Blog dum gajo do Porto acerca de gaijas, actualidade política e sem futebol. Aqui o marmelo não gosta de futebol
domingo, 31 de outubro de 2004
Ouve, vê e cala.
e viverás vida folgada.
Tua porta çerrarás,
teu vezinho louvarás,
quanto podes nam farás,
quanto sabes nam dirás,
quanto vês nam julgarás,
quanto ouves nam crerás,
se queres viver em paz.
Seis cousas sempre vê,
quando falares te mando:
de quem falas, onde e quê,
e a quem, como e quando.
Nunca fies nem perfies.
nem a outro enjuries,
nom estês muito na praça,
nem te rias de quem passa,
seja teu todo o que vestes;
a ribaldos nam doestes,
nam cavalgarás em potro,
nem ta molher gabes a outro;
nom cures de ser picam
nem travar contra rezam.
Assi lograrás tas cãas
ou tuas queixadas sãas.
D. João Manuel
poema colocado sem razão alguma em especial. Ou talvez não.
Tirando a roupa
Gosto de tirar a roupa
E sentir o teu caralho duro
Enchendo de prazer a minha boca
Deixando-me louca de tesão
Enquanto vou sendo beijada com sofreguidão...
Gosto de tirar a roupa
Virar-me de costas
E oferecer-me por inteiro
Pedindo sorrateira
A tua entrada no meu traseiro.
Gosto de tirar a roupa
E me sentir lambuzada
Inteiramente desejada
Pronta para comer
E ser comida...
Gosto de tirar a roupa
Abrir as minhas pernas
E ficar te sacaneando
Oferecendo a minha vagina quente
Cheia de vontade de ficar molhada.
Gosto de tirar a roupa
E me sentir uma puta
Pronta para ser abusada
Penetrada, amada
Tonta de tesão e dor.
Gosto de tirar a roupa
E sentir as tuas mãos me envolvendo
O teu dedo no meu cuzinho
A tua língua na minha pombinha
E a minha boca no teu pau.
Gosto de tirar a roupa
E de gritar como uma maluca
Com o prazer doidivanas
Que tu provocas no meu corpo
Quando entra em mim ereto.
Gosto de tirar a roupa
E ser obscena
Ser a tua pequena
Ser a tua tarada
Sempre pronta para tirar a roupa...
Ana C. Pozza
Gosto de tirar a roupa
E sentir o teu caralho duro
Enchendo de prazer a minha boca
Deixando-me louca de tesão
Enquanto vou sendo beijada com sofreguidão...
Gosto de tirar a roupa
Virar-me de costas
E oferecer-me por inteiro
Pedindo sorrateira
A tua entrada no meu traseiro.
Gosto de tirar a roupa
E me sentir lambuzada
Inteiramente desejada
Pronta para comer
E ser comida...
Gosto de tirar a roupa
Abrir as minhas pernas
E ficar te sacaneando
Oferecendo a minha vagina quente
Cheia de vontade de ficar molhada.
Gosto de tirar a roupa
E me sentir uma puta
Pronta para ser abusada
Penetrada, amada
Tonta de tesão e dor.
Gosto de tirar a roupa
E sentir as tuas mãos me envolvendo
O teu dedo no meu cuzinho
A tua língua na minha pombinha
E a minha boca no teu pau.
Gosto de tirar a roupa
E de gritar como uma maluca
Com o prazer doidivanas
Que tu provocas no meu corpo
Quando entra em mim ereto.
Gosto de tirar a roupa
E ser obscena
Ser a tua pequena
Ser a tua tarada
Sempre pronta para tirar a roupa...
Ana C. Pozza
Instituições do Porto. Agora tem nova(s) sede(s)
Os sócios desta congregação, chamada “Palheiro”, eram pessoas respeitáveis, maiores de cinquenta anos, qualificadas na jerarquia eclesiástica, no comércio nobilitado e na magistratura, sendo o principal elemento do Palheiro negociantes aposentados, vindos do Brasil. A razão de chamar-se “Palheiro” àquela reunião não a sei. Conjecturalmente diziam alguns etimologistas que palheiro derivava de palha, querendo concluir que o pensamento de quem dera o nome à coisa fora significar o alimento natural dos sócios reunidos naquele ponto do edifício. Acho muito violenta e sobremaneira desatenciosa a hipótese. Os cavalheiros, ofendidos com tal interpretação, eram pessoas que tinham boas lembranças, propósitos salgados e instrução variada para enfeitar as desgraciosidades da maledicência. Estas qualidades intelectivas não se nutrem com palha, penso eu.
Conquanto não fosse extremamente agradável ouvir um sexagenário a discorrer em termos lúbricos acerca das suas libertinagens de rapaz, eu tenho mais que muito para mim que o sal ático dos eufemismos havia de encobrir a impudicícia da ideia.
O que havia de menos louvável nas sessões daqueles cavalheiros era a obrigação que reciprocamente se impunham de esmiuçarem os pormenores das desonras meio veladas para os contarem de modo que a difamação pudesse dali sair a desenrolar o sudário das chagas sociais à luz do sol. Quando os relatores não tinham que expender, era permitida a calúnia para gastar o tempo: quer-me parecer que este artigo dos estatutos do Palheiro não merece louvores. Homens a escorregarem à sepultura, uns entrajados com as severas vestes da religião de Cristo, outros com o peito honrado por cruzes e crachás, outros com numerosa posteridade de filhos e netos, não davam de si boa prova indo para ali afiar a linguagem do impudor, decretar a publicidade de desgraças, que não precisavam da infâmia pública para o serem, e inventar escândalos para aligeirar os tédios da noite.
O que tinham de mais humano aqueles sujeitos era comerem muito biscoito de Valongo e forragearem nos tabuleiros às mãos-cheias para levarem à família. Isto, que não parece bonito, era a coisa de mais sainete e folia que os velhinhos faziam na assembléia.
O tempo foi matando uns e espalhando os outros, de modo que o Palheiro, à falta de concorrentes dignos, ficou devoluto, à espera que a geração nova passe da torpeza militante para as pacíficas recordações de suas façanhas
no CORAÇÃO, CABEÇA E ESTÔMAGO do Camilo
Conquanto não fosse extremamente agradável ouvir um sexagenário a discorrer em termos lúbricos acerca das suas libertinagens de rapaz, eu tenho mais que muito para mim que o sal ático dos eufemismos havia de encobrir a impudicícia da ideia.
O que havia de menos louvável nas sessões daqueles cavalheiros era a obrigação que reciprocamente se impunham de esmiuçarem os pormenores das desonras meio veladas para os contarem de modo que a difamação pudesse dali sair a desenrolar o sudário das chagas sociais à luz do sol. Quando os relatores não tinham que expender, era permitida a calúnia para gastar o tempo: quer-me parecer que este artigo dos estatutos do Palheiro não merece louvores. Homens a escorregarem à sepultura, uns entrajados com as severas vestes da religião de Cristo, outros com o peito honrado por cruzes e crachás, outros com numerosa posteridade de filhos e netos, não davam de si boa prova indo para ali afiar a linguagem do impudor, decretar a publicidade de desgraças, que não precisavam da infâmia pública para o serem, e inventar escândalos para aligeirar os tédios da noite.
O que tinham de mais humano aqueles sujeitos era comerem muito biscoito de Valongo e forragearem nos tabuleiros às mãos-cheias para levarem à família. Isto, que não parece bonito, era a coisa de mais sainete e folia que os velhinhos faziam na assembléia.
O tempo foi matando uns e espalhando os outros, de modo que o Palheiro, à falta de concorrentes dignos, ficou devoluto, à espera que a geração nova passe da torpeza militante para as pacíficas recordações de suas façanhas
no CORAÇÃO, CABEÇA E ESTÔMAGO do Camilo
Da Natália Correia
Cosmocópula
I
Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras
II
O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso da água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro
I
Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras
II
O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso da água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro
sábado, 30 de outubro de 2004
Paulo Portas, a União Europeia e a Constituição da Europa.
Quand je vous aimerai?
Ma foi, je ne sais pas,
Peut-être jamais, peut-être demain.
Mais pas aujourd'hui, c'est certain.
L'amour est un oiseau rebelle
Que nul ne peut apprivoiser,
Et c'est bien en vain qu'on l'appelle,
S'il lui convient de refuser.
Rien n'y fait, menace ou prière
L'un parle bien, l'autre se tait;
Et c'est l'autre que je préfère
Il n'a rien dit; mais il me plaît.
L'amour! L'amour! L'amour! L'amour!
L'amour est enfant de Bohême,
Il n'a jamais, jamais connu de loi,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
Si tu ne m'aime pas,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime!
Mais, si je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
Si tu ne m'aime pas,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime!
Mais, si je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
L'oiseau que tu croyais surprendre
Battit de l'aile et s'envola;
L'amour est loin, tu peux l'attendre;
Tu ne l'attend plus, il est là!
Tout autour de toi vite, vite,
Il vient, s'en va, puis il revient!
Tu crois le tenir, il t'évite;
Tu crois l'éviter, il te tient!
L'amour, l'amour, l'amour, l'amour!
L'amour est enfant de Bohême,
Il n'a jamais, jamais connu de loi,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
Si tu ne m'aime pas, je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
Si tu ne m'aime pas,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime!
Mais, si je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
Si tu ne m'aime pas,
Si tu ne m'aime pas, je t'aime!
Mais, si je t'aime,
Si je t'aime, prend garde à toi!
O verdadeiro diálogo do santana com o Papa:
Sì.
Mi chiamano Mimì, ma il mio nome è Lucia.
La storia mia è breve.
A tela o a seta ricamo in casa e fuori...
Son tranquilla e lieta ed è mio svago far gigli e rose.
Mi piaccion quelle cose che han sì dolce malìa, che parlano d'amor, di primavere, che parlano di sogni e di chimere, quelle cose che han nome poesia...
Lei m'intende? Mi chiamano Mimì, il perché non so.
Sola, mi fo il pranzo da me stessa. Non vado sempre a messa, ma prego assai il Signore.
Vivo sola, soletta là in una bianca cameretta: guardo sui tetti e in cielo; ma quando vien lo sgelo il primo sole è mio il primo bacio dell'aprile è mio! Germoglia in un vaso una rosa...
Foglia a foglia l'aspiro: Cosi gentile il profumo d'un fiore! Ma i fior ch'io faccio, ahimè, il fior ch'io faccio ahimè! non hanno odore.
Altro di me non le saprei narrare.
Sono la sua vicina che la vien fuori d'ora a importunare.
A Callas cantava melhor. mas enfim....!
Ainda após orgia para quem sabe que é destinatária.
Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s`oublier
Qui s`enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheur
Moi je t`offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu`après ma mort
Pour couvrir ton corps
D`or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l`amour sera roi
Où l`amour sera loi
Où tu seras reine
Je t`inventerai
Des mots insensé
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants-là
Qui ont vu deux fois
Leur coeur s`embraser
Je te raconterai
L`histoire de ce roi
Mort de n`avoir pas
Pu te rencontrer
On a vu souvent
Rejaillir le feu
D`un ancien volcan
Qu`on croyait trop vieux
Il est parait-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu`un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu`un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s`épousent-ils pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais Plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et t`écoutre
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L`ombre de ta main
L`ombre de ton chien
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Nota : O poema está alterado porque me deu na real gana. O "Ne me quitte pas" repetido quatro vezes foi omitido várias vezes...mas afinal de quem é o blog ?
Original de Jacques Brel
Il faut oublier
Tout peut s`oublier
Qui s`enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheur
Moi je t`offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu`après ma mort
Pour couvrir ton corps
D`or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l`amour sera roi
Où l`amour sera loi
Où tu seras reine
Je t`inventerai
Des mots insensé
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants-là
Qui ont vu deux fois
Leur coeur s`embraser
Je te raconterai
L`histoire de ce roi
Mort de n`avoir pas
Pu te rencontrer
On a vu souvent
Rejaillir le feu
D`un ancien volcan
Qu`on croyait trop vieux
Il est parait-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu`un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu`un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s`épousent-ils pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais Plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et t`écoutre
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L`ombre de ta main
L`ombre de ton chien
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Nota : O poema está alterado porque me deu na real gana. O "Ne me quitte pas" repetido quatro vezes foi omitido várias vezes...mas afinal de quem é o blog ?
Original de Jacques Brel
Poema dedicado, após orgia, a quem sabe que é dedicado
Longe de ti são ermos os caminhos.
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!.
Claro que não foi escrito por mim mas tenho a certeza que a Florbela Espanca desculpava a apropriação.
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!.
Claro que não foi escrito por mim mas tenho a certeza que a Florbela Espanca desculpava a apropriação.
Poesias colocadas, após orgia, sem qualquer razão
Ai, a carne é fraca, não tem discussão
E eu, que enfraqueci mulher de amigo
Evito o meu quarto, dormir não consigo
Vejo-me à noite: atento a qualquer som!
E isso advém de o seu quarto afinal
Ser contíguo ao meu. O que me consome
É que eu ouço tudo, quando ele a come
E se não ouço, penso: é pior o mal!
Se já tarde os três bebemos um copito
E eu noto que o meu amigo não fuma
E, quando a mira, põe olhos em bico
Encho o copo dela a deitar por fora
E obrigo-a a beber, se não colabora,
P'ra ela à noite não dar por nenhuma.
(Tradução de Aires Graça)
Bertolt Brecht
E eu, que enfraqueci mulher de amigo
Evito o meu quarto, dormir não consigo
Vejo-me à noite: atento a qualquer som!
E isso advém de o seu quarto afinal
Ser contíguo ao meu. O que me consome
É que eu ouço tudo, quando ele a come
E se não ouço, penso: é pior o mal!
Se já tarde os três bebemos um copito
E eu noto que o meu amigo não fuma
E, quando a mira, põe olhos em bico
Encho o copo dela a deitar por fora
E obrigo-a a beber, se não colabora,
P'ra ela à noite não dar por nenhuma.
(Tradução de Aires Graça)
Bertolt Brecht
Poesias colocadas, após orgia, sem qualquer razão
A tarada num carro
Eu não minto
Eu invento
E se tomo vinho tinto
Logo me esquento!
Quando sinto,
Eu tento.
Percorro o labirinto,
Busco o vento.
Arranco o teu cinto,
Deixo-te sedento
Aí vejo o teu pinto
E sento!
Ana C. Pozza
Eu não minto
Eu invento
E se tomo vinho tinto
Logo me esquento!
Quando sinto,
Eu tento.
Percorro o labirinto,
Busco o vento.
Arranco o teu cinto,
Deixo-te sedento
Aí vejo o teu pinto
E sento!
Ana C. Pozza
Poesias colocadas, após orgia, sem qualquer razão
Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.
Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.
Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.
Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve a conta à botica!
Mal ganha para sopas...
O obstáculo estimula, torna-os perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.
Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais duma redacção, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.
A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.
Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho
Diverte-se na lama.
Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.
Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.
Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.
A adulação repugna aos sentimentos finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais exactos,
Os meus alexandrinos...
E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!
Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!
Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?
Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague,
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...
E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
Cesário Verde
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.
Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.
Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.
Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve a conta à botica!
Mal ganha para sopas...
O obstáculo estimula, torna-os perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.
Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais duma redacção, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.
A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.
Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho
Diverte-se na lama.
Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.
Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.
Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.
A adulação repugna aos sentimentos finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais exactos,
Os meus alexandrinos...
E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!
Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!
Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?
Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague,
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...
E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
Cesário Verde
Poesias colocadas, após orgia, sem qualquer razão
O ar tesão (nato) é o ar do artesão quando
em artesanato assim como o sol dado é o
ar do soldado quando em ar tesão.
Lit. — «não havia braço são que pudesse romper o tesão da água»,
Dic. de Marinha, 505.
«Correm as águas como sangue», id.
Mário de Cesariny
em artesanato assim como o sol dado é o
ar do soldado quando em ar tesão.
Lit. — «não havia braço são que pudesse romper o tesão da água»,
Dic. de Marinha, 505.
«Correm as águas como sangue», id.
Mário de Cesariny
Poesias colocadas, após orgia, sem qualquer razão
artur hipólito morreu com 62 an
os, 20 anos após ter feito 42, mas
na altura quem diria?
heitor fragoso morreu atropelado.
foi levado para o hospital, mas es
queceram-se duma parte do corpo
no local do acidente.
manuel testa morreu sem se ter c
onseguido habituar a este modo
de mal-estar no mundo.
arnaldo rodrigues caiu a um bur
aco da canalização e nunca mais
foi visto.
jeremias cabral pôs termo à exist
ência por motivos desconhecidos.
zeca gomes morreu em defesa da
pátria mas a pensar noutra coisa.
antónio de oliveira morreu igual
a si mesmo: triste sinal dos te
mpos!
bernardo leite pôs-se a pensar na
morte e não conseguiu voltar a
trás.
ivo gouveia tinha uma agência f
unerária e escolheu para si um
caixão representativo.
guilherme silva fechou-se no sót
ão, para morrer num lugar eleva
do.
luís dimas respirava saúde, agora
respira um hálito de eternidade.
antónio garcia, o coveiro, teve u
ma síncope e caiu dentro da cov
a que estava a abrir.
bento nogueira engasgou-se com
um pedaço de carne e desapare
ceu do nosso convívio.
paiva de jesus enforcou-se.
joão baptista viu o cunhado lev
antar-se do caixão e teve uma sí
ncope.
lourenço pinheiro estava a ver a
trovoada e um relâmpago entrou
lhe por um olho e saiu-lhe pelo
outro.
jorge velez de castro finou-se
após uma longa vida de sacrifí
cios, toda dedicada ao bem-comu
m. e foi assim: depois de ter inge
rido o seu sumo de laranja, foi c
onduzido para a cadeira de rep
ouso pelo enfermeiro de confian
ça. nela se conservou, de boca en
treaberta e olhos fechados, até
às onze horas. às onze horas, o e
nfermeiro de confiança aproxim
ou-se com a intenção de o condu
zir ao banho. pondo delicadamen
te a mão nas costas da cadeira,
disse: são horas do banho, senhor
director. como este não desse si
nal de ter ouvido, o enfermeiro
de confiança, com a costumada jo
vialidade, debruçou-se e repetiu:
são horas do banho, senhor direc
tor. posto isto, empurrou a cadei
ra até ao balneário, passou um br
aço pelos rins outro por baixo d
os joelhos do director, e assim o
levou para a água, só então se da
ndo conta de que ele já não vivia.
zé maria, o peidolas, foi expulso
da vida pela autoridade compet
ente.
joão gaspar foi um nobre e val
oroso homem que morreu heroi
camente no campo da honra. p
az à sua alma.
raul santos deitou-se um dia e p
or mais que o sacudissem nunca
mais se levantou.
alfredo penha caiu tão desastrada
mente da cama que nem é possív
el dar pormenores da sua morte.
joaquim perestrelo morreu no me
io da missa, qual quê! ainda a m
issa não ia a metade!
sousa dias morreu de pé, mas en
terraram-no deitado, como toda a
gente.
Alberto Pimenta
os, 20 anos após ter feito 42, mas
na altura quem diria?
heitor fragoso morreu atropelado.
foi levado para o hospital, mas es
queceram-se duma parte do corpo
no local do acidente.
manuel testa morreu sem se ter c
onseguido habituar a este modo
de mal-estar no mundo.
arnaldo rodrigues caiu a um bur
aco da canalização e nunca mais
foi visto.
jeremias cabral pôs termo à exist
ência por motivos desconhecidos.
zeca gomes morreu em defesa da
pátria mas a pensar noutra coisa.
antónio de oliveira morreu igual
a si mesmo: triste sinal dos te
mpos!
bernardo leite pôs-se a pensar na
morte e não conseguiu voltar a
trás.
ivo gouveia tinha uma agência f
unerária e escolheu para si um
caixão representativo.
guilherme silva fechou-se no sót
ão, para morrer num lugar eleva
do.
luís dimas respirava saúde, agora
respira um hálito de eternidade.
antónio garcia, o coveiro, teve u
ma síncope e caiu dentro da cov
a que estava a abrir.
bento nogueira engasgou-se com
um pedaço de carne e desapare
ceu do nosso convívio.
paiva de jesus enforcou-se.
joão baptista viu o cunhado lev
antar-se do caixão e teve uma sí
ncope.
lourenço pinheiro estava a ver a
trovoada e um relâmpago entrou
lhe por um olho e saiu-lhe pelo
outro.
jorge velez de castro finou-se
após uma longa vida de sacrifí
cios, toda dedicada ao bem-comu
m. e foi assim: depois de ter inge
rido o seu sumo de laranja, foi c
onduzido para a cadeira de rep
ouso pelo enfermeiro de confian
ça. nela se conservou, de boca en
treaberta e olhos fechados, até
às onze horas. às onze horas, o e
nfermeiro de confiança aproxim
ou-se com a intenção de o condu
zir ao banho. pondo delicadamen
te a mão nas costas da cadeira,
disse: são horas do banho, senhor
director. como este não desse si
nal de ter ouvido, o enfermeiro
de confiança, com a costumada jo
vialidade, debruçou-se e repetiu:
são horas do banho, senhor direc
tor. posto isto, empurrou a cadei
ra até ao balneário, passou um br
aço pelos rins outro por baixo d
os joelhos do director, e assim o
levou para a água, só então se da
ndo conta de que ele já não vivia.
zé maria, o peidolas, foi expulso
da vida pela autoridade compet
ente.
joão gaspar foi um nobre e val
oroso homem que morreu heroi
camente no campo da honra. p
az à sua alma.
raul santos deitou-se um dia e p
or mais que o sacudissem nunca
mais se levantou.
alfredo penha caiu tão desastrada
mente da cama que nem é possív
el dar pormenores da sua morte.
joaquim perestrelo morreu no me
io da missa, qual quê! ainda a m
issa não ia a metade!
sousa dias morreu de pé, mas en
terraram-no deitado, como toda a
gente.
