Era no início dos anos oitenta. O local e a hora, ou o tempo e o modo, ficam no segredo dos deuses. Poderá dizer-se que era em Lisboa.
No jardim dos Jerónimos muito meninos entre os 6 e os 16 anos, prostituíam-se, publica e notoriamente, sob o olhar condescendente da policia, de Sua Ex.ª O Presidente da Republica, dos transeuntes que passavam na 24 de Julho, dos vizinhos, das visitas dos habitantes da 24 de Julho, dos seguranças de Sua Ex.ª O Presidente da Republica, das visitas e amigos que frequentavam a residência oficial de Sua Ex.ª o Presidente da Republica, da namorada do segurança das obras do futuro centro cultural de Belém, do engenheiro que fiscalizava à noite as escavações para o CCB, do policia de transito que me multou na 24 de Julho – em frente aos meninos –, de eu próprio, dos meus amigos e das visitas oficiais ao Jerónimos e do Tal e Qual, e até da Gaiola Aberta.
Perto estava um carro da polícia com dois guardas. Guardavam a ordem pública.
Enfim! Todos sabíamos que o Jardim dos Jerónimos era o jardim dos pederastas. Não dos paneleiros. Os paneleiros iam para o Parque Eduardo sétimo. Aqui era mais meninos.
Uma noite, bons tempos em que não havia álcool teste, O Sousita, quase imberbe vinha num carro de Lisboa para Cascais. Um velhote – para nós com menos de vinte alguém de mais de quarenta era velho – estava de calças baixadas e encostado a uma árvore enquanto um miúdo, para aí de dez anos lhe fazia sexo oral.
O Sousita e amigos param, saem do carro e correm para o tal velho. O puto safa-se mais rápido que o som e fica o velhote a apertar as calças e a arfar.
Grita: eu chamo a policia! E é que podia chamar! E eles estavam perto.
Certos do rigor da autoridade contra tal desatino nosso contra a ordem estabelecida e o direito sagrado do velhote de comer o puto pirámo-nos em grande velocidade para Cascais.
O velhote lá se foi. E nos também.
A polícia ficou, condescendente no seu lugar, os guardas da residência oficial de Sua Ex.ª O Presidente da Republica também, os construtores, mirones, vizinhos e residentes da 24 de Julho seguiram o seu exemplo.
Fomos ou não todos coniventes?
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