente que tudo mudou.


Posted by Hello

Deixando de ser uma lucta de principios e de ideas a politicaconverte-se fatalmente em uma questao de compadres.
O compadrio elevado a cathegoria de instituicao nacional, domina tudo,corrompe tudo, dissolve tudo. Os partidos que nao podem conquistar oappoio da opiniao pelas ideas que representam, procuram manter-se peloappoio dos compadres que favorecem. E na proporcao exacta do numero doscompadres que annualmente despacha e emprega, que um partido augmenta oudiminue de adeptos, progride ou retrograda na confianca da coroa e nofavor da urna.
O dogma fundamental do compadrio impoe-se por tal modo que transformatodas as outras nocoes moraes segundo o criterio de que elle e aexpressao. Transforma a justica, a honra, a probidade, a propriaconsciencia. Nenhum partido politico ousa violar o compadrio: seriacommetter a mais vil e a mais nefanda das traicoes politicas!
Despachando o compadre mais servical com exclusao do adversario maiscompetente todo o governo honesto julga praticar um acto de gratidao ede lealdade. E ninguem ve quanto ha de profundamente subversivo da ordemmoral n'este simples facto tao vulgar, tao frequente, tao despercebido:a exclusao da competencia! Excluir a competencia, ou quando menospreteril-a, por um anno, por um mez, por um dia, por uma hora que seja,e commetter o attentado mais criminoso de que o Estado pode ser reodeante da sociedade. Esse attentado resume todas as violacoes do direitoe todas as affrontas da justica. E um roubo violento e descarado,aggravado com a offensa do merito, com a injuria da capacidade, com oinsulto ao trabalho, com o escarneo a moral, com o ultrage ao dever.
Na politica portugueza, que tem o seu calao como as mulheres publicas ecomo os ratoneiros, esse crime infame toma o nome dourado de_compromisso politico ou de acto de fidelidade partidaria_. E doministro que o pratica e para o qual se deveria pedir a prisaocorreccional ou o degredo com trabalhos publicos, a opiniao dizapenas:--E fiel aos seus correligionarios, sabe ser amigo, despachou ocompadre, vou para o partido d'elle.
O officio do governo e servir o paiz. Como porem o paiz, por effeito domachinismo eleitoral, e representado constantemente pelos compadres dogoverno, o officio do governo em ultima analyse nao e mais do que serviro compadre. Esta no seu destino. Gracas aos elementos de corrupcao deque o governo dispoe, o cidadao, nao votando como cidadao mas votandocomo compadre, da o primeiro impulso que poe em movimento toda aengrenagem do systema: elegendo o compadre e elle mesmo que funda atyrannia absoluta e despotica do compadrio que depois o governa.
A sociedade esta a merce do compadre. E se ha poder que possacontrabalancar alguma vez, em dadas conjuncturas, o poder do compadre,esse poder e unicamente--o da comadre.
A aptidao provada, a capacidade, o talento, o trabalho, a firmesa nodever, a tenacidade no estudo, a mais alta comprehensao e o maisrigoroso cumprimento da solidariedade e da honra--palavras, palavras,unicamente palavras! Na esphera dos fattos, na ordem pratica, positiva,real; compadrice, comadrice--eis tudo.

As Farpas.