Alberto Pimenta
sexta-feira, 29 de outubro de 2004
Como se faz um monstro
Guerra Junqueiro
I
Ele era nesse tempo uma criança loira
Vivendo na abundância agreste da lavoira,
Ao vento, à chuva, ao sol, pastoreando os gados,
Deitando-se ao luar nas pedras dos eirados,
Atravessando à noite os solitários montes,
Dormindo a boa sesta ao pé das claras fontes,
Trepando aos pinheirais, às fragas, aos barrancos,
No rijo e negro pão cravando os dentes brancos,
Radioso como a aurora e bom como a alegria.
Quando no azul do céu cantava a cotovia,
Aos primeiros clarões vibrantes da alvorada
Transportava ao casebre o leite da manada,
Acordando, a assobiar e a rir pelos caminhos,
Os lebréus nos portais e as aves nos seus ninhos.
E à tarde quando o Sol, extraordinário Rubens,
Na fantasmagoria esplêndida das nuvens,
Colorista febril, lança, desfaz, derrama
O topázio, o rubi, a prata, o oiro, a chama,
Ele ia então sozinho, alegre, intemerato,
Conduzindo a beber ao trémulo regato,
A golpes de verdasca e gritos estridentes,
Num ruidoso tropel os grandes bois pacientes.
O seu olhar azul de limpidez virtuosa,
Onde brilhava a audácia heróica e valorosa,
A candura infantil e a inteligência rara,
O timbre da sua voz imperiosa e clara,
A linha do seu corpo altivamente recta,
Tudo lhe dava o ar soberbo dum atleta
Em miniatura.
II
Um dia o pai, um bravo aldeão,
Chamou-o ao pé de si, e disse-lhe:«João:
À força de trabalho e à força de canseiras,
A moirejar no monte e a levar gado às feiras,
Consegui ajuntar ao canto do baú
Alguns pintos. Vocês são dois rapazes; tu,
Além de ser mais novo, és mais inteligente.
Vou botar-te ao latim; quero fazer-te gente.
Hás-de me dar ainda um grande pregador.
Hoje padre é melhor talvez que ser doutor.
Aquilo é grande vida; é vida regalada.
Olha, sabes que mais? manda ao diabo a enxada.
Aquilo é que é vidinha! aquilo é que é descanso!
Arrecada-se a côngrua, engrola-se o ripanço,
Arranja-se um sermão aí com quatro tretas,
Vai-se escorropichando o vinho das galhetas,
E a missa seis vinténs e doze os baptizados.
Depois, independente e sem nenhuns cuidados!
Olha, João, vê tu o nosso padre-cura:
É, sem tirar nem pôr, uma cavalgadura,
Vi-o chegar aqui mais roto que os ciganos;
Pois tem feito um casão em meia dúzia d'anos.
Isto é desenganar; padres sabem-na toda...
É o sermão, é a missa, é o enterro, é a boda.
É pinga da melhor, e tudo quanto há!
Quando o abade morrer hás-de vir tu p'ra cá.
Despacha-te o doutor nas cortes; quando não
Votamos contra ele, e foi-se-lhe a eleição.
Mas que é isso, rapaz? Nada de choradeira!
É tratar da merenda, e quinta ou sexta-feira
Toca pró seminário. Eu quero ir para a cova
Só depois de te ouvir cantar a missa nova».
III
Numa tarde d'Outono, a sonolento trote
Um macho conduzia em cima do albardão,
Já coluna da Igreja, o novo sacerdote,
O muitíssimo ilustre e digno padre João.
Ao entrarem na aldeia os dois irracionais,
Dos foguetes ao grande e jubiloso estrépito
Um velho recebeu nos braços paternais,
Em vez do alegre filho, um monstro já decrépito
Que acabava de vir das jaulas clericais.
Que transfiguração! Que radical mudança!
Em lugar da inocente, angélica criança,
Voltava um chimpanzé, estúpido e bisonho,
Com o ar de quem anda alucinadamente
Preso nas espirais diabólicas dum sonho.
Seu corpo juvenil, robusto e florescente,
Vergava para o chão, exausto de cansaço:
Os dogmas são de bronze, e a lã duma batina
Já vai pesando mais que as armaduras d'aço.
A ignorância profunda, a estupidez suína,
A luxúria d'igreja, ardente, clandestina,
O remorso, o terror, o fanatismo inquieto,
Tudo isto perpassava em turbilhão confuso
Na atonia cruel daquele hediondo aspecto,
Na morna fixidez daquele olhar obtuso.
Metida nas prisões escuras de Loiola,
A sua alma infantil, não tendo luz nem ar,
Foi como os rouxinóis, que dentro da gaiola
Perdem toda a alegria e morrem sem cantar.
IV
Como ninguém ignora, os sórdidos palhaços
Compram, roubam às mães as loiras criancinhas,
Torcem-lhes o pescoço, as mãos, os pés, os braços,
Transformam-lhes num junco elástico as espinhas,
E exibem-nas depois nos palcos das barracas,
Dando saltos mortais e devorando facas
Ante o espanto imbecil da ingénua multidão;
E para lhes cobrir a lividez plangente
Costumam-lhes pintar carnavalescamente
Na face de alvaiade, um rir de vermelhão.
Também o jesuitismo hipócrita-romano,
Palhaço clerical, anda pelos caminhos
A comprar, a furtar, assim como um cigano,
As crianças às mães, os rouxinóis aos ninhos.
Vão levá-las depois ao negro seminário,
Às terríveis galés, ao sacro matadoiro,
E escondem-nas da luz, assim como o usurário
Esconde também dela os seus punhados d'oiro.
Dentro da estupidez e da superstição,
Casamata da fé, guardam-lhes a razão,
A análise, esse forte e venenoso fluido,
Que, andando em liberdade, ao mínimo descuido
Poderia estoirar com trágica explosão.
O que o palhaço faz ao corpo da criança,
Fazem-lho à alma, até que dela reste enfim,
Em lugar do histrião que nas barracas dança,
O pobre missionário, o inútil manequim,
O histrião que nos prega a bem-aventurança
A murros de missal e a roncos de latim.
As almas infantis são brandas como a neve,
São pérolas de leite em urnas virginais:
Tudo quanto se grava e quanto ali se escreve,
Cristaliza em seguida e não se apaga mais.
Desta forma, consegue o astucioso clero
Transformar, de repente, uma criança loira
Num pássaro nocturno estúpido e sincero.
É abrir-lhe na cabeça a golpes de tesoira
A marca industrial do fabricante um zero!
En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho
tiempo que vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua,
rocín flaco y galgo corredor. Una olla de algo más vaca que carnero,
salpicón las más noches, duelos y quebrantos los sábados, lantejas los
viernes, algún palomino de añadidura los domingos, consumían las tres
partes de su hacienda. El resto della concluían sayo de velarte, calzas de
velludo para las fiestas, con sus pantuflos de lo mesmo, y los días de
entresemana se honraba con su vellorí de lo más fino. Tenía en su casa una
ama que pasaba de los cuarenta, y una sobrina que no llegaba a los veinte,
y un mozo de campo y plaza, que así ensillaba el rocín como tomaba la
podadera. Frisaba la edad de nuestro hidalgo con los cincuenta años; era de
complexión recia, seco de carnes, enjuto de rostro, gran madrugador y amigo
de la caza. Quieren decir que tenía el sobrenombre de Quijada, o Quesada,
que en esto hay alguna diferencia en los autores que deste caso escriben;
aunque, por conjeturas verosímiles, se deja entender que se llamaba
Quejana. Pero esto importa poco a nuestro cuento; basta que en la narración
dél no se salga un punto de la verdad.
Es, pues, de saber que este sobredicho hidalgo, los ratos que estaba
ocioso, que eran los más del año, se daba a leer libros de caballerías, con
tanta afición y gusto, que olvidó casi de todo punto el ejercicio de la
caza, y aun la administración de su hacienda. Y llegó a tanto su curiosidad
y desatino en esto, que vendió muchas hanegas de tierra de sembradura para
comprar libros de caballerías en que leer, y así, llevó a su casa todos
cuantos pudo haber dellos; y de todos, ningunos le parecían tan bien como
los que compuso el famoso Feliciano de Silva, porque la claridad de su
prosa y aquellas entricadas razones suyas le parecían de perlas, y más
cuando llegaba a leer aquellos requiebros y cartas de desafíos, donde en
muchas partes hallaba escrito: La razón de la sinrazón que a mi razón se
hace, de tal manera mi razón enflaquece, que con razón me quejo de la
vuestra fermosura. Y también cuando leía: ...los altos cielos que de
vuestra divinidad divinamente con las estrellas os fortifican, y os hacen
merecedora del merecimiento que merece la vuestra grandeza.
Con estas razones perdía el pobre caballero el juicio, y desvelábase por
entenderlas y desentrañarles el sentido, que no se lo sacara ni las
entendiera el mesmo Aristóteles, si resucitara para sólo ello. No estaba
muy bien con las heridas que don Belianís daba y recebía, porque se
imaginaba que, por grandes maestros que le hubiesen curado, no dejaría de
tener el rostro y todo el cuerpo lleno de cicatrices y señales. Pero, con
todo, alababa en su autor aquel acabar su libro con la promesa de aquella
inacabable aventura, y muchas veces le vino deseo de tomar la pluma y dalle
fin al pie de la letra, como allí se promete; y sin duda alguna lo hiciera,
y aun saliera con ello, si otros mayores y continuos pensamientos no se lo
estorbaran. Tuvo muchas veces competencia con el cura de su lugar -que era
hombre docto, graduado en Sigüenza-, sobre cuál había sido mejor caballero:
Palmerín de Ingalaterra o Amadís de Gaula; mas maese Nicolás, barbero del
mesmo pueblo, decía que ninguno llegaba al Caballero del Febo, y que si
alguno se le podía comparar, era don Galaor, hermano de Amadís de Gaula,
porque tenía muy acomodada condición para todo; que no era caballero
melindroso, ni tan llorón como su hermano, y que en lo de la valentía no le
iba en zaga.
En resolución, él se enfrascó tanto en su letura, que se le pasaban las
noches leyendo de claro en claro, y los días de turbio en turbio; y así,
del poco dormir y del mucho leer, se le secó el celebro, de manera que vino
a perder el juicio.
De que modo os príncipes devem cumprir a sua palavra
Todos sabem quão louvável é um príncipe ser fiel à sua palavra e proceder com integridade e não com astúcia; contudo, a experiência mostra que só nos nossos tempos fizeram grandes coisas aqueles príncipes que tiveram em pouca conta as promessas feitas e que, com astúcia, souberam transtornar as cabeças dos homens; e por fim superaram os que se fundaram na sua lealdade.
