O Sousita imaginou que um dia o primeiro-ministro, o ministro das finanças e o da economia, reunidos em volta duns bons copos de vinho se lamuriavam dos impropérios e faltas de consideração de que eram alvo. Um porque a mulher já não lhe falava por ele ter tirado o sistema de saúde do pai, outro porque o empregado do restaurante desde que o IVA subira o tratava mal e porcamente e – infâmia nunca provada – era suspeito de na cozinha, e muito às escondidas, cuspir no bife que lhe ia servir. Rosnava-se até que algumas vezes o passara pelo rabo depois de se aliviar. Outro porque os miúdos na escola eram maltratados pelos colegas, professores e auxiliares de educação.
Estavam azedos e recriminavam-se entre si. Acusavam o P.M. de os ter desinquietado e metido naquelas maçadas. O P.M. defendia-se como podia: “vocês vieram porque quiseram. Eu não os obriguei,” Defendia-se debilmente.
O P.M. tinha visto no Sousa da Ponte, que como toda a gente sabe é lido por quem é quem neste país, o valor do P.I.B per capita e tinha fixado que era da ordem dos USD 15000. Pegou na máquina de calcular, fez umas contitas rápidas e ficou calado.
Quase no fim da segunda garrafa luziram os olhos do P.M. e disse: “tive uma ideia!”
Admirados pelo inaudito da situação preparam-se para ouvir.
Ora meus amigos – começou o nosso primeiro – a gente podia pegar no PIB e dividi-lo por todos os portugueses. Independentemente da idade, profissão, de trabalhar ou não nós no dia 1 de cada mês distribuía-mos um valor de 1,220 Euros a cada um.
Não contentes com isso acabavamos com todos os impostos. Cada um que se amanhasse a gerir a guita.
O ministro das finanças, já com os olhos muito brilhantes, objectou:
- Pois, isso é muito lindo mas depois não havia serviços básicos, nem estradas, nem sistema de ensino, nem polícia, nem exército, nem…
- Nem nós, vociferou o ministro da economia.
O P.M. sorriu e disse:
- Calma meus amigos que isto que tenho aqui em cima não é só para produzir cabelos e caspa. Ora atentem:
- Desta quantia íamos retirar o dinheiro para pagar o serviço de saúde, a policia, as fraldas para os incontinentes, as universidades, a gestão corrente do estado e essas coisas todas. Temos que nos lembrar que o estado ficava sem outra fonte de receita e assim as pessoas veriam retirado à cabeça os valores a pagar.
Tenho aqui tudo discriminado. Só me falta somar:
Saúde
300
Educação
100
Gestão
25
Segurança
25
Infra-estruturas
100
Justiça
10
Cultura
25
Reserva do estado
100
Autarquias
100
Assimetrias
25
Diversos
50
Divida publica
50
subsídios diversos
50
- Temos portanto, continuou o primeiro, que estes valores iam cobrir as despesas que o estado ia ter para manter o país em funcionamento, fiscalizar, distribuir o dinheiro, dar assistência médica e medicamentosa, subsidiar a ciência e a cultura, armar o exército e isso tudo.
- Eu só gostava de saber – disse o ministro da economia enquanto pedia a terceira garrafa – é onde vais arranjar com 300 euros por mês verba para pagar lares de terceira idade, algálias, ambulâncias, máquinas para os hospitais e a construção de novos hospitais e centros de saúde.
- E olha que vinte e cinco euros por cabeça para segurança interna e externa não dá. Sabes quanto custa um submarino? Ajuntou o das Finanças.
Ia o primeiro argumentar quando o empregado, que abria a quarta garrafa, disse:
- Os senhores desculpem mas eu estava aqui a fazer contas de cabeça e isto dá um valor de 260 euros por cabeça. Com isto eu e a minha Sãozinha não nos safávamos. Só de empréstimo da casa pago 350.
Os três olharam uns para os outros enquanto o empregado saía.
O P.M. cortou o silêncio e disse: - Parece que temos um problema.
Novo silêncio. Toca o telemóvel dum dos ministros e ele atende:
- Sim, estive em reunião com o primeiro….conclusão? …Bem…é que isto não dá para todos.
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