Blog dum gajo do Porto acerca de gaijas, actualidade política e sem futebol. Aqui o marmelo não gosta de futebol

segunda-feira, 16 de março de 2009

Juiz deliberou que personagens de ficção podem representar uma pessoa

Australiano condenado por posse de ficheiros dos "Simpsons" em actos sexuais

Ver a noticia aqui

Esta não escapava ao juíz:

Moralmente, Bracolletti é um hábil. Nasceu em Esmirna de pais gregos; é tudo o que ele revela: de resto, quando se lhe pergunta pelo seu passado, o bom grego rola um momento a cabeça de ombro a ombro, esconde sob as pálpebras cerradas com bonomia o seu olho maometano, desabrocha o sorriso de uma doçura a tentar abelhas, e murmura, como afogado em bondade e em enternecimento: — Eh! mon Dieu! Eh! mon Dieu!... Nada mais. Parece, porém, que viajou — porque conhece o Peru, a Crimeia, o cabo da Boa Esperança, os países exóticos, tão bem como Regent Street: mas é evidente para todos que a sua existência não foi tecida, como a dos vulgares aventureiros do Levante, de ouro e estopa, de esplendores e pelintrices: é um gordo e, portanto, um prudente: o seu magnífico solitário nunca deixou de lhe brilhar no dedo: nenhum frio jamais o surpreendeu sem uma peliça de dois mil francos: e nunca deixa de ganhar, todas as semanas, no Fraternal Club, de que é um membro querido, dez libras ao whist. É um forte. Mas tem uma debilidade. É singularmente guloso de rapariguinhas de doze a catorze anos: gosta delas magrinhas, muito louras, e com o hábito de praguejar. Colecciona -as pelos bairros pobres de Londres, com método. Instala -as em casa, e ali as tem, como passarinhos na gaiola, metendo-lhes a papinha no bico, ouvindo-as palrar todo baboso, animando-as a que lhe roubem os xelins da algibeira, gozando o desenvolvimento dos vícios naquelas flores da lama de Londres, pondo-lhes ao alcance as garrafas de gin para que os anjinhos se embebedem e quando alguma, excitada de álcool, de cabelo ao, vento e face acesa, o injuria, o arrepela, baba obscenidades, o bom Bracolletti, encruzado no sofá, de mãos beatamente cruzadas na pança, o olhar afogado em êxtase, murmura no seu italiano da costa síria: — Piccolina! Gentilleta! Querido Bracolletti! Foi realmente com prazer que o abracei, nessa noite. em Charing Cross: e como nos não víamos há muito, fomos cear juntos ao restaurante. O criado triste lá estava no seu comptoir, curvado sobre o « Journal des Débats». E apenas Bracolletti apareceu, na sua majestade de obeso, o homem estendeu-lhe silenciosamente a mão, foi um shake-hands solene, enternecido e sincero.


É dos contos do Eça (um poeta lírico)

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