Deve saber-se que há dois modos de vencer um com as leis, outro com a força: o primeiro é próprio dos homens, o segundo dos animais; mas porque muitas vezes o primeiro não basta, convém recorrer ao segundo. Portanto é necessário a um príncipe que seja ao mesmo tempo homem e animal. Os antigos escritores ensinaram encobertamente isto mesmo aos príncipes, escrevendo que Aquiles e muitos outros príncipes antigos foram dados a educar a Quíron centauro para que os guardasse sob a sua disciplina. E ter por preceptor um ser, meio animal, meio homem, outra coisa não significa senão que um príncipe deve saber usar duma e doutra natureza e que uma sem a outra não é durável.
Achando-se, portanto, um príncipe na necessidade de saber proceder como animal, deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não sabe defender-se dos laços, nem a raposa dos lobos. E preciso, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para espantar os lobos. Os que tomam simplesmente a parte de leão não entendem palavra. Não pode, nem deve, portanto, um homem prudente guardar a palavra dada, quando o seu cumprimento se volte contra ele e quando já não existem as causas que o fizeram prometer. Não seria bom este preceito se todos os homens fossem bons; mas como são maus e em igual caso eles não cumpririam contigo, tu também não deves cumprir com eles. Nem nunca faltaram a um príncipe razões para colorir a sua falta à palavra. Disto se poderiam dar infinitos exemplos modernos e mostrar quantas pazes, quantas promessas ficaram írritas e nulas pela falta de palavra dos príncipes; aquele que melhor soube proceder como a raposa, melhor se houve. Mas é necessário saber bem colorir esta natureza e ser grande simulador e dissimulador: os homens são tão simples e obedecem tanto às necessidades presentes que quem engana achará sempre quem se deixe enganar.
Não posso resistir a contar um exemplo dentre os recentes. Alexandre VI não fez outra coisa nem pensou noutra coisa que não fosse enganar os homens e sempre encontrou objecto para poder fazê-lo; nem nunca existiu homem que afirmasse com maior eficácia e assegurasse uma coisa com mais juramentos e que menos a observasse; contudo os enganos saíram-lhe sempre ad votum, porque conhecia bem a arte de enganar.
Por conseguinte, não é necessário que um príncipe possua todas as qualidades mencionadas, mas convém que aparente tê-las. Atrever-me-ei a dizer antes que, tê-las e observá-las sempre, é prejudicial e que aparentar tê-las é útil: como parecer piedoso, fiel, humano, íntegro, religioso, etc., mas ter sempre o ânimo preparado para, na altura que convenha, tu poderes e saberes fazer o contrário.
Deve ter-se presente que um príncipe, e sobretudo um príncipe novo, não pode observar todas aquelas coisas pelas quais os homens têm fama de bons, tendo mesmo necessidade, para manter o Estado, de proceder contra a fé, contra a caridade, contra a humanidade, contra a religião. E preciso mesmo que tenha o ânimo disposto a mudar segundo o que lhe mandem os ventos e as variações da fortuna e, como acima disse, não se separar do bem podendo fazê-lo, mas saber entrar no mal se for necessário.
quarta-feira, 27 de outubro de 2004
acerca do Professor Marcelo
Pregava Santo António em Itália na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o povo a se levantar contra ele e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés a que se não pegou nada da terra não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a prudência ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh maravilhas do Altíssimo! Oh poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam.
Sermão de Santo Antonio
Pe. Antonio Vieira
Pregado em S. Luís do Maranhão, três dias antes de se embarcar ocultamente para o Reino
Sermão de Santo Antonio
Pe. Antonio Vieira
Pregado em S. Luís do Maranhão, três dias antes de se embarcar ocultamente para o Reino
Sobre as guerras
Cante a guerra quem for arrenegado,
Que eu nem palavra gastarei com ele;
Minha Musa será sem par canela
Co'um felpudo coninho abraseado:
Aqui descreverei com arreitado
N'um mar de bimbas navegando à vela,
Cheguei, propício o vento, à doce, àquela
Enseada d'Amor, rei coroado:
Direi também os beijos sussurrantes,
Os intrincados nós das línguas ternas,
E o aturado fungar de dois amantes :
Estas glórias serão na fama eternas;
Às minhas cinzas me farão descantes
Fêmeos vindouros, alargando as pernas
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Que eu nem palavra gastarei com ele;
Minha Musa será sem par canela
Co'um felpudo coninho abraseado:
Aqui descreverei com arreitado
N'um mar de bimbas navegando à vela,
Cheguei, propício o vento, à doce, àquela
Enseada d'Amor, rei coroado:
Direi também os beijos sussurrantes,
Os intrincados nós das línguas ternas,
E o aturado fungar de dois amantes :
Estas glórias serão na fama eternas;
Às minhas cinzas me farão descantes
Fêmeos vindouros, alargando as pernas
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Este aviso do além, do Brel para que Ministro(a) é?
Même si un jour à Knocke-le-Zoute
Je deviens comme je le redoute
Chanteur pour femmes finissantes
Que je leur chante " Mi Corazon "
Avec la voix bandonéante
D'un Argentin de Carcassonne
Même si on m'appelle Antonio
Que je brûle mes derniers feux
En échange de quelques cadeaux
Madame je fais ce que je peux
Même si je me saoule à l'hydromel
Pour mieux parler de virilité
A des mémères décorées
Comme des arbres de Noël
Je sais qu' dans ma saoulographie
Chaque nuit pour des éléphants roses
Je chanterai la chanson morose
Celle du temps où je m'appelais Jacky
Refrain
Etre une heure, une heure seulement
Etre une heure, une heure quelquefois
Etre une heure, rien qu'une heure durant
Beau, beau, beau et con à la fois
Même si un jour à Macao
Je deviens gouverneur de tripot
Cerclé de femmes languissantes
Même si lassé d'être chanteur
J'y sois devenu maître chanteur
Et que ce soit les autres qui chantent
Même si on m'appelle le beau Serge
Que je vende des bateaux d'opium
Du whisky de Clermont-Ferrand
De vrais pédés de fausses vierges
Que j'aie une banque à chaque doigt
Et un doigt dans chaque pays
Que chaque pays soit à moi
Je sais quand même que chaque nuit
Tout seul au fond de ma fumerie
Pour un public de vieux Chinois
Je rechanterai ma chanson à moi
Celle du temps où je m'appelais Jacky
Même si un jour au Paradis
Je deviens comme j'en serais surpris
Chanteur pour femmes à ailes blanches
Que je leur chante Alléluia
En regrettant le temps d'en bas
Où c'est pas tous les jours dimanche
Même si on m'appelle Dieu le Père
Celui qui est dans l'annuaire
Entre Dieulefit et Dieu vous garde
Même si je me laisse pousser la barbe
Même si toujours trop bonne pomme
Je me crève le coeur et le pur esprit
A vouloir consoler les hommes
Je sais quand même que chaque nuit
J'entendrai dans mon
Paradis Les anges, les Saints et Lucifer
Me chanter la chanson de naguère
Celle du temps où je m'appelais Jacky
Je deviens comme je le redoute
Chanteur pour femmes finissantes
Que je leur chante " Mi Corazon "
Avec la voix bandonéante
D'un Argentin de Carcassonne
Même si on m'appelle Antonio
Que je brûle mes derniers feux
En échange de quelques cadeaux
Madame je fais ce que je peux
Même si je me saoule à l'hydromel
Pour mieux parler de virilité
A des mémères décorées
Comme des arbres de Noël
Je sais qu' dans ma saoulographie
Chaque nuit pour des éléphants roses
Je chanterai la chanson morose
Celle du temps où je m'appelais Jacky
Refrain
Etre une heure, une heure seulement
Etre une heure, une heure quelquefois
Etre une heure, rien qu'une heure durant
Beau, beau, beau et con à la fois
Même si un jour à Macao
Je deviens gouverneur de tripot
Cerclé de femmes languissantes
Même si lassé d'être chanteur
J'y sois devenu maître chanteur
Et que ce soit les autres qui chantent
Même si on m'appelle le beau Serge
Que je vende des bateaux d'opium
Du whisky de Clermont-Ferrand
De vrais pédés de fausses vierges
Que j'aie une banque à chaque doigt
Et un doigt dans chaque pays
Que chaque pays soit à moi
Je sais quand même que chaque nuit
Tout seul au fond de ma fumerie
Pour un public de vieux Chinois
Je rechanterai ma chanson à moi
Celle du temps où je m'appelais Jacky
Même si un jour au Paradis
Je deviens comme j'en serais surpris
Chanteur pour femmes à ailes blanches
Que je leur chante Alléluia
En regrettant le temps d'en bas
Où c'est pas tous les jours dimanche
Même si on m'appelle Dieu le Père
Celui qui est dans l'annuaire
Entre Dieulefit et Dieu vous garde
Même si je me laisse pousser la barbe
Même si toujours trop bonne pomme
Je me crève le coeur et le pur esprit
A vouloir consoler les hommes
Je sais quand même que chaque nuit
J'entendrai dans mon
Paradis Les anges, les Saints et Lucifer
Me chanter la chanson de naguère
Celle du temps où je m'appelais Jacky
terça-feira, 26 de outubro de 2004
Mensagem do além para o Sr. Ministro da Defesa , Dr. Paulo Portas do José Afonso.
Gastão era perfeito
Conduzido por seu dono
Em sanolências afeito
Às picadas dos mosquitos
Era Gastão milionário
Vivia em tapetes raros
Se lhe viravam as costas
Chamava logo a polícia
Em crises de malquerência
Vinha-lhe o gosto pela soda
Mas ninguém se abespinhava
Que enviuvasse às ocultas
Nem Gastão se apercebia
De quanto a vida o prendara
Entre estiletes de prata
E colchas de seda fina
Gastão era deste jeito
Fazia provas reais
Gastão era um parapeito
De Papas e Cardeais
Vinha-lhe só por fastio
Nos tiquetaques da vida
Um solene desfastio
Pela mãe que era entrevada
Mandava bombons recados
Por mensageiros aflitos
Não fora Gastão dos fracos
E já seria ministro
Conheci-o em Alverca
Num bidon de gasolina
Tinha um pneu às avessas
Mas de asma é que sofria
Nos solestícios de Junho
A quem o quisesse ouvir
Dizia que era sobrinho
Do Fernão Peres de Trava
Querem saber de Gastão?
Vão ao Palácio da Pena
Usa agora capachinho
E gosta de codornizes
Tem um sinal que o indica
Como o mais forte Doutor
Espeta o dedo no queixo
E diz que é Nosso Senhor
Conduzido por seu dono
Em sanolências afeito
Às picadas dos mosquitos
Era Gastão milionário
Vivia em tapetes raros
Se lhe viravam as costas
Chamava logo a polícia
Em crises de malquerência
Vinha-lhe o gosto pela soda
Mas ninguém se abespinhava
Que enviuvasse às ocultas
Nem Gastão se apercebia
De quanto a vida o prendara
Entre estiletes de prata
E colchas de seda fina
Gastão era deste jeito
Fazia provas reais
Gastão era um parapeito
De Papas e Cardeais
Vinha-lhe só por fastio
Nos tiquetaques da vida
Um solene desfastio
Pela mãe que era entrevada
Mandava bombons recados
Por mensageiros aflitos
Não fora Gastão dos fracos
E já seria ministro
Conheci-o em Alverca
Num bidon de gasolina
Tinha um pneu às avessas
Mas de asma é que sofria
Nos solestícios de Junho
A quem o quisesse ouvir
Dizia que era sobrinho
Do Fernão Peres de Trava
Querem saber de Gastão?
Vão ao Palácio da Pena
Usa agora capachinho
E gosta de codornizes
Tem um sinal que o indica
Como o mais forte Doutor
Espeta o dedo no queixo
E diz que é Nosso Senhor
segunda-feira, 25 de outubro de 2004
Aviso, do alem, do O´Neill ao Sr. Primeiro Ministro
Fala
Fala a sério e fala no gozo
Fá-la pela calada e fala claro
Fala deveras saboroso
Fala barato e fala caro
Fala ao ouvido fala ao coração
Falinhas mansas ou palavrão
Fala à miúda mas fá-la bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe
Fala francês fala béu-béu
Fala fininho e fala grosso
Desentulha a garganta levanta o percoço
Fala como se falar fosse andar
Fala com elegância - muito e devagar
Fala a sério e fala no gozo
Fá-la pela calada e fala claro
Fala deveras saboroso
Fala barato e fala caro
Fala ao ouvido fala ao coração
Falinhas mansas ou palavrão
Fala à miúda mas fá-la bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe
Fala francês fala béu-béu
Fala fininho e fala grosso
Desentulha a garganta levanta o percoço
Fala como se falar fosse andar
Fala com elegância - muito e devagar
1 ENTÃO Jesus, tomando a palavra, tornou a falar-lhes em parábolas, dizendo:
2 O reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho;
3 E enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas, e estes não quiseram vir.
4 Depois, enviou outros servos, dizendo: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto; vinde às bodas.
5 Eles, porém, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, outro para o seu tráfico;
6 E os outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram.
7 E o rei, tendo notícia disto, encolerizou-se e, enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade.
8 Então diz aos servos: As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos.
9 Ide, pois, às saídas dos caminhos, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes.
10 E os servos, saindo pelos caminhos, ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa nupcial foi cheia de convidados.
11 E o rei, entrando para ver os convidados, viu ali um homem que não estava trajado com veste de núpcias.
12 E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial? E ele emudeceu.
13 Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.
14 Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.
15 Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam nalguma palavra;
16 E enviaram-lhe os seus discípulos, com os herodianos, dizendo: Mestre, bem sabemos que és verdadeiro, e ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens.
17 Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não?
18 Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas?
19 Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro.
20 E ele diz-lhes: De quem é esta efígie e esta inscrição?
21 Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
22 E eles, ouvindo isto, maravilharam-se, e, deixando-o, se retiraram.
domingo, 24 de outubro de 2004
sábado, 23 de outubro de 2004
Um sonho de Bagão Félix...ou seria da Ferreira Leite ?
1 E ACONTECEU que, ao fim de dois anos inteiros, Faraó sonhou, e eis que estava em pé junto ao rio.
2 E eis que subiam do rio sete vacas, formosas à vista e gordas de carne, e pastavam no prado.
3 E eis que subiam do rio após elas outras sete vacas, feias à vista e magras de carne; e paravam junto às outras vacas na praia do rio.
4 E as vacas feias à vista e magras de carne, comiam as sete vacas formosas à vista e gordas. Então acordou Faraó.
5 Depois dormiu e sonhou outra vez, e eis que brotavam de um mesmo pé sete espigas cheias e boas.
6 E eis que sete espigas miúdas, e queimadas do vento oriental, brotavam após elas.
7 E as espigas miúdas devoravam as sete espigas grandes e cheias. Então acordou Faraó, e eis que era um sonho.
8 E aconteceu que pela manhã o seu espírito perturbou-se, e enviou e chamou todos os adivinhadores do Egito, e todos os seus sábios; e Faraó contou-lhes os seus sonhos, mas ninguém havia que lhos interpretasse.
2 E eis que subiam do rio sete vacas, formosas à vista e gordas de carne, e pastavam no prado.
3 E eis que subiam do rio após elas outras sete vacas, feias à vista e magras de carne; e paravam junto às outras vacas na praia do rio.
4 E as vacas feias à vista e magras de carne, comiam as sete vacas formosas à vista e gordas. Então acordou Faraó.
5 Depois dormiu e sonhou outra vez, e eis que brotavam de um mesmo pé sete espigas cheias e boas.
6 E eis que sete espigas miúdas, e queimadas do vento oriental, brotavam após elas.
7 E as espigas miúdas devoravam as sete espigas grandes e cheias. Então acordou Faraó, e eis que era um sonho.
8 E aconteceu que pela manhã o seu espírito perturbou-se, e enviou e chamou todos os adivinhadores do Egito, e todos os seus sábios; e Faraó contou-lhes os seus sonhos, mas ninguém havia que lhos interpretasse.
Acerca da soneca do Snr. Primeiro Ministro
Já que temos uma forte componente cristã no nosso governo
Qual das frases Biblicas melhor explica a soneca ?
Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir. (Eclesiastes 5 : 12)
E, estando um certo jovem, por nome Êutico, assentado numa janela, caiu do terceiro andar, tomado de um sono profundo que lhe sobreveio durante o extenso discurso de Paulo; e foi levantado morto. (Atos 20 : 9)
Então temeram os marinheiros, e clamavam cada um ao seu deus, e lançaram ao mar as cargas, que estavam no navio, para o aliviarem do seu peso; Jonas, porém, desceu ao porão do navio, e, tendo-se deitado, dormia um profundo sono. (Jonas 1 : 5)
Qual das frases Biblicas melhor explica a soneca ?
Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir. (Eclesiastes 5 : 12)
E, estando um certo jovem, por nome Êutico, assentado numa janela, caiu do terceiro andar, tomado de um sono profundo que lhe sobreveio durante o extenso discurso de Paulo; e foi levantado morto. (Atos 20 : 9)
Então temeram os marinheiros, e clamavam cada um ao seu deus, e lançaram ao mar as cargas, que estavam no navio, para o aliviarem do seu peso; Jonas, porém, desceu ao porão do navio, e, tendo-se deitado, dormia um profundo sono. (Jonas 1 : 5)
De como o Camilo conhecia bem os portuenses...
Era o doutor amigo íntimo da família, pertencia ao conselho tutelar da órfã, curava dos negócios litigiosos do brasileiro e podia muito na casa, dominando a vontade do dono, que se fiava dele, mais seguro que em si próprio. Trinta e oito anos teria Anselmo. Em conta o haviam de homem exemplar em todas as qualidades boas, excepto na jurisprudência, em que era ignorante mais que o ordinário. Isso, porém, não lhe danificava o bom nome. Os seus muitos apologistas, se duvidavam dar-lhe procuração para os representar no foro, sobejamente o indemnizavam, confiando-lhes mulheres, filhas e - o que mais é no Porto - o dinheiro
No CORAÇÃO, CABEÇA E ESTÔMAGO do Camilo
No CORAÇÃO, CABEÇA E ESTÔMAGO do Camilo
terça-feira, 19 de outubro de 2004
E os descendentes param no Café Velasquez ou no Bom Dia.....
Interrompa-se a apóstrofe, e desenhemos as proeminências morais características destes sujeitos invocados a conferir e alvidrar num pleito de honra.
O Sr. Atanásio tem quarenta e oito anos, é capitalista, casado, sócio que foi de molhados com o Sr. Fialho, bom vizinho, cidadão pacífico, e aos costumes disse nada. Porém, o povo reza que ele, apanhando em flagrante a esposa numa excursão filarmônica às esferas sonorosas com um caixeiro, tão duro e miúdo tocara o compasso no caixeiro com a batuta de uma tranca, que o rapaz expulso a coices chegou à terra natal e expirou oito dias depois, contando o segredo a sua família.
A esposa de Atanásio, depois de encerrar-se quinze dias no seu quarto, viu abrir-se a porta à força, fez o ato de contrição para morrer cristãmente, e ia expirar de pavor, quando o marido lhe abriu os braços e disse: "Estás perdoada; mas, se fazes outra, escavaco-te". Desde então o porte desta senhora reduz as Fúlvias e Marcelas a condições indignas dos gabos históricos. Pecadora que passe por ela é visão que a enjoa e adoenta. As filhas, quando a escutam discretar em virtudes, cuidam que sua mãe é uma mulher da Bíblia.
Quanto a probidade mercantil, Atanásio José da Silva é contrabandista, e, algum tempo, ia mensalmente à estalagem da Ponta-da-Pedra, em três carruagens de recreio, com sua família e as famílias dos dois amigos presentes, receber cortes de seda, cambraias, rendas e pelames ingleses. Conforme à justiça e às manhas do Porto, a firma de Atanásio é das mais acreditadas na praça, e as gazetas, quando escrevem Atanásio José da Silva, antepõem-lhe ao nome os adjetivos honrado e probo; e, se acontece ir para Caldas ou praias com a mulher, vai sempre o "honrado capitalista com sua virtuosa esposa".
Pantaleão Mendes Guimarães, quarenta e cinco anos, capitalista, armador, antigo negreiro e "engajador" moderno. Há doze anos que uma frescassa loureira, chamada Francisca Ruiva, lhe coou filtros cupidíneos através das enxúndias do peito, e lhe atorresmou os toicinhos da alma. Pantaleão trasladou do bordel às alcatifas de sua casa a Ruiva saudosa do lundum chorado, investiu-a da governança da despensa, e mais tarde esposou-a, no intento de condecorar socialmente a lama que trouxera do alcouce. E, de feito, D. Francisca Mendes, neste ano de 1847, já logrou a satisfação de se ver também caluniada de "esposa virtuosa" nas gazetas.
Joaquim Antônio Bernardo, negociante por atacado de fazendas brancas, quarenta e um anos, estúpido perversíssimo, antigo gandaieiro, que passara uma doce mocidade subtraindo açúcar mascavo das caixas expostas no Terreiro do Paço, e atual irmão da Misericórdia do Porto e fiscal da mesma. Casou com a mais desbragada polha que deu a Maia, e arreou-a de veludos e cetins para a passear nas praças do Porto com a gáudio dum cornaca vaidoso que expõe o seu elefante ajaezado bizarramente. Esta Lais de trapeira, quando passa espeitorada, recende e trescala o fartum das excreções cutâneas.
Não obstante, a sua recâmara não inveja à de Lésbia o cevo de delícias em que a maiata, Circe digna dos javardos que a esfoçam, ganhou renome que bastaria a felicitar três colarejas. Esta dama já se viu, num periódico, em que se dava conta dum seu baile, nomeada de "ilustre e distinta". Ambos os epítetos lhe quadravam, ocultos os substantivos. Não o tratavam de virtuosa, porque o localista receou que o termo, revendo ironia, lhe fechasse as portas do seguinte baile.
Eis aqui muito em escorço esboçados os traços dos três amigos de Hermenegildo Fialho Barrosas.
Os Brilhantes do Brasileiro do Camilo.....
O Sr. Atanásio tem quarenta e oito anos, é capitalista, casado, sócio que foi de molhados com o Sr. Fialho, bom vizinho, cidadão pacífico, e aos costumes disse nada. Porém, o povo reza que ele, apanhando em flagrante a esposa numa excursão filarmônica às esferas sonorosas com um caixeiro, tão duro e miúdo tocara o compasso no caixeiro com a batuta de uma tranca, que o rapaz expulso a coices chegou à terra natal e expirou oito dias depois, contando o segredo a sua família.
A esposa de Atanásio, depois de encerrar-se quinze dias no seu quarto, viu abrir-se a porta à força, fez o ato de contrição para morrer cristãmente, e ia expirar de pavor, quando o marido lhe abriu os braços e disse: "Estás perdoada; mas, se fazes outra, escavaco-te". Desde então o porte desta senhora reduz as Fúlvias e Marcelas a condições indignas dos gabos históricos. Pecadora que passe por ela é visão que a enjoa e adoenta. As filhas, quando a escutam discretar em virtudes, cuidam que sua mãe é uma mulher da Bíblia.
Quanto a probidade mercantil, Atanásio José da Silva é contrabandista, e, algum tempo, ia mensalmente à estalagem da Ponta-da-Pedra, em três carruagens de recreio, com sua família e as famílias dos dois amigos presentes, receber cortes de seda, cambraias, rendas e pelames ingleses. Conforme à justiça e às manhas do Porto, a firma de Atanásio é das mais acreditadas na praça, e as gazetas, quando escrevem Atanásio José da Silva, antepõem-lhe ao nome os adjetivos honrado e probo; e, se acontece ir para Caldas ou praias com a mulher, vai sempre o "honrado capitalista com sua virtuosa esposa".
Pantaleão Mendes Guimarães, quarenta e cinco anos, capitalista, armador, antigo negreiro e "engajador" moderno. Há doze anos que uma frescassa loureira, chamada Francisca Ruiva, lhe coou filtros cupidíneos através das enxúndias do peito, e lhe atorresmou os toicinhos da alma. Pantaleão trasladou do bordel às alcatifas de sua casa a Ruiva saudosa do lundum chorado, investiu-a da governança da despensa, e mais tarde esposou-a, no intento de condecorar socialmente a lama que trouxera do alcouce. E, de feito, D. Francisca Mendes, neste ano de 1847, já logrou a satisfação de se ver também caluniada de "esposa virtuosa" nas gazetas.
Joaquim Antônio Bernardo, negociante por atacado de fazendas brancas, quarenta e um anos, estúpido perversíssimo, antigo gandaieiro, que passara uma doce mocidade subtraindo açúcar mascavo das caixas expostas no Terreiro do Paço, e atual irmão da Misericórdia do Porto e fiscal da mesma. Casou com a mais desbragada polha que deu a Maia, e arreou-a de veludos e cetins para a passear nas praças do Porto com a gáudio dum cornaca vaidoso que expõe o seu elefante ajaezado bizarramente. Esta Lais de trapeira, quando passa espeitorada, recende e trescala o fartum das excreções cutâneas.
Não obstante, a sua recâmara não inveja à de Lésbia o cevo de delícias em que a maiata, Circe digna dos javardos que a esfoçam, ganhou renome que bastaria a felicitar três colarejas. Esta dama já se viu, num periódico, em que se dava conta dum seu baile, nomeada de "ilustre e distinta". Ambos os epítetos lhe quadravam, ocultos os substantivos. Não o tratavam de virtuosa, porque o localista receou que o termo, revendo ironia, lhe fechasse as portas do seguinte baile.
Eis aqui muito em escorço esboçados os traços dos três amigos de Hermenegildo Fialho Barrosas.
Os Brilhantes do Brasileiro do Camilo.....
Engraçado como me faz lembrar alguns dos nossos ministros.
É curioso observar quantos homens públicos do nosso país têm esta aparência apagada, vazia, vaga, abstracta, sonâmbula; e, todavia, eu que pelo Conde fui admitido a conhecê-los, sei quanto génio habita em segredo naquelas cabeças calvas ou cabeludas, a que os superficiais, não lhes conhecendo as secretas riquezas, acham um aspecto alvar. É que nós somos uma raça reservada, inimiga da ostentação e das atitudes: ao inverso dos franceses, que mal têm uma ponta de talento, tratam de o fazer brilhar, reluzir, deslumbrar, nós, com vastidões de génio no interior, desprezamos estas demonstrações vaidosas e guardamos para nós mesmos as nossas riquezas intelectuais. Assim faz o árabe, que cerca os seus jardins deliciosos e as suas habitações douradas de um muro negro de pedra e lama, de modo que se julga ver uma cabana onde realmente existe uma Alhambra! Mas não somos nós de raça árabe?
Por isso nunca o Conselheiro Gama Torres se dignou fazer à Bandeira Nacional a esmola de uma ideia. Deu-lhe, porém, a protecção do seu nome; dizia-se «a Bandeira do Gama Torres» e isto trazia ao jornal uma autoridade imprevista.
Muitas vezes, segundo me contou o Conde, durante os meses de Estio em que a política, refugiada na sombra das quintas ou na frescura das praias, dormita, o redactor da Bandeira, sem assunto para o seu artigo de fundo, recorria ao génio do Conselheiro, como um pobre envergonhado. Gama Torres, porém, colocando-se no meio da casa, as pernas afastadas, o ventre saliente, as mãos atrás das costas, fitava o soalho e.23 bamboleando o crânio fecundo, murmurava surdamente:
– Ele há muitas questões!... Há questões terríveis. Há a prostituição... o pauperismo... Ele há muitas questões...
Mas, repito-o, era um avaro intelectual que não gostava de fazer a esmola de uma ideia. Não o censuro, pois é sabido que ele dava todo o seu tempo e todo o seu génio às grandes questões sociais. Elas preocupavam-no tanto que era usual – sempre que diante dele se falava de assuntos políticos – ouvi-lo murmurar soturnamente:
– Ele há muitas questões! Questões terríveis: o pauperismo, a prostituição! São grandes questões! Questões terríveis!
Do Conde D´Abranhos do Eça.
Por isso nunca o Conselheiro Gama Torres se dignou fazer à Bandeira Nacional a esmola de uma ideia. Deu-lhe, porém, a protecção do seu nome; dizia-se «a Bandeira do Gama Torres» e isto trazia ao jornal uma autoridade imprevista.
Muitas vezes, segundo me contou o Conde, durante os meses de Estio em que a política, refugiada na sombra das quintas ou na frescura das praias, dormita, o redactor da Bandeira, sem assunto para o seu artigo de fundo, recorria ao génio do Conselheiro, como um pobre envergonhado. Gama Torres, porém, colocando-se no meio da casa, as pernas afastadas, o ventre saliente, as mãos atrás das costas, fitava o soalho e.23 bamboleando o crânio fecundo, murmurava surdamente:
– Ele há muitas questões!... Há questões terríveis. Há a prostituição... o pauperismo... Ele há muitas questões...
Mas, repito-o, era um avaro intelectual que não gostava de fazer a esmola de uma ideia. Não o censuro, pois é sabido que ele dava todo o seu tempo e todo o seu génio às grandes questões sociais. Elas preocupavam-no tanto que era usual – sempre que diante dele se falava de assuntos políticos – ouvi-lo murmurar soturnamente:
– Ele há muitas questões! Questões terríveis: o pauperismo, a prostituição! São grandes questões! Questões terríveis!
Do Conde D´Abranhos do Eça.
Esta tambem não escapava ao DIAP.
Moralmente, Bracolletti é um hábil. Nasceu em Esmirna de pais gregos; é tudo o que ele revela: de resto, quando se lhe pergunta pelo seu passado, o bom grego rola um momento a cabeça de ombro a ombro, esconde sob as pálpebras cerradas com bonomia o seu olho maometano, desabrocha o sorriso de uma doçura a tentar abelhas, e murmura, como afogado em bondade e em enternecimento:
— Eh! mon Dieu! Eh! mon Dieu!... Nada mais. Parece, porém, que viajou — porque conhece o Peru, a Crimeia, o cabo da Boa Esperança, os países exóticos, tão bem como Regent Street: mas é evidente para todos que a sua existência não foi tecida, como a dos vulgares aventureiros do Levante, de ouro e estopa, de esplendores e pelintrices: é um gordo e, portanto, um prudente: o seu magnífico solitário nunca deixou de lhe brilhar no dedo: nenhum frio jamais o surpreendeu sem uma peliça de dois mil francos: e nunca deixa de ganhar, todas as semanas, no Fraternal Club, de que é um membro querido, dez libras ao whist. É um forte.
Mas tem uma debilidade. É singularmente guloso de rapariguinhas de doze a catorze anos: gosta delas magrinhas, muito louras, e com o hábito de praguejar. Colecciona -as pelos bairros pobres de Londres, com método. Instala -as em casa, e ali as tem, como passarinhos na gaiola, metendo-lhes a papinha no bico, ouvindo-as palrar todo baboso, animando-as a que lhe roubem os xelins da algibeira, gozando o desenvolvimento dos vícios naquelas flores da lama de Londres, pondo-lhes ao alcance as garrafas de gin para que os anjinhos se embebedem e quando alguma, excitada de álcool, de cabelo ao, vento e face acesa, o injuria, o arrepela, baba obscenidades, o bom Bracolletti, encruzado no sofá, de mãos beatamente cruzadas na pança, o olhar afogado em êxtase, murmura no seu italiano da costa síria:
— Piccolina! Gentilleta! Querido Bracolletti! Foi realmente com prazer que o abracei, nessa noite. em Charing Cross: e como nos não víamos há muito, fomos cear juntos ao restaurante. O criado triste lá estava no seu comptoir, curvado sobre o « Journal des Débats». E apenas Bracolletti apareceu, na sua majestade de obeso, o homem estendeu-lhe silenciosamente a mão, foi um shake-hands solene, enternecido e sincero.
É dos contos do Eça (um poeta lírico)
— Eh! mon Dieu! Eh! mon Dieu!... Nada mais. Parece, porém, que viajou — porque conhece o Peru, a Crimeia, o cabo da Boa Esperança, os países exóticos, tão bem como Regent Street: mas é evidente para todos que a sua existência não foi tecida, como a dos vulgares aventureiros do Levante, de ouro e estopa, de esplendores e pelintrices: é um gordo e, portanto, um prudente: o seu magnífico solitário nunca deixou de lhe brilhar no dedo: nenhum frio jamais o surpreendeu sem uma peliça de dois mil francos: e nunca deixa de ganhar, todas as semanas, no Fraternal Club, de que é um membro querido, dez libras ao whist. É um forte.
