Blog dum gajo do Porto acerca de gaijas, actualidade política e sem futebol. Aqui o marmelo não gosta de futebol

terça-feira, 8 de novembro de 2005

Sobre a França

Millions of expatriate workers facing maltreatment and injustice in the Middle East and the Gulf are a time bomb that could unleash riots like those rocking France, an Arab-American activist has warned.
"France and the rest of Europe are learning now that 'guest workers', in their third generation and still denied justice, are not only a shame that eats at the moral fibre of a society, they are also a time bomb waiting to explode," said James Zogby, President of the Arab American Institute, on Monday.

http://english.aljazeera.net/NR/exeres/E306BDF9-FCE1-4835-8698-C9BB1620A50A.htm

"France is the country where, more than anywhere else, the historical class struggles were each time fought out to a finish, and where, consequently, the changing political forms within which they move and in which their results are summarized have been stamped in the sharpest outlines. The centre of feudalism in the Middle Ages, the model country, since the Renaissance, of a unified monarchy based on social estates, France demolished feudalism in the Great Revolution and established the rule of the bourgeoisie in a classical purity unequalled by any other European land. And the struggle of the upward-striving proletariat against the ruling bourgeoisie appeared here in an acute form unknown elsewhere."
The Eighteenth Brumaire, Engels (p.4, 1907 edition)

A necessidade de se constranger trouxe-lhe o hábito de odiar; odiou sobretudo as patroas, com um ódio irracional e pueril. Tivera-as ricas, com palacetes; e pobres, mulheres de empregados, velhas e raparigas, coléricas e pacientes; — odiava-as a todas, sem diferença.

É patroa e basta! Pela mais simples palavra, pelo ato mais trivial! Se asvia sentadas: — Anda, refestela-te, que a moura trabalha! Se as via sair: — Vai-te, a negra cá fica no buraco! Cada riso delas era uma ofensa à sua tristeza doentia; cada vestido novo uma afronta ao seu velho vestido de merino tingido. Detestava-as na alegria dos filhos e nas prosperidades da casa. Rogava-lhes pragas. Se os amos tinham um dia de contrariedade, ou via as caras tristes, cantarolava todo o dia em voz de falsete a Carta adorada! Com que gosto trazia a conta retardada de um credor impaciente, quando pressentia embaraços na casa! “Este papel! — gritava com uma voz estridente — diz que não se vai embora sem uma resposta!” Todos os lutos a deleitavam — e sob o xale preto que lhe tinham comprado, tinha palpitações de regozijo. Tinha visto morrer criancinhas, e nem a aflição das mães a comovera; encolhia os ombros: “Vai dali, vai fazer outro. Cabra!



— Não que a minha vez havia de chegar! Tenho sofrido muito! Estou farta! Vá buscar o dinheiro onde quiser. Nem cinco réis de menos!

Tenho passado anos e anos a ralar-me! Pra ganhar meia moeda por mês, estafo-me a trabalhar, de madrugada até à noite, enquanto a
senhora está de pânria! É que eu levanto-me às seis horas da manhã — e é logo engraxar, varrer, arrumar, labutar, e a senhora está muito
regalada em vale de lençóis, sem cuidados nem canseiras. Há um mês que me ergo com o dia pra meter em goma, passar, engomar! A senhora suja, suja, quer ir ver quem lhe parece, aparecer-lhe com taflilarias por baixo, e cá está a negra com a pontada no coração, a matar-se, com o ferro na mão! E a senhora são passeios, tipóias, boas sedas, tudo o que lhe apetece — e a negra? A negra a esfalfar-se!
Luísa, quebrada, sem força para responder, encolhia-se sob aquela cólera como um pássaro sob um chuveiro. Juliana ia-se exaltando com a mesma violência da sua voz. E as lembranças das fadigas, das humilhações, vinham atear-lhe a raiva, como achas numa fogueira.
— Pois que lhe parece? — exclamava. — Não que eu como os restos e a senhora os bons bocados! Depois de trabalhar todo o dia, se quero uma gota de vinho, quem mo dá? Tenho de o comprar! A senhora já foi ao meu quarto? É uma enxovia! A percevejada é tanta que tenho de dormir quase vestida. E a senhora se sente uma mordedura, tem a negra de desaparafusar a cama, e de a catar frincha por frincha. Uma criada! A criada é o animal. Trabalha se podes, senão rua, para o hospital. Mas chegou-me a minha vez - e dava palmadas no peito, fulgurante de vingança. - Quem manda agora sou eu!
Luísa soluçava baixo.

O Primo Basílio, Eça de Queirós

Sem comentários: