Blog dum gajo do Porto acerca de gaijas, actualidade política e sem futebol. Aqui o marmelo não gosta de futebol

quarta-feira, 30 de março de 2011

Uma história lusa ou de como o Sousa escreve cada coisa.

Os Silva, gente honesta e trabalhadeira, tinham quatro filhos, um Fiat 127, um apartamento na Brandoa (ou num local parecido) e um cão que se chamava benfica. Viviam num três assoalhadas, se é que isso tal se pode chamar a um chão de madeira ordinaria, chamada de "colonial", por um construtor pato bravo, careca e barrigudo.
Vivia-se com dificuldades. Casa escassa, dinheiro ainda mais e luxos poucos. Passeio de carro aos domingos e nem em todos. Aliás nem cabiam os Silvas todos no vetusto 127. Uns de cada vez e mesmo assim sem saber se a bateria ajudava à coisa.
Muita massa à mesa - da milaneza é claro- misturada com atum ramirez e para sobremesa o doce de bolacha. Em dias de festa vinho fino.
Atrás dum dia outro vem e as coisas hão-de melhorar!

Um dia. Melhor!

Um belo dia, como se diria numa obra literária e de ficção. É que nisto de ficção e realidade convém precisar: um dia parece um relato veridico. Um belo dia parece indiciar uma ficção.

Ora, a bom rigor da verdade, devemos falar dum belo dia.

Assim seja.

No tal belo dia, de sol como convém a coisas assim , o tio Mário - parente afastado por longa estadia nesses parises de França e emigrante de longa data - convoca os Silva para funeral com pompa e circustância de parente distante mas de pingues haveres - e o que é mais teres - em terra distante e de costumes diferentes.

E lá foram os Silva.

Apertados no 127 e com a cadeira de rodas da do meio que por falta de cuidados natais, pré-natais e a fins se viu reduzida à condição de aleijadinha. Mais tarde como veremos repudiará com veemência o epíteto de aleijadinha e esperará ser uma pessoa portadora de deficiência.

Lá chegaremos.

Lá foram e gostaram. Terra linda, estradas limpas e iluminadas e gente simpática.

A aleijadinha que até era escondida lá na terra era bem tratada e até havia rampas para a cadeira da aleijada.

Comida do melhor, bebida nem se fala e charutos.

A tal parente era alta e loira. Na verdade ninguém se lembrava dela que na juventude imigrara lá para a Europa e que casara com um tal estrangeiro. O nome era Monet ou coisa assim. Parece que em estrangeiro quer dizer dinheiro e de facto a gaija estava - segundo se disse - cheio dele.

Conversa vai conversa vem, recados nossos, muitos beijos e abraços e ....benha lá a guita.

Não nos julguem mal mas isto de guita e dificuldades só nós que as passamos sabemos como é e quem nunca passou precisão que atire a primeira pedra.

Esta precisão aponta para algumas origens beirãs que não rejeitamos.

Entre choros, beijos, abraços e regionalismos a tal prima (ou tia?) lá se comoveu e tomou uma decisão.

Ora nós sabemos que decisões tomadas num funeral - se não forem fruto de grandes bebedeiras ou da emoção do momento - são pactos para a vida.

Decidiu a prima (ou tia ?) patrocinar a familia dos Silva. Unica que lhe restava com uns trocos que lá tinha mas que para os Silva eram notas das grossas.






1 comentário:

Maria Paz disse...

Gostei muito do texto. Fiquei na dúvida se é pura ficção ou será como a Biblia, para interpretar e adaptar à realidade. Eu li das duas maneiras.