Blog dum gajo do Porto acerca de gaijas, actualidade política e sem futebol. Aqui o marmelo não gosta de futebol

quinta-feira, 27 de outubro de 2005

Para qualquer pessoa que entre num tribunal há uma coisa que salta imediatamente à vista: aquilo não pode funcionar.

Das poucas vezes que entrei num tribunal o que vi: uma montanha de pessoas apinhadas entre montanhas de papeis dentro de gabinetes esconsos. A maior parte parece dedicar-se a coser folhas de papel. Nos corredores resmas de papeis atados com cordéis. Curiosito como é o Sousita vai lendo as capas: urgente, inquérito, confidencial….São documentos vários empilhados e atados com nós que só mesmo um funcionário judicial sabe dar. São muito úteis para nos sentar-mos em cima deles. Se recebermos um recado urgente do telemóvel tira-se uma folhita e dá para tirar notas.

Depois uma azáfama. Apinham-se as pessoas nos corredores. Os réus, os arguidos, as testemunhas, os advogados, juízes e mirones. É difícil distingui-los mas não impossível.
A pessoa que grita a plenos pulmões nomes e números do processo é geralmente funcionário do tribunal. Um tipo algemado a um polícia que nos pede um cigarro é, regra geral, arguido num processo. Os de farda azul são regra geral policias, Os de preto juízes, funcionários judiciais dum certo escalão ou advogados. Os outros são as chamadas partes ou testemunhas ou mirones. É preciso ter algum cuidado que no meio da aglomeração costuma andar um carteirista ou dois. Há sempre um sem número de crianças que correm, berram e jogam à pancada. Há máquinas de distribuição de bebidas avariadas e os quartos de banho são de fugir. Para grandes necessidades devem retirar-se previamente umas folhitas dos processos do corredor. Os processos tem o grande inconveniente de serem de papel duro e áspero mas garantem sempre alguma leitura.

Entretanto o tal funcionário vai gritando nomes e números do processo como se a sua vida dependesse disso. Não vale a pena fazer qualquer esforço para perceber se é connosco ou não porque o nosso advogado encarrega-se de dizer que estamos. Também qualquer tentativa de ser entendido naquela balbúrdia é inútil.

Nova gritaria, uma criança grita, uma mulher tem um flato, o gajo das algemas pede-nos outro cigarro e o polícia diz-lhe que ele já está a abusar.

No fim disto tudo o nosso advogado diz-nos que a coisa foi adiada para o próximo ano judicial.

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