A Igreja católica, com S.S. o Papa Bento XVI está claramente a tornar-se mais eclética. Depois do anterior Papa que fazia santinhos como quem distribui confetis no Carnaval, que declarava publicamente o apoio a Fátima e que tinha como alvo principal as classes D e E, vem o actual Papa reabilitar Lefébre e, paulatinamente, reformar a Igreja.
Estamos a passar duma igreja generalista tipo coca-cola para um D.Perignom
Na minha opinião a ICAR está a tomar a decisão mais acertada.
As igrejas tiveram durante séculos o monopólio da coisa religiosa. Mesmo nos países mais liberais como a Holanda havia era a tolerância a diversas confissões mas não uma liberdade religiosa como surgiu nos EUA.
Actualmente as igrejas têm de partilhar os clientes com outras confissões. Não me parece que esta situação se vá alterar nos próximos anos.
A decisão do Vaticano parece-me a mais correcta. Eles têm de escolher entre muitos fregueses pouco ligados a ela e que por dá cá aquela palha se raspam para a concorrência ou fixarem uma freguesia certa e que dificilmente muda.
A Porsche sempre teve modelos mais populares (o 924, o boxter). A Ferrari usava a mesma politica tendo tido até aos anos 80 um 2000 a preços mais acessíveis.
Parte do sucesso da Ferrari deve-se a ter acabado com os modelos baratos.
A ICAR está a limpar a casa e tem a sua razão.
Uma igreja generalista como a ICAR tem dificuldade em sobreviver numa sociedade de igrejas muito focadas nos segmentos D e E, com marketing muito agressivo e que até podem ter uma grande rotação de fieis. Os que saem são contrabalançados pelos novos aderentes. Trabalham com grandes números. Os pastores saem-lhes mais baratos. A formação dum pastor demora seis meses e como até são quase todos brasileiros devem ter ordenados baixos. Parte do trabalho é voluntário dos crentes e estes não são pagos.
Claro que esta escolha pelo low cost tem custos: um bispo ou mesmo um padre, da ICAR evidentemente, fica muito bem como visita de casa. Pela sua cultura e educação animam qualquer festa. Dão sempre um ar chic a uma reunião social.
Um pastor das TJ ou da IURD não é a melhor escolha para um evento social, não é?
Sem querer dizer mal de ninguém dão assim um ar pindérico à coisa.
A ICAR tem de escolher entrar nesta concorrência o que implica afastar as classes A e B ou fixar-se nestas.
Não se pode vender fast food e cuisine francesa no mesmo estabelecimento.
A toyota quando quis atingir as classes A e B criou o Lexus que não tem em caso nenhum stands ou oficinas comuns com a Toyota.
Claro que a ICAR poderia ficar com a Opus dei para as classes A e B e desatar a fazer exorcismos e fogueiras santas para as classes D e E.
Corria era o risco de perder pau e bola, não é?
E, se calhar, cem mil clientes das classes A e B geram mais receita que um milhão de tesos que em vez de contribuírem ainda lá vão pedir algum e que estragam o material.
Uma missa única de domingo com 200 pessoas que contribuam com 10 euros cada um gera 2000 euros de receita.
O atendimento ao cliente pode ser muito mais personalizado.
Quatro missas com 1000 pessoas que doem 50 cêntimos geram quinhentos e dão muito mais trabalho e despesa. Sem contar que normalmente vem cheiinhos de problemas e chagam o juízo ao pobre do padre.
Eu próprio confesso que uma ICAR com missas em latim e para uma clientela escolhida poderia tentar-me. Ir-se a uma cerimónia religiosa apenas com pessoas que valia a pena conhecer, com um padre paramentado a ouro, numa igreja bonita já me parece algo que vale a pena. Se calhar até contribuía com 20 euros.
Claro que se a mesma ICAR estivesse a fazer uma fogueira santa ou exorcismos numa igreja próxima duvido que lá fosse.