Mas tem uma debilidade. É singularmente guloso de rapariguinhas de doze a catorze anos: gosta delas magrinhas, muito louras, e com o hábito de praguejar. Colecciona -as pelos bairros pobres de Londres, com método. Instala -as em casa, e ali as tem, como passarinhos na gaiola, metendo-lhes a papinha no bico, ouvindo-as palrar todo baboso, animando-as a que lhe roubem os xelins da algibeira, gozando o desenvolvimento dos vícios naquelas flores da lama de Londres, pondo-lhes ao alcance as garrafas de gin para que os anjinhos se embebedem e quando alguma, excitada de álcool, de cabelo ao, vento e face acesa, o injuria, o arrepela, baba obscenidades, o bom Bracolletti, encruzado no sofá, de mãos beatamente cruzadas na pança, o olhar afogado em êxtase, murmura no seu italiano da costa síria:
— Piccolina! Gentilleta! Querido Bracolletti! Foi realmente com prazer que o abracei, nessa noite. em Charing Cross: e como nos não víamos há muito, fomos cear juntos ao restaurante. O criado triste lá estava no seu comptoir, curvado sobre o « Journal des Débats». E apenas Bracolletti apareceu, na sua majestade de obeso, o homem estendeu-lhe silenciosamente a mão, foi um shake-hands solene, enternecido e sincero.
É dos contos do Eça (um poeta lírico)
segunda-feira, 18 de outubro de 2004
Porque diabos é que esta tambem me lembou o governo? Estaria paranoico ?
Bojudo fradalhão de larga venta
Bojudo fradalhão de larga venta,
Abismo imundo de tabaco esturro,
Doutor na asneira, na ciência burro,
Com barba hirsuta, que no peito assenta:
No púlpito um domingo se apresenta;
Pregas nas grades espantoso murro;
E acalmado do povo o grão sussurro
O dique das asneiras arrebenta.
Quatro putas mofavam de seus brados,
Não querendo que gritasse contra as modas
Um pecador dos mais desaforados:
"Não (diz uma) tu padre não me engodas:
Sempre, me hé-de lembrar por meus pecados
A noite, em que me deste nove fodas"!
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Bojudo fradalhão de larga venta,
Abismo imundo de tabaco esturro,
Doutor na asneira, na ciência burro,
Com barba hirsuta, que no peito assenta:
No púlpito um domingo se apresenta;
Pregas nas grades espantoso murro;
E acalmado do povo o grão sussurro
O dique das asneiras arrebenta.
Quatro putas mofavam de seus brados,
Não querendo que gritasse contra as modas
Um pecador dos mais desaforados:
"Não (diz uma) tu padre não me engodas:
Sempre, me hé-de lembrar por meus pecados
A noite, em que me deste nove fodas"!
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Ai se o DIAP existisse no tempo do Botto......
Inédito
Nunca te foram ao cu
Nem nas perninhas, aposto!
Mas um homem como tu,
Lavadinho , todo nu, gosto!
Sem ter pentelho nenhum
com certeza, não desgosto,
Até gosto!
Mas... gosto mais de fedelhos.
Vou-lhes ao cu
Dou-lhes conselhos,
Enfim... gosto!
António Botto
Nunca te foram ao cu
Nem nas perninhas, aposto!
Mas um homem como tu,
Lavadinho , todo nu, gosto!
Sem ter pentelho nenhum
com certeza, não desgosto,
Até gosto!
Mas... gosto mais de fedelhos.
Vou-lhes ao cu
Dou-lhes conselhos,
Enfim... gosto!
António Botto
um do Brecht mas traduzido
Hábitos de amar
Não é exacto que o prazer só perdura.
Muita vez vivido, cresce ainda mais.
Repetir as mil versões prévias, iguais
É aquilo que a nossa atracção segura:
O frémito do teu traseiro há muito
A pedi-las! Oh, a tua carne é ardil!
E a segunda é, que traz venturas mil,
Que a tua voz presa exija o desfruto!
Esse abrir de joelhos! Esse deixar-se coitar!
E o tremer, que à minha carne sinal solta
Que saciada a ânsia, logo te volta!
Esse serpear lasso! As mãos a buscar-
-Me. Tua a sorrir!
Ai, vezes que se faça:
Não fossem já tantas, não tinha tanta graça!
(Tradução de Aires Graça)
Não é exacto que o prazer só perdura.
Muita vez vivido, cresce ainda mais.
Repetir as mil versões prévias, iguais
É aquilo que a nossa atracção segura:
O frémito do teu traseiro há muito
A pedi-las! Oh, a tua carne é ardil!
E a segunda é, que traz venturas mil,
Que a tua voz presa exija o desfruto!
Esse abrir de joelhos! Esse deixar-se coitar!
E o tremer, que à minha carne sinal solta
Que saciada a ânsia, logo te volta!
Esse serpear lasso! As mãos a buscar-
-Me. Tua a sorrir!
Ai, vezes que se faça:
Não fossem já tantas, não tinha tanta graça!
(Tradução de Aires Graça)
E prontos ! Como se diz no Porto, Deu-me para a Florbela....
Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho...
Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...
E a minha cabeleireira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...
Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...
Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei... se te perdi...
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho...
Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...
E a minha cabeleireira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...
Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...
Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei... se te perdi...
O caso Casa Pia
Caíram Juizes e Advogados e Arguidos e Investigadores.
Levantaram-se sigilos, cassetes , CDs e alguns locutores.
Mantiveram-se segredos mas proibiram-se autores.
E todos os amores e desamores,
As dores, e os amores, e tantas as dores.
Não sentiram na pele os investigadores.
Mas eram os sons e os tons de todas as cores e das televisões.
Conclusão :
Bolas !
- Os putos, coitados, não tiveram assim tantas dores.
E ninguém sabia, mesmo, de nada!
Ninguém !
Aliás nada houve (ou houveram ?)
Caíram Juizes e Advogados e Arguidos e Investigadores.
Levantaram-se sigilos, cassetes , CDs e alguns locutores.
Mantiveram-se segredos mas proibiram-se autores.
E todos os amores e desamores,
As dores, e os amores, e tantas as dores.
Não sentiram na pele os investigadores.
Mas eram os sons e os tons de todas as cores e das televisões.
Conclusão :
Bolas !
- Os putos, coitados, não tiveram assim tantas dores.
E ninguém sabia, mesmo, de nada!
Ninguém !
Aliás nada houve (ou houveram ?)
esta foi a pedido...mas há quanto tempo não a liamos ?
Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor
domingo, 17 de outubro de 2004
como é quase segunda feira!
SENTES-TE SÓ??
Nao gostas de trabalhar ?
Detestas tomar decisões?
Então MARCA UMA REUNIÃO !!
Podes:
- Conhecer pessoas
- Tomar café
- Impressionar os(as) colegas
- Sentires-te importante
- Desenhar bonecos à vontade
- Delegar as tuas responsabilidades e as tuas tarefas
E TUDO DENTRO DO HORÁRIO DE TRABALHO!!!
REUNIÕES... UMA ALTERNATIVA EXEQUÍVEL AO TRABALHO!
Nao gostas de trabalhar ?
Detestas tomar decisões?
Então MARCA UMA REUNIÃO !!
Podes:
- Conhecer pessoas
- Tomar café
- Impressionar os(as) colegas
- Sentires-te importante
- Desenhar bonecos à vontade
- Delegar as tuas responsabilidades e as tuas tarefas
E TUDO DENTRO DO HORÁRIO DE TRABALHO!!!
REUNIÕES... UMA ALTERNATIVA EXEQUÍVEL AO TRABALHO!
Futebol
Porque carga de água é que se mantem um jogo de alto risco?
Se um bar, discoteca, clube de swing ou restaurante fosse sede dum evento com milhares de pessoas em risco de se degaldiarem as autoridades não evitavam a carnificina?
Por que diabos é que o futebol é diferente ?
Queira Deus que corra tudo bem.
Se um bar, discoteca, clube de swing ou restaurante fosse sede dum evento com milhares de pessoas em risco de se degaldiarem as autoridades não evitavam a carnificina?
Por que diabos é que o futebol é diferente ?
Queira Deus que corra tudo bem.
Lettera amorosa
Lettera amorosa
Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.
Foi roubada ao Eugénio de Andrade e a destinatária sabe que poderia ter sido eu a escrever-lha. Falta-me é o talento e o Eugénio perdoa
Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.
Foi roubada ao Eugénio de Andrade e a destinatária sabe que poderia ter sido eu a escrever-lha. Falta-me é o talento e o Eugénio perdoa
Não sei porque carga de água mas lembrou-me o governo!
Balofas carnes de
balofas tetas
caem aos montões
em duas mamas pretas
chocalhos velhos a
bater na pança
e a puta dança.
Flácidas bimbas sem
expressão nem graça
restos mortais de uma
cusada escassa
a quem do cu só lhe
ficou cagança
e a puta dança.
A ver se caça com
disfarce um chato
coça na cona e vai
rompendo o fato
até que o chato
de morder se cansa
e a puta dança.
António Botto
balofas tetas
caem aos montões
em duas mamas pretas
chocalhos velhos a
bater na pança
e a puta dança.
Flácidas bimbas sem
expressão nem graça
restos mortais de uma
cusada escassa
a quem do cu só lhe
ficou cagança
e a puta dança.
A ver se caça com
disfarce um chato
coça na cona e vai
rompendo o fato
até que o chato
de morder se cansa
e a puta dança.
António Botto
Diversas testemunhas afirmam terem visto um retrato de Sampaio chorar lágrimas de sangue durante a crise do Professor Marcelo. As lágrimas alegadas lágrimas foram enviadas para análise e espera-se ansiosamente pelos resultados. A conferência Episcopal recusa-se a confirmar ou desmentir o milagre mas afirmam que qualquer resolução no sentido de canonizar o Presidente da Républica é inutil , pelo menos enquanto o mesmo se encontrar vivo. Fontes ligadas a S. Bento que se recusaram a identificar afirmam tratar-se de mais uma manobra do Professor Marcelo Rebelo de Sousa. O Bloco de Esquerda exigiu um debate tão alargado quanto possivel. A Policia Judiciária , PSP e GNR foram destacadas para verificarem todos os quadros do Presidente da Républica e tomarem as medidas necessárias caso o fenómeno se repita.
sexta-feira, 15 de outubro de 2004
A não perder.....
O filme sobre o Che Guevara.
http://www.motorcyclediariesmovie.com/
Opinião do Público :
Em 1952, Ernesto Guevara (Gael García Bernal) tem 23 anos e estuda medicina. Quase no fim do curso, deixa a sua casa em Buenos Aires para seguir numa viagem com o amigo Alberto Granado (Rodrigo de la Serna). Os dois partem na temperamental Norton 500, a mota de Alberto a que chamam "La Poderosa", para realizar um sonho comum: explorar a América Latina. O mapa de viagem que desenham é ambicioso: leva-os de Buenos Aires à Venezuela, passando pelos Andes, pelas costas do Chile e pelas ruínas de Machu Picchu até Caracas, onde tencionam chegar a tempo do 30º aniversário de Alberto. Mas a viagem torna-se mais do que uma descoberta geográfica e conduz os dois amigos numa grande odisseia de descoberta interior. Os dois começam a questionar o valor do progresso dos sistemas da época, que exclui tantas pessoas, e ganham uma consciência de justiça e uma vontade de mudar o mundo para melhor. Enquanto Alberto regressa ao seu trabalho, agora com diferentes objectivos e perspectivas, Ernesto "Che" Guevara tornar-se-á num dos mais importantes líderes revolucionários do século XX. "Diários de Che Guevara", de Walter Salles ("Central do Brasil"), baseia-se nos diários dos dois companheiros de viagem, em relatos da família de Che Guevara e nas memória do próprio Alberto, ainda vivo.
PUBLICO.
http://www.motorcyclediariesmovie.com/
Opinião do Público :
Em 1952, Ernesto Guevara (Gael García Bernal) tem 23 anos e estuda medicina. Quase no fim do curso, deixa a sua casa em Buenos Aires para seguir numa viagem com o amigo Alberto Granado (Rodrigo de la Serna). Os dois partem na temperamental Norton 500, a mota de Alberto a que chamam "La Poderosa", para realizar um sonho comum: explorar a América Latina. O mapa de viagem que desenham é ambicioso: leva-os de Buenos Aires à Venezuela, passando pelos Andes, pelas costas do Chile e pelas ruínas de Machu Picchu até Caracas, onde tencionam chegar a tempo do 30º aniversário de Alberto. Mas a viagem torna-se mais do que uma descoberta geográfica e conduz os dois amigos numa grande odisseia de descoberta interior. Os dois começam a questionar o valor do progresso dos sistemas da época, que exclui tantas pessoas, e ganham uma consciência de justiça e uma vontade de mudar o mundo para melhor. Enquanto Alberto regressa ao seu trabalho, agora com diferentes objectivos e perspectivas, Ernesto "Che" Guevara tornar-se-á num dos mais importantes líderes revolucionários do século XX. "Diários de Che Guevara", de Walter Salles ("Central do Brasil"), baseia-se nos diários dos dois companheiros de viagem, em relatos da família de Che Guevara e nas memória do próprio Alberto, ainda vivo.
PUBLICO.
2 poemas de Maria Tereza Horta
Masturbação
Eis o centro do corpo
o nosso centro
onde os dedos escorregam devagar
e logo tornam onde nesse
centro
os dedos esfregam - correm
e voltam sem cessar
e então são os meus
já os teus dedos
e são meus dedos
já a tua boca
que vai sorvendo os lábios
dessa boca
que manipulo - conduzo
pensando em tua boca
Ardência funda
planta em movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde
E todo o corpo
é esse movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde
E todo o corpo
é esse movimento
em torno
em volta
no centro desses lábios
que a febre toma
engrossa
e vai cedendo a pouco e pouco
nos dedos e na palma
Desperta-me de noite
Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
o sono em que me deito
É rede a tua língua
em sua teia
é vício as palavras
com que falas
A trégua
a entrega
o disfarce
E lembras os meus ombros
docemente
na dobra do lençol que desfazes
Desperta-me de noite
com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo
E eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vai descobrindo vales
Eis o centro do corpo
o nosso centro
onde os dedos escorregam devagar
e logo tornam onde nesse
centro
os dedos esfregam - correm
e voltam sem cessar
e então são os meus
já os teus dedos
e são meus dedos
já a tua boca
que vai sorvendo os lábios
dessa boca
que manipulo - conduzo
pensando em tua boca
Ardência funda
planta em movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde
E todo o corpo
é esse movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde
E todo o corpo
é esse movimento
em torno
em volta
no centro desses lábios
que a febre toma
engrossa
e vai cedendo a pouco e pouco
nos dedos e na palma
Desperta-me de noite
Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
o sono em que me deito
É rede a tua língua
em sua teia
é vício as palavras
com que falas
A trégua
a entrega
o disfarce
E lembras os meus ombros
docemente
na dobra do lençol que desfazes
Desperta-me de noite
com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo
E eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vai descobrindo vales
Mais do Ogden Nash
More About People
When people aren't asking questions
They're making suggestions
And when they're not doing one of those
They're either looking over your shoulder or stepping on your toes
And then as if that weren't enough to annoy you
They employ you.
Anybody at leisure
Incurs everybody's displeasure.
It seems to be very irking
To people at work to see other people not working,
So they tell you that work is wonderful medicine,
Just look at Firestone and Ford and Edison,
And they lecture you till they're out of breath or something
And then if you don't succumb they starve you to death or something.
All of which results in a nasty quirk:
That if you don't want to work you have to work to earn enough extra
money so that you won't have to work
When people aren't asking questions
They're making suggestions
And when they're not doing one of those
They're either looking over your shoulder or stepping on your toes
And then as if that weren't enough to annoy you
They employ you.
Anybody at leisure
Incurs everybody's displeasure.
It seems to be very irking
To people at work to see other people not working,
So they tell you that work is wonderful medicine,
Just look at Firestone and Ford and Edison,
And they lecture you till they're out of breath or something
And then if you don't succumb they starve you to death or something.
All of which results in a nasty quirk:
That if you don't want to work you have to work to earn enough extra
money so that you won't have to work
bons conselhos para maridos.....
A Word to Husbands
To keep your marriage brimming,
With love in the loving cup,
Whenever you're wrong, admit it;
Whenever you're right, shut up.
Para conhecer melhor o autor Ogden Nash http://www.aenet.org/poems/ognash2.htm
Descobri-o graças ao JPP no abrupto :
http://abrupto.blogspot.com/
To keep your marriage brimming,
With love in the loving cup,
Whenever you're wrong, admit it;
Whenever you're right, shut up.
Para conhecer melhor o autor Ogden Nash http://www.aenet.org/poems/ognash2.htm
Descobri-o graças ao JPP no abrupto :
http://abrupto.blogspot.com/
segunda-feira, 11 de outubro de 2004
Se calhar era a solução
"Carlos, por simpatia, como visinho, apertava-lhe sempre a mão: e o Sr. Vicente, considerando-o por isso um «avançado», um democrata, confiava-lhe as suas esperanças. O que ele desejava primeiro que tudo era um 93, como em França...
- O que, sangue? dizia Carlos, olhando a fresca, honrada e roliça face do demagogo.
- Não, senhor, um navio, um simples navio...
- Um navio?
- Sim, senhor, um navio fretado à custa da nação, em que se mandasse pela barra fora o rei, a família real, a cambada dos ministros, dos políticos, dos deputados, dos intrigantes, etc. e etc.
Carlos sorria, ás vezes argumentava com ele.
- Mas está o Sr. Vicente bem certo, que apenas a cambada, como tão exactamente diz, desaparecesse pela barra fora, ficavam resolvidas todas as coisas e tudo atolado em felicidade?
Não, o Sr. Vicente não era tão «burro» que assim pensasse. Mas, suprimida a cambada, não via s. Ex.ª? Ficava o país desatravancado; e podiam então começar a governar os homens de saber e de progresso...
- Sabe V. Ex.ª qual é o nosso mal? Não é má vontade dessa gente; é muita soma de ignorância. Não sabem. Não sabem nada. Eles não são maus, mas são umas cavalgaduras!"
Os Maias do Eça.......
- O que, sangue? dizia Carlos, olhando a fresca, honrada e roliça face do demagogo.
- Não, senhor, um navio, um simples navio...
- Um navio?
- Sim, senhor, um navio fretado à custa da nação, em que se mandasse pela barra fora o rei, a família real, a cambada dos ministros, dos políticos, dos deputados, dos intrigantes, etc. e etc.
Carlos sorria, ás vezes argumentava com ele.
- Mas está o Sr. Vicente bem certo, que apenas a cambada, como tão exactamente diz, desaparecesse pela barra fora, ficavam resolvidas todas as coisas e tudo atolado em felicidade?
Não, o Sr. Vicente não era tão «burro» que assim pensasse. Mas, suprimida a cambada, não via s. Ex.ª? Ficava o país desatravancado; e podiam então começar a governar os homens de saber e de progresso...
- Sabe V. Ex.ª qual é o nosso mal? Não é má vontade dessa gente; é muita soma de ignorância. Não sabem. Não sabem nada. Eles não são maus, mas são umas cavalgaduras!"
Os Maias do Eça.......
Quando virem um gajo com uma pila muito grande....
Esse disforme e rígido porraz
Esse disforme e rígido porraz
Do semblante me faz perder a cor;
E assombrado d'espanto e de terror
Dar mais de cinco passos para trás;
A espada do membrudo Ferrabraz
Decerto não metia mais horror:
Esse membro é capaz até de pôr
A amotinada Europa toda em paz
Creio que nas fodais recreações
Não te hão-de a rija máquina sofre
Os mais corridos, sórdidos cações:
De Vénus não desfrutas o prazer:
Que esse monstro, que alojas nos calções
É porra para mostrar, não de foder.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Esse disforme e rígido porraz
Do semblante me faz perder a cor;
E assombrado d'espanto e de terror
Dar mais de cinco passos para trás;
A espada do membrudo Ferrabraz
Decerto não metia mais horror:
Esse membro é capaz até de pôr
A amotinada Europa toda em paz
Creio que nas fodais recreações
Não te hão-de a rija máquina sofre
Os mais corridos, sórdidos cações:
De Vénus não desfrutas o prazer:
Que esse monstro, que alojas nos calções
É porra para mostrar, não de foder.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto
Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste,
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor, a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fiz serão
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Lobo Antunes
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste,
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor, a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fiz serão
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Lobo Antunes
Um poema erótico
Sexo/cama
Fui ordinária
requintada
tímida
Misturei poesia com vários palavrões
Gritei
Uivei
Gemi
Rasguei almofadas e lençóis
Fui carnaval de amor
no circo de uma cama
Manuela Amaral
Fui ordinária
requintada
tímida
Misturei poesia com vários palavrões
Gritei
Uivei
Gemi
Rasguei almofadas e lençóis
Fui carnaval de amor
no circo de uma cama
Manuela Amaral
Para animar a alma. Afinal as coisas não são assim tão más.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dio dos luceros, que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en el alto cielo, su fondo estrellado
Y en las multitudes, la mujer que amo
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él las palabras que pienso y declaro
Padre, amigo, hermano, y luz alumbrando
La ruta del alma de la que yo amo
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dio el corazón, que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de sus ojos claros
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales que forman mi canto
El canto de ustedes, que es el mismo canto
El canto de todos, que es mi propio canto
Gracias a la vida
Me dio dos luceros, que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en el alto cielo, su fondo estrellado
Y en las multitudes, la mujer que amo
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él las palabras que pienso y declaro
Padre, amigo, hermano, y luz alumbrando
La ruta del alma de la que yo amo
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dio el corazón, que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de sus ojos claros
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales que forman mi canto
El canto de ustedes, que es el mismo canto
El canto de todos, que es mi propio canto
Gracias a la vida
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