Blog dum gajo do Porto acerca de gaijas, actualidade política e sem futebol. Aqui o marmelo não gosta de futebol

terça-feira, 28 de abril de 2009

Mais disparates sortidos do Sousa

Que isto aqui, vistas bem as coisas é muito melhor que lá na terra, porque aqui, pelo menos, há comidinha todos os dias e porrada nem é muita e o trabalho nem é assim pesado, não falando que se pode arejar um bocadito ao domingo, se a patroa não estiver com os azeites e não estiver cá a coruja da mãe do senhor doutor, que alem de velha e cheirar a velha está sempre cheia de exigências, e mais para aqui e mais para acolá, e vê-se mesmo que a patroa não gosta nada dela, mas faz das tripas coração que isto de sogras é o que se sabe, e mulher que se pegue com a sogra tem a vida num inferno, ou pior

- Oh Maria traz um copinho de água ao menino.

Estudar, diz ela, como se eu não soubesse que o tenho de fazer, mas hoje está um dia bonito como o caraças e apetecia-me ir dar uma volta, mas também tenho ponto para a semana e se esta merda corre mal vai cair o Carmo e a Trindade, e este professor de matemática não vai lá em choradinhos e ainda me prespega com uma nega e adeus minhas encomendas que então é que nunca mais saio de casa e a semanada vai com o caraças, mas que isto é uma seca estudar num dia assim bonito

- Oh Maria então esse copo de água? Tu és é boa para ir buscar a morte!

O estupor do miúdo não pode levantar a ceira para vir buscar o copo à cozinha, que isto de ricos é tudo a mesma merda, e ainda por cima tenho de pôr o copo em cima do prato porque senão a fedúncia começa logo a mandar vir, quando não chove um estalo, mas que o rapazito até está a ficar um homem e isso é que ia ser, eu casada com um menino, da cidade, e ir à aldeia, com ele de braço dado, num automóvel e tudo, mostrar uma barriga muito grande, e comer chocolates todos os dias e bolachas espanholas, e até beber chá e usar o açúcar branco, que para nós as sopeiras, a senhora só nos dá do amarelo, que é mais ao nosso paladar, mas eu gosto é mesmo do branco, que às escondidas a gente vai-lho comendo, que ela parece que tem olhos nas costas mas não vê tudo, e nós somos da aldeia mas não somos nenhumas burras,

- Prepara dois pães com marmelada que para o menino

Esta sopeirita até nem é má de todo, isto era uma questão de apanhar os velhos para fora, a cozinheira dorme como uma pedra, que a coisa fazia-se, o caralho é se ela fica grávida que o velho dá-me um enxerto de porrada que nem numerando os ossos os médicos os voltam a pôr no sitio, e sei lá se lhe dá para se pôr a gritar, ou contar, mas lá que a comia comia, esta ideia de mandar vir o lanche nem foi tola de todo, sempre lhe deito a vista em cima, e estou a ficar com um tesão que batia já aqui uma, vou dizer que vou ao quartinho e aproveito para bater uma,

- Vê lá não te demores, tu parece que vais morar para a sanita

Que desta idade não pensam noutra coisa, coisas de rapazes, que os homens são os mesmos, só pensam em porcarias e mulheres, e é um vê se te avias de apanhar doenças, que eles em vendo um rabo de saia já se sabe, vão por ali fora sem se preocuparem com as consequências e a família, e esta rapariga não me inspira confiança nenhuma, que tem mesmo um ar ardida, com aqueles arzinhos de parolas não se ensaiam nada para nos desinquietarem maridos e filhos, debaixo dos nossos narizes, gente de baixos instintos e piores morais, e depois é como o Timóteo, rapaz de tão boa família, que lá casou com a sopeira, que desgraça a daqueles pais, mas o ingerido insistiu, que mais para aqui mais para acolá, e que era com ela que queria casar, que a coisa até já estava arranjada e ela ia ter o filho e dava-o para criar a umas tias do Alentejo, e lá continuava a vida do rapaz, mas que não que era para casar, e tanto insistiu que lá casou, o desgosto duma mãe quando vê uma coisa destas

- Põe aí os pães e traz mais água que o menino pode ter sede

O que ele foi para a cagadeira fazer sei eu, que com quatro irmãos, numa casa pequena aprende-se de tudo e em eles descobrindo que podem esgalhar o pessegueiro não param, nem depois de grandes, como o sacristão, que era zarolho e se cagava de medo do padre Luís, e que me dava rebuçados só para eu o ver fazer, e que dizia que se contas a alguém corto-te o pescoço como a galinha, e eu não queria que ele me cortasse o pescoço e não contei, não que alguém fosse acreditar em mim, que era miúda e pobre, não que o sacristão fosse rico, mas era muito amigo do padre, e as velhas até diziam que era com a mulher do sacristão que o padre se entretinha, mas eu nunca vi, sei é que a mulher do sacristão estava sempre tida e achada na casa do padre, a tratar das coisas da igreja mas as velhas diziam é que eles eram amantes e que o sacristão não se importava, e eu não me importava nadinha de ver o menino afazer aquilo e, bastava ele querer, que eu por mim, seja um ou seja outro tanto monta, as coisas tem mesmo que acontecer e ainda podia casar com ele, que isso é que ia ser, e a entrar na igreja da aldeia, a casar com um menino da cidade, e o sacristão minha senhora para aqui, minha senhora para acolá, e ia ter sopeiras e dormia todos os dias até ao meio dia, também não se me dava o senhor doutor, que ele há tantos casos, que em gostando da gente nos montam uma casinha e são nossos amigos, e até deixam dinheiro no testamento, que não era a mesma coisa de casar com o menino mas também era bom

- Tanto tempo na casinha? Qualquer dia vais para lá morar!

Foi é fazer porcarias e a porcalhona da criada, que esta gente já sabe mais que a encomenda, já deve ter topado, que isto nas aldeias vivem como os bichos, todos na mesma cama e é a porcaria que se sabe, pais com filhas, mães com filhos, se não fossemos nós a dar-lhes um bocado de civilização isto eram como os animais, e esta até é bonitinha, se não lhe boto a mão em cima ainda, nunca os deixar sozinhos em casa que isto da estopa e do lume já se sabe como é, e já me bastou aquela sabidona de vila Meã , que parecia uma lorpa, e quando não me percatei já andava enrolada com o meu homem, debaixo do meu nariz, é que esta gente não presta mesmo e com doze ou treze anos já sabem mais que muitas mulheres casadas, eu por exemplo, que nunca me prestei a poucas vergonhas e oportunidades não me faltaram, até com o primo Aníbal, que por acaso é uma estampa de homem e desinquietava uma santa, mas não cedi, aguentei-me, sabe Deus como, e o que aconteceu foi só uma vez, sem exemplo, mas até fiquei suada só de pensar nele, e ai se éramos descobertos, que escândalo, e que gozo para as primas, que lhes atiro sempre à cara que casaram todas grávidas, porque é verdade, enquanto eu aguentei-me até ao casamento, não que ele não insistisse, mas eu que não, que lhe fazia umas brincadeiras com a mão e era só isso, e ele só me viu toda nua depois de casar, que isto em a gente tirando a roupa não respondemos mais por nós, é o diabo a assoprar-nos o pecado pelos ouvidos a dentro, e foi assim com o Aníbal que o meu mal foi tirar a roupa da primeira vez, e ele a dizer que afinal somos primos, e até estou com calores só de pensar nisso

- Vai fazendo os exercícios que eu vou ao quintal apanhar um bocado de ar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estes disparates sortidos são bem melhores que os da Cuetara!