Quando o papa chegar,
Sim
Quando o papa chegar,
Todos vão interromper
O que estão a fazer,
Todos querem ver o papa*
Conversar com os doentes.
Erguer as nádegas
para os devotos lhe meterem ex-votos na ranhura.
Apostar em publicanos e republicanos.
Justificar a força do uso com
a força da usura.
Rezar pela democracia em geral
e pelo cão polícia em particular.
Erguer a voz em maio para
curar quistos de abril.
Dar um peido
que brada aos céus.
E encaminhar assim as almas
por esta via sacra.
Porém
O papa
Limitar-se-á
A Clamar e proclamar que
O
É o mais macio e absorvente de todos
(além disso apresenta-se desde agora em
modelos duplex com 900 folhas em todas
as gamas de cores do arco-íris e
um estojo da maior utilidade!)
O
Ao seu alcance
(e poderá ainda receber um super b
ónus de 250 contos em ouro!)
DE MODO QUE DORAVANTE
PODEM POR BIZARRIA:
As autoridades apoiar a polícia em público
e o cão democrático em particular.
Os deputados correr o fecho-éclair
para fazer luz sobre o affaire.
Os investidores pedir luvas
para meter os dedos de môlho.
Os magistrados legislar acerca
dos cães e respectiva matéria.
Os militares erguer a voz para dizer que
a sua voz não se faz ouvir.
Os tecnocratas zelar por que tudo o que ainda
não é obrigatório o seja e não vice-versa.
Os psiquiatras encaminhar as almas para
o sétimo sono.
Os mestres distribuir coleiras novas
com a inscrição «tal qual».
Os escritores dar peidos
que empolgam a cidade.
Os funcionários públicos digerir tudo
porque têm dentes até ao cu.
Os sacerdotes referir-se às conquistas
de abril.
Os internados no manicómio construir
a bomba e explodir.
O que não podem,
O que doravante
Nenhum deles
Pode negar
É que o
Ao seu alcouce
(e ainda poderá receber um super b
ónus de 250 contos em ouro!)
*Em espírito de profunda caridade pelas legítimas aspirações e valores autênticos da humanidade
Note bem:
Na concretização dum projecto tão grandioso como este, trabalhou-se arduamente durante cerca de 1 ano para conseguir chegar a uma produção digna do seu nome, com a tradicional qualidade dos nossos produtos e o inegável critério de perfeição que nos caracteriza.
«A Visita doPapa», de Alberto Pimenta, foi publicada pela primeira vez pela Editora & Etc em Maio de 1981.
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