Ortografia não actualizada

O defice segundo João da Ega

O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar absolutamente. Os emprestamos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta - cobrar o imposto e fazer o empréstimo. E assim se havia de continuar...
Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e lindamente para a banca-rota.
- Num galopesinho muito seguro e muito a direito, disse o Cohen, sorrindo. Ah, sobre isso, ninguém tem ilusões, meu caro senhor. Nem os próprios ministros da fazenda!... A banca-rota é inevitável: é como quem faz uma soma...
Ega mostrou-se impressionado. Olha que brincadeira, hein! E todos escutavam o Cohen. Ega, depois de lhe encher o cálice de novo, fincara os cotovelos na mesa para lhe beber melhor as palavras.
- A banca-rota é tão certa, as coisas estão tão dispostas para ela - continuava o Cohen - que seria mesmo fácil a qualquer, em dois ou três anos, fazer falir o país...
Ega gritou sofregamente pela receita. Simplesmente isto: manter uma agitação revolucionaria constante; nas vésperas de se lançarem os empréstimos haver duzentos maganões decididos que caíssem à pancada na municipal e quebrassem os candeeiros com vivas à República; telegrafar isto em letras bem gordas para os jornais de Paris, Londres e do Rio de Janeiro; assustar os mercados, assustar o brasileiro, e a banca-rota estalava. Somente, como ele disse, isto não convinha a ninguém.
Então Ega protestou com veemência. Como não convinha a ninguém? Ora essa! Era justamente o que convinha a todos! Á banca-rota seguia-se uma
revolução, evidentemente. Um país que vive da inscrição, em não lha pagando, agarra no cacete; e procedendo por principio, ou procedendo apenas por vingança - o primeiro cuidado que tem é varrer a monarquia que lhe representa o calote, e com ela o crasso pessoal do constitucionalismo. E passada a crise, Portugal livre da velha divida, da velha gente, dessa colecção grotesca de bestas...
A voz do Ega sibilava... Mas, vendo assim tratados de grotescos, de bestas, os homens de ordem que fazem prosperar os Bancos, Cohen pousou a mão no braço do seu amigo e chamou-o ao bom-senso. Evidentemente, ele era o primeiro a dize-lo, em toda essa gente que figurava desde 46 havia medíocres e patetas, - mas também homens de grande valor!
- Há talento, há saber, dizia ele com um tom de experiência. Você deve reconhece-lo, Ega... Você é muito exagerado! Não senhor, há talento, há saber.
E, lembrando-se que algumas dessas bestas eram amigos do Cohen, Ega reconheceu-lhes talento e saber. O Alencar porém cofiava sombriamente o bigode. Ultimamente pendia para ideias radicais, para a democracia humanitária de 1848: por instincto, vendo o romantismo desacreditado nas letras, refugiava-se no romantismo político, como num asilo pararelo: queria uma república governada por génios, a fraternização dos povos, os Estados Unidos da Europa... Além disso, tinha longas queixas desses politiquotes, agora gente de Poder, outrora seus camaradas de redacção, de café e de batota...

Os Maias

quem se lemra da Jayne Mansfield? Posted by Hello

Duma revista a cores dos anos setenta. Colec��o privada do Sousita. Posted by Hello



O futuro da Europa não parece assim tão mau ao Sousa. Parece-lhe pelo menos colorido. Posted by Hello

Aumento do IVA rende 550 milhões ao Estado

http://jn.sapo.pt/2005/05/25/em_foco/aumento_iva_rende_milhoes_estado.html


O Sousa, prudentemente, dadas as medidas do Governo, vai tomar precauções:

1) Vai passar a fazer as compras mensais, juntamente com as da mãe do mesmo, no supermercado em Espanha (vai tentar que a mãe pague todas certamente com pouco sucesso. A mãe do Sousa é tão forreta como o Sousa)
2) Aproveita e mete gasolina.
3) Come umas ostras na rua das Pedras (por detrás do Hotel Baia de Vigo) com um vinhito de Rioja.
4) Compra a roupita e electrodomésticos em Espanha
5) Desiste de comprar o macito marlboro na tabacaria da esquina e vai recorrer a um honesto contrabandista.
Posted by Hello

segunda-feira, 23 de maio de 2005


Entarder na VCI Posted by Hello


Impetuoso, o teu corpo é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.
Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.


Eugénio de Andrade
Posted by Hello

poesia



The Fly

The Lord in His wisdom made the fly,
And then forgot to tell us why.

A Word to Husbands

To keep your marriage brimming,
With love in the loving cup,
Whenever you're wrong, admit it;
Whenever you're right, shut up.

Ogden Nash
Posted by Hello

sexta-feira, 20 de maio de 2005


Desenho humorístico de 1971. Playboy. Só anos depois as nossas ambulâncias começara a inverter as letras para serem lidas pelos retrovisores. Está aqui a origem da ideia? Posted by Hello

Recordações....


Uma revista em Alemão (finais dos anos 60 inicio dos 70) Sem data ou nome da editora. Um pouco estragada. O interior é a preto e branco e a maior parte texto. Tem também anúncios particulares. (Swing e coisas assim) Posted by